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Lista de Personagens de Frei Luís de Sousa

Por:   •  31/3/2016  •  Trabalho acadêmico  •  2.472 Palavras (10 Páginas)  •  401 Visualizações

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Frei Luís de Sousa

Caracterização das personagens

Dona Madalena de Vilhena

D. Madalena é nobre: “dona” só se dava no tempo às senhoras da aristocracia. “Sangue de Vilhenas”, na expressão de Telmo (I,2) e as palavras de Manuel: “Vamos, D. Madalena de Vilhena, lembrai-vos de quem sois e de quem vindes, senhora” (I,8) marcam, enfaticamente, na solenidade do momento em que foram proferidas, essa qualidade.

O nome de “Madalena” evoca a figura bíblica da “pecadora”, que depois foi Santa Maria Madalena. As duas figuras ficam indelevelmente ligadas, sobrepostas, e o caminho ascencional da figura bíblica, do pecado à redenção, pela penitência, traça idealmente a linha a percorrer por D. Madalena, dentro da economia da peça: pecado, remorso, penitência, ascese, redenção.

D. Madalena é aqui a “pecadora”. Bem lho recorda Telmo (I,2), a propósito das circunstâncias do nascimento de D. Maria de Noronha. Mais clara e mais pungente, é a “confissão” de D. Madalena a Fr. Jorge (II,10) do “crime” de amar Manuel, a primeira vez que o viu, ainda em vida de D. João de Portugal, e do pecado que lhe “estava no coração”.

D. Madalena é, dentro do ideário romântico, a mulher-anjo, mas de natureza demoníaca (mulher fatal), um anjo caído, marcada pelo Destino, na paixão avassaladora que tudo destrói (os que ela ama e os que a amam), na crença em agouros, presságios e profecias, nos terrores que a consomem, no aniquilamento que, por fim, irremediavelmente a destrói, como personagem: D. Madalena de Vilhena apaga-se debaixo do hábito de Sóror Madalena das Chagas.

Em D. Madalena de Vilhena, a contradição, entre a felicidade aparente e a desgraça íntima, revela uma consciência moral atormentada pela imagem sempre obsessivamente presente de D. João de Portugal, mordida pelo remorso proveniente da consciência do pecado. Motivações de ordem psicológica e moral profundamente enraizadas na psicologia desta personagem, movimentada dentro do quadro de uma sociedade cristã, onde o matrimónio é vínculo indissolúvel, que só a morte poderá quebrar, conduzem as reacções e o comportamento desta figura, tão cheia de ambiguidades, tão rica, tão modelada, “mulher e muito mulher” (I,7), forte no amor, na paixão por Manuel, fraca perante os agouros, os presságios, os indícios de “Uma grande desgraça” iminente, terna, lutando até ao fim pela felicidade, buscada mas nunca alcançada plenamente, rendida contra vontade perante o irremediável Destino que a destrói, destruindo todos os sonhos de ventura neste mundo, junto do homem que amou. As reticências (I,1 e 2) são uma fenda, uma abertura, pela qual os espectadores observam o seu íntimo conflito de consciência.

Dona Maria de Noronha

D. Maria de Noronha também é nobre: além da designação “dona” , há o apelido “Noronha”, indicador de alta estirpe. Tem “sangue de Vilhenas e de Sousas”, na frase de Telmo Pais (I,2).

O nome evoca o da Virgem Maria. D. Maria de Noronha é pura e angélica. Madalena chama-lhe “anjo”; Telmo, “o meu anjo do céu”(I,2); Manuel, “este anjo, que Deus levou para si” (III, 12).

Mulher-anjo é também uma característica romântica, que a faz contrastar com Madalena.

Apresenta ainda outras facetas:

• “Formosura e engenho, dotes admiráveis daquele anjo”, na boca da mãe (I,2).

• “Donzela Teodora”, para o tio frade (I,5). Donzela Teodora é o tipo de sabedoria feminina mais superior.

• Precocidade no desenvolvimento físico: “Tem treze anos feitos, é quase uma senhora, está uma senhora” (Telmo, I,2), e compreensão adulta das coisas:”Compreende tudo”, diz Telmo. “Mais do que convém”, replica Madalena (I,2)

• Interesses intelectuais: novelas de cavalaria e romances populares (I,3); estuda, lê e até escreve: “… os meus livrinhos, e os meus papéis, que eu também tenho papéis”, confidencia ao tio Frei Jorge (I,6).

• Culto de D. Sebastião e crença nas lendas messiânicas sobre o seu retorno, apoiada pela presença do retrato real, de que Maria realça pormenores significativos (II,1).

• Culto de Camões, poeta-profeta, que “lia nos mistérios de Deus” e que “está no Céu. Que o Céu fez-se para os bons e para os infelizes” (II,1): imagem romântica e lendária de Camões, génio incompreendido e desprezado pelos “grandes” do seu tempo, cantor da epopeia do povo português e da glória de D. Sebastião, a quem incita ao combate contra os inimigos da Fé, amigo e companheiro de Telmo Pais (II,1).

• Idealismo político no combate à tirania dos governantes em nome do rei estrangeiro, no entusiasmo posto na ideia e nas palavras com que visiona e esboça a resistência contra a prepotência dos governantes que querem ocupar o palácio de Manuel (I,5), nas palavras cheias de sabedoria com que traça o dever de o rei natural ficar junto do povo, amparando-o na miséria e no perigo: “Pois rei não quer dizer pai comum de todos?” (I,5).

• Maravilhosos dons de coração: a meiguice, espelhada nos olhos, que abranda a hostilidade, as prevenções e a dureza de Telmo, a quem Maria por fim cativa; a ternura pela mãe e pelo pai (II,2), a bondade, a ingenuidade, somados à intuição clarividente com que descobre os “mistérios” da família, e identifica D. João de Portugal (III,12), e ao poder da profecia na interpretação dos sonhos (I,4), nas vozes misteriosas que ouve, na crença da influência das estrelas nos destinos humanos; “feiticeira”, lhe chama o pai (II,3).

• Um conhecimento íntimo de si própria, que escapa aos familiares: “O que eu sou… só eu o sei, minha mãe… E não sei, não sei nada, senão que o que devia ser não sou…” (I,4).

• Carácter varonil, revelado no desejo de ter um irmão: “um galhardo e valente mancebo capaz de comandar os terços de meu pai…” (I,4), na cena do incêndio: “Meu pai, nós não fugimos sem vós” (I,12), nas imprecações terríveis proferidas (III,11).

• Marca do Destino: fragilidade de saúde (tuberculose, doença “romântica” incurável; compare-se com a loucura ou a epilepsia, considerada na Antiguidade “mal sagrado”, resultante da maldição dos deuses) e ainda a ilegitimidade do nascimento. “Morro de vergonha”, são as suas últimas palavras (III,12).

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