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Intertexualidade na poesia Veja como Chico Buarque de Holanda

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Por:   •  6/9/2013  •  Artigo  •  967 Palavras (4 Páginas)  •  1.023 Visualizações

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Leia o verso abaixo:

Para entender o que é o conceito de "intertextualidade", um exemplo divertido. O jogo do "não confunda":

Não confunda "bife à milanesa" com "bife ali na mesa",

Não confunda "conhaque de alcatrão" com "catraca de canhão",

Não confunda "força da opinião pública" com "opinião da força pública".

Como se vê, é possível elaborar um texto novo a partir de um texto já existente. É assim que os textos "conversam" entre si. É comum encontrar ecos ou referências de um texto em outro. A essa relação se dá o nome de intertextualidade.

Para entender melhor a palavra, pense em sua estrutura. O sufixo inter, de origem latina, se refere à noção de relação (entre). Logo, intertextualidade é a propriedade de textos se relacionarem.

Intertexualidade na poesia Veja como Chico Buarque de Holanda, um dos mais importantes compositores brasileiros, utiliza a intertextualidade em uma canção sua. Em "Bom Conselho", ele faz referências a provérbios populares.

Provérbios populares Canção de Chico Buarque

“Uma boa noite de sono combate os males”

“Quem espera sempre alcança”

“Faça o que eu digo, não faça o que eu faço"

“Pense, antes de agir”

“Devagar se vai longe”

“Quem semeia vento, colhe tempestade” Bom Conselho

Ouça um bom conselho

Que eu lhe dou de graça

Inútil dormir que a dor não passa

Espere sentado

Ou você se cansa

Está provado, quem espera nunca alcança

Venha, meu amigo

Deixe esse regaço

Brinque com meu fogo

Venha se queimar

Faça como eu digo

Faça como eu faço

Aja duas vezes antes de pensar

Corro atrás do tempo

Vim de não sei onde

Devagar é que não se vai longe

Eu semeio vento na minha cidade

Vou pra rua e bebo a tempestade

(Chico Buarque, 1972)

Chico Buarque inverte os provérbios, questionando-os e olhando-os sob outro ângulo, atribuindo-lhes novos sentidos.

Há vários exemplos de intertextualidade na literatura. Veja, a seguir, como Ricardo Azevedo brinca com o famoso poema Quadrilha, de Carlos Drummond de Andrade.

Quadrilha Quadrilha da sujeira

João amava Teresa que amava Raimundo

que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém.

João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,

Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e

Lili casou-se com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história.

(Carlos Drummond de Andrade) João joga um palitinho de sorvete na

rua de Teresa que joga uma latinha de

refrigerante na rua de Raimundo que

joga um saquinho plástico na rua de Joaquim que joga uma garrafinha velha na rua de Lili.

Lili joga um pedacinho de isopor na

rua de João que joga uma embalagenzinha

de não sei o quê na rua de Teresa que

joga um lencinho de papel na rua de

Raimundo que joga uma tampinha de

refrigerante na rua de Joaquim que joga

um papelzinho de bala na rua de J.Pinto

Fernandes que ainda nem tinha entrado na história.

Ricardo Azevedo

(”Você Diz Que Sabe Muito, Borboleta Sabe Mais”, Fundação Cargill)

Enquanto um texto trata do amor não correspondido, por meio da comparação com uma dança (quadrilha), o outro critica o mau hábito de jogar lixo na rua - e mostra como as pessoas prejudicam as outras.

A intertexualidade também é um recurso comumente utilizado pelas crônicas de jornal. Abaixo, veja como José Roberto Torero utiliza uma frase famosa dita por um personagem de Shakespeare. A frase quer dizer, em poucas palavras, que há muita coisa na vida que não compreendemos.

Shakespeare Deuses do futebol: Urucubaco

“Há mais coisas entre o céu

e a terra do que supõe a

nossa vã filosofia Olímpico leitor, divinal

leitora, há mais coisas entre

o céu dos deuses e a terra

do futebol do que sonha a

nossa vã crônica esportiva.

Determinadas situações do

jogo e certas fases pelas

quais os times passam não

são, como pensam alguns,

obra do acaso. Ao contrário,

são uma manifestação da

vontade de seres

superiores, seres que

controlam a nossa vida

desde o dia em que o Caos

gerou a Noite.

(trecho de crônica de José Roberto

Torero, Folha de S.Paulo, em 17/9/

02-pag.D3)

Intertextualidade implícita Agora, leia o poema a seguir e veja como ele se parece com um outro tipo de texto...

Receita de herói

Tome-se um homem feito de nada

Como nós em tamanho natural

Embeba-se-lhe a carne

Lentamente

De uma certeza aguda, irracional

Intensa como o ódio ou como a fome.

Depois perto do fim

Agite-se um pendão

E toque-se um clarim

Serve-se morto.

(Reinaldo Ferreira em "Portos de Passagem" - João Wanderley Geraldi, São Paulo: Martins Fontes, 1991)

Ao falar do como se faz um herói, o poeta usa elementos de uma receita de cozinha. Analise, por exemplo:

os verbos que indicam ordem (imperativo): "Tome-se", "Embeba-se-lhe", "Agite-se", "toque-se", "Serve-se";

o advérbio de modo: "lentamente", ou seja, o "modo de fazer", próprio das receitas culinárias;

em geral, a receita de cozinha termina com a expressão: "Serve-se... (gelado ou frio ou quente etc.). O último verso do poema retoma essa forma da receita, mas o faz de uma maneira realista ou crítica, isto é, um herói "Serve-se morto."

O poema de Reinaldo Ferreira faz uma referência "implícita" às receitas culinárias - a referência não é clara, direta, a nenhuma receita em específico, mas o modo como o texto é construído lembra as tais receitas.

Para terminar, outro exemplo interessante, também de Drummon. Ele fala da "medicalização" do mundo moderno, por meio da criação de palavras que lembram os nomes de diversos remédios...

Receituário Sortido

Calma.

É preciso ter calma no Brasil

calmina

calmarian

calmogen

calmovita.

Que negócio é esse de ansiedade?

Não quero ver ninguém ansioso.

O cordão dos ansiosos enfrentemos:

aspiran!

ansiotex!

ansiex ansiax ansiolax

ansiopax, amigos!

Alfredina Nery, Especial para a Página 3 Pedagogia e Comunicação é professora universitária, consultora pedagógica e docente de cursos de formação continuada para professores na área de língua/linguagem/leitura.

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Está provado, quem espera nunca alcança

(Chico Buarque)

O compositor cria uma relação de intertextualidade com qual provérbio popular?

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