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Por que não há mais humor político no Brasil?

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Por:   •  9/4/2014  •  Seminário  •  1.079 Palavras (5 Páginas)  •  314 Visualizações

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Por que no Brasil não existe mais humorismo político? Creio ser difícil responder esta pergunta sem entrar numa análise do momento brasileiro, o que é polêmico, e sem dúvida difícil de avaliar como um contemporâneo relativamente desinteressado. Existe pouca reflexão no Brasil quanto ao que eu, como brasileiro de trinta e tantos anos, vivi como história: a última etapa da transição democrática, hiperinflação, os primeiros desastrosos presidentes. Podemos até confessar que o que sabemos (sem nem bem virmos o final) do período da ditadura militar é vaguíssimo: nossa reflexão histórica é francamente deficiente.

Também já ouvimos aquele comentário um tanto mórbido de que a cultura brasileira pode ter sido um tanto beneficiada pela tensão com a censura – a relevância do artista subversivo será mesmo maior do que a relevância do artista ignorado ou até mesmo algumas vezes patrocinado pelo Estado? Nem entremos na questão da MPB, mas com relação a maior parte das áreas culturais, pode haver um tanto de pensamento “era de ouro” nessa reflexão: podemos não estar tão certos da superioridade daquela produção cultural com relação a esta; mas numa área, a do humor, francamente não vejo algo como o Pasquim e aquela gente que trabalhava lá. Nosso humor político é tão bobo quanto a insistente malícia de cunho sexual que ele normalmente contém. Mas mesmo o Pasquim, que nem sempre era engraçado, era apenas uma ilha num vasto oceano de desolação.

Temos ainda talvez alguns bons observadores da comédia de cotidiano, da vida privada. Estes trabalham na TV e no teatro, e se não fazem nada especificamente genial, também não são de um tom francamente entorpecedor, de tão mínimo denominador comum cultural. É claro que, como fenômeno global, a humilhação e a vergonha alheia permeiam incessantemente todos os meios de massa – mas no que concerne as produções populares de cunho dramatúrgico (e não o jornalismo sensacionalista ou os reality shows), ainda existe um nível basal operando que é francamente insípido, mas suficientemente tolerável e entretenimento para algumas faixas demográficas.

Reflito sobre isso porque, um tanto como experimento de cunho antropológico, passei a assistir TV aberta brasileira. Como sou fluente no inglês, por muito tempo não consumi qualquer tipo de cultura popular brasileira, então foi como examinar uma cultura de bactérias que deixei fermentar por muito tempo. Não sou esnobe: em inglês consumo qualquer humor sem profundidade do Judd Apatow ou de Adam Sandler. Digo, sou um pouco nerd de comédia e posso consumir comédia clássica, Monty Python, Bill Hicks, qualquer coisa – mas também consigo me divertir com o mínimo denominador comum. Só não tolero Sacha Baron-Cohen ou Seth MacFarlane, mas porque os acho muito cruéis. Porém, quando assisto algo como CQC, Casseta & Planeta, Saturday Night Live brasileiro (ugh, nunca pensei que iria viver para presenciar essa indignidade), Zorra Total, etc., além de treinar em muito minha paciência e resiliência, fico (livre de risadas) refletindo sobre inúmeros fatores que me deixam absurdamente perplexo. Será que me alienei tanto da cultura brasileira que não consigo mais nem mesmo entendê-la? E o que entendo dela, por outro lado, me causa repulsa. Zorra Total chega a ser bonito e hipnótico em seu tecnicolor traumático: parece que estou assistindo ao Dodeskaden de Kurosawa. Traumático é a palavra, não chega nem mesmo a ser trágico.

Link YouTube | Por que sacadas inteligentes e divertidas como esta são tão raras no Brasil?

E, sinceramente, quero escapar de reflexões como “bom, o que esperar de um país que tem apenas quatro universidades entre as 100 melhores do mundo”, isto é, simplesmente descartar o humor (ou a cultura) brasileiro(a) como inferior: tento manter meu olhar puramente antropológico. Mas parece que, realmente, talvez até mesmo por causa de elementos da globalização, perdemos a capacidade de fazer humor de qualidade.

Quando criança eu achava Chico Anísio um tanto chato, mas antes dele cair num loop de Escolinha do Professor Raimundo, lá pela década de noventa, preciso admitir que ele algumas

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