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O Arcadismo

Por:   •  4/6/2018  •  Trabalho acadêmico  •  1.538 Palavras (7 Páginas)  •  187 Visualizações

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Universidade Federal do Rio de Janeiro

Faculdade de Letras

Departamento de Línguas Vernáculas

Setor de Literatura Brasileira

Disciplina: Poesia Brasileira I

Professor: Eduardo Coelho

Aluna: Daniele Ribeiro dos Anjos

O arcadismo teve as primeiras manifestações no continente europeu e, não surpreendentemente, influenciou diversos poetas brasileiros, dentre eles, Claúdio Manuel da Costa. Apresentando três principais características, locus amoenus, bucolismo e nativismo, o poeta mineiro resignificou o movimento literário à partir da realidade e contexto em que se encontrava no século XVIII, como será mostrado à partir de seu soneto VIII.

Nos moldes mais tradicionalistas, o arcadismo é marcado pela idealização da vida pastoril, ou seja, simplista. Há uma busca pela harmonia entre o meio ambiental e social. A natureza, altamente exaltada, é tida como plano de fundo, onde a vida é tranquila e auto-suficiente. Não há problemas na vida pastoril que possam intimidar o sujeito, nem mesmo a morte, que é tratada como um fim natural que deve ser aceitado. O pastor tem o campo, desfruta da natureza e tem a mulher amada ao seu lado. A descrição da paisagem e dos costumes pastoris acabam criando uma identidade que deve ser valorizada perante outras.

Ou seja, o corpus semântico do arcadismo apresenta o locus amoenus, o bucolismo e o nativismo como válvula de escape das turbulentas cidades europeias em crescimento. Esses três elementos constroem uma tentativa de resgate dos sentimentos desgastados pela progressiva modernização, na qual o tempo é escasso, a poluição e as desigualdades sociais são evidentes, as doenças se alastram e os comportamentos sociais mudam paradigmaticamente. Este sentimento é levado para as nações influenciadas pelo arcadismo.

Quase como universos paralelos, de um lado, o arcadismo buscava a simplicidade e harmonia e, de outro, a sociedade vigente buscava ouro, matéria-prima e desenvolvimento contínuo do comércio, da indústria e da intelectualidade.

O Brasil, ainda colonial, contextualizava a escravização e o domínio português. Independente disso, os poetas árcades, em sua maioria, cantavam a docilidade da vida pastoril.

Em meio à situação colonial, no estado de Minas Gerais, nasceu Claúdio Manoel da Costa.

Em busca de melhores condições de vida, seu pai deixou Portugal em direção ao Brasil. Prosperou com a mineração e, assim, pode enviar seus filhos para as universidades portuguesas. Formado, é noticiado sobre a morte do pai e, por volta de 1754, o mineiro retorna ao Brasil para cuidar das terras de sua família. Depois de conhecer e experienciar a vida europeia, a dura realidade brasileira o abate, felizmente, não por muito tempo.

No prólogo ao leitor de suas Obras, Costa não esconde a contraposição entre as delícias do Tejo, do Lima e do Mondego às correntes turvas e feias dos ribeiros, mas diz também que por intermédio do Céu foi destinado a buscar a Pátria. Fugindo da sepultura da ignorância, o poeta vai estabelecer nas bases do arcadismo características próprias que atendam a veracidade brasileira. Ou seja, além de definir seu estilo próprio, mostra sua capacidade e engenho de fazer poesia em condições nada propícias. Veremos como isso se dá no poema VIII.

O poema é um soneto italiano com versos decassílabos heróicos e rima ABBA ABBA CDC DCD. A própria forma do poema já indica ao leitor uma cena de contraposições, visto que o soneto é marcado pelo levantamento de uma tese, antítese e síntese. Há algo no cerne do conteúdo que será abordado e desenvolvido até uma possível conclusão.

        

Este é o rio, a montanha é esta,

Estes os troncos, estes os rochedos;

São estes inda os mesmos arvoredos;

Esta é a mesma rústica floresta.

O primeiro quarteto apresenta a paisagem sobre o qual o eu-lírico se encontra. A aproximação do sujeito diante da natureza se mostra pelo uso de seis pronomes relativos que também definem e individualizam uma determinada floresta. A expressão “inda os mesmos” e o vocábulo “mesma” denotam que há uma relação constante entre os dois elementos. Os verbos no presente do indicativo “é” e “são” mostram que a imagética é formada no momento da fala; diante da floresta o sujeito a descreve.

Foi explicado anteriormente que o arcadismo trabalha muito com o conceito de locus amoenus, onde a natureza tem beleza ideal; os pássaros cantam, as árvores são frutíferas e abundantes, os álamos são copados, o sol se entremeia por entre os ramos, tudo é harmonioso e quase sublime. Porém, no caso deste poema, a floresta é rústica, ou seja, é uma floresta não polida, selvagem, indelicada. Levando em consideração a paisagem brasileira da região de Minas Gerais, a descrição é verossímil, no sentido de ser montanhosa e irregular.

A sonância deste quarteto é algo a ser considerado. A repetição da sibilante /s/ acaba deixando o som chiado e as vírgulas e as palavras pesadas, “troncos” e “rústica”, incidem ao som um truncamento. É como se o chiado fosse uma cobra maleável passando em uma superfície rochosa; ela precisa fazer desvios aos obstáculos impassíveis. Esse conjunto de sons pode ser associado também ao vento entrando em atrito com as montanhas. Esse argumento será esclarecido mais à frente.

Somente com os primeiros quatro versos, fica evidente que o poeta propõe uma poesia à partir do ambiente que conhece; mesmo sendo rústica no presente, ainda é possível encontrar na natureza uma forma de expressar o interior, não sendo necessário utilizar um conceito que não cabe em certas situações. É também uma valorização do que se tem, não precisando recorrer à paisagens estrangeiras como propõe o nativismo.

Tudo cheio de horror se manifesta,

Rio, montanha, troncos e penedos;

Que de amor nos suavíssimos enredos

foi Cena alegre, e urna é já funesta.

No segundo quarteto, os dois primeiros versos reafirmam a descrição indelicada do primeiro quarteto que a tornam um pouco mais tenebrosa. A repetição da vogal “o”, em tom mais agudo, deixa o som mais pausado, acompanhando o tipo de som do quarteto anterior. Já o terceiro verso deste quarteto, interessantemente, tem uma sonância diferente do resto do soneto como se ele, por ser mais corrido e melodioso (nasal) de uma forma positiva, incorporasse os enredos predominantemente árcades. Mas também, o som melódico junto do sentido semântico das palavras, é a significação de um estado anterior do eu-lírico, no qual ele tinha amor, um sentimento bom. O terceiro verso se entende para o quarto por enjambements, de modo que o predicador “Foi” na linha abaixo quebre a áurea melodiosa do suavíssimo verso anterior. Neste último verso aparece o primeiro verbo no pretérito do indicativo, apontando que a alegria ficou no passado. “e urna é já funesta”, com o verbo no presente do indicativo, mostra que o amor virou cinzas mortais. Neste ponto se estabelece a antítese entre o passado que já foi bom e o futuro demasiado desarmonioso.

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