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O JOGO COM A MIMESIS EM DOM CASMURRO

Por:   •  12/1/2022  •  Ensaio  •  3.165 Palavras (13 Páginas)  •  144 Visualizações

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O JOGO COM A MIMESIS EM DOM CASMURRO

Miguel Rodrigues Simões Junior1

RESUMO: Neste ensaio será analisado o romance Dom Casmurro (1899) de Machado de Assis, em diálogo com os conceitos propostos pelo teórico Luiz Costa Lima a respeito da mimesis e do seu papel no universo literário. O teórico enxerga a mimesis mais além do que viam Platão e Aristóteles, apenas como mera representação da realidade. Para Costa Lima, a mimesis não se tratava da imitação do real, mas da diferença que se produziria partindo de algo real, sendo justamente o que Machado de Assis realiza ao escrever as memórias de Bento Santiago. Além disso, o autor faz uma crítica ao modo como a questão da verossimilhança e da mimesis eram vistas até o momento.

PALAVRAS-CHAVE: Literatura. Mimesis. Machado de Assis. Luiz Costa Lima.

ABSTRACT: In this essay, the novel Dom Casmurro (1899) by Machado de Assis will be analyzed, in dialogue with the concepts proposed by theorist Luiz Costa Lima regarding mimesis and it role in the literary universe. The theorist sees mimesis beyond what Plato and Aristotle saw, only as a mere representarion of reality. For Costa Lima, the mimesis was not about imitating the real, but about the difference that would be produced starting from something real, being precisely what Machado de Assis realizes when writing as memories of Bento Santiago. In addition, the author criticizes the way in which the question of verimilitude and mimesis has been viewed so far.

KEYWORDS: Literature. Mimesis. Machado de Assis. Luiz Costa Lima.

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1 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Literatura Brasileira da UFRJ e Bacharel em Letras: Literaturas de Língua Portuguesa pela UFRJ (2019). E-mail: miiguelsimoes@gmail.com


INTRODUÇÃO

Dom casmurro foi um romance publicado por Machado de Assis em 1899, durante o século no qual as escolas literárias do realismo e do naturalismo dominavam a literatura brasileira. A escola do realismo se preocupava principalmente pela caracterização da representação da vida real na literatura. Por sua vez, a escola do naturalismo se mostrava como uma consequência do realismo literário, mas fortemente influenciada por teorias científicas.

A maioria das interpretações encontradas a respeito de Dom Casmurro (1899) giram em torno das relações sociais do Brasil no século XIX ou em torno do psíquico perturbado do protagonista Bento Santiago. Para alguns, a obra é uma representação de como se davam as relações na alta burguesia carioca, sob um ponto de vista político, histórico e/ou ideológico. Já para outros, salientava a excelência na delineação psicológica dos personagens e o profundo conhecimento da natureza humana.

Entretanto, assim como todos os demais romances de Machado de Assis, Dom casmurro (1899) não aponta para um sentido único. Isso se dá pelo fato de quem em todo o seu projeto literário, o autor se preocupou em produzir obras que tivessem uma pluralidade de significações, a fim de estimular a capacidade reflexiva do leitor. Dessa forma, cabia ao leitor decifrar e interpretar os muitos significados presentes na narrativa.

Corroborando com o princípio do projeto literário de Machado, segundo Luiz Costa Lima, “nenhum juízo sobre uma obra ficcional, seja ela verbal ou plástica, pode se pensar único e definitivo. Talvez a prova cabal disso seja o fato de, depois de décadas de reflexão, eu chegar à conclusão de que da mimesis não se tem afinal um conceito, e sim um esboço de conceito” (Costa Lima, 2018). Nesse esboço, o teórico enxerga a mimesis além do modo que viam Platão e Aristóteles, como mera representação da realidade. Para ele, a mimesis não se tratava da imitação do real, mas da diferença que se produziria partindo de algo real.

Será a partir dessa ideia que, neste ensaio, analisaremos o romance Dom Casmurro (1899), dialogando com os conceitos propostos por Costa Lima a respeito da mimesis e do seu papel no universo literário. Acreditamos que ao escrever as memórias de Bento Santiago, Machado de Assis fez uma crítica ao modo como a questão da verossimilhança e da mimesis eram vistas até o momento e será justamente o que tentaremos explanar nos parágrafos seguintes.


O JOGO COM O LEITOR

Como dito anteriormente, Dom Casmurro foi publicado em 1899, momento no qual as escolas literárias do realismo e do naturalismo eram a moda dominante entre os escritores brasileiros. A maioria das intepretações a respeito do romance giravam em torno das relações sociais do Brasil do século XIX e do psíquico perturbado de Bento Santiago. Entretanto, assim como todos os demais romances do autor, Dom Casmurro (1899) não aponta para um sentido único, cabendo ao leitor decifrar e interpretar os muitos significados presentes na narrativa.

Na obra que nos serve como aporte teórico, em uma das suas respostas às questões feitas para Costa Lima, o estudioso nos alerta que “estas palavras constituem uma das principais defesas da necessidade de se rever o conceito de mimesis, cujo eixo, em sintonia com a literatura produzida sobretudo a partir do final do século XIX, precisava se deslocar para a diferença.” Ora, nada melhor do que uma obra de 1899 para nos ajudar a compreender essa revisão do conceito de mimesis.

Além disso, o romance de Machado de Assis também vai nos guiar em um caminho para a nova ideia que se tem de mimesis, diferente da proposta tanto por Platão quanto por Aristóteles. Fará isso através do que aqui chamamos de sequência de jogos: primeiro com o leitor, segundo com a questão da verossimilhança e depois com a própria noção de mimesis em si, o que provoca uma crise no que se tinha como representação até aquele momento.

O jogo com o leitor se dá de maneira com que esse participe da narrativa com suas próprias ideias a respeito do mundo. Para isso, do começo ao fim do romance, o narrador se apresenta num tom íntimo para contar suas memórias, conversando com o leitor, fazendo dele mais um personagem da ficção. Em vários momentos iremos encontrar o narrador usando tratamentos como “leitor amigo” (Assis, 2006, p.819), “leitor desgraçado” (844), “ou até leitor das minhas entranhas” (874). Como se o leitor fosse tão íntimo, soubesse tanto da sua vida que conhecesse o que há, literalmente, por dentro de Dom Casmurro.

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