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SAGRADO E O PROFANO

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Por:   •  2/9/2013  •  3.453 Palavras (14 Páginas)  •  884 Visualizações

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Elaine Cristina Alves da Costa Savalli Doutoranda do PPGCS - UFRN

Falar, atualmente, de sagrado e profano é algo que nos traz à mente uma divisão. Contudo, entre os povos antigos a vida religiosa não era raciocinada segundo essa separação. Sagrado e profano eram categorias inexistentes. O centro da vida era a religião e todas as coisas que norteavam o indivíduo eram relacionadas a ela. O plantio da terra, a procriação e a diversão eram expressões religiosas, na medida em que se tornavam oferendas aos deuses. Atos sexuais, orgias e danças misturavam-se à festa de Dionísio, divindade Greco-romana. Segundo Eliade (1992), a dança e a música de tambores faziam parte como cultos antigos e eram considerados fundamentais. A união entre sagrado e profano era natural num mundo onde vários eram os deuses, espíritos evoluídos, que apreciavam as coisas dos homens, ou seja, o divino também se tornava terreno, pecador.

Ao introduzir a ideia de pecado e da santidade de Deus, instaura-se então o conceito e a distinção entre sagrado e profano, pois distanciou-se o “Deus”, que por ora era um ser próximo e íntimo do indivíduo. A religião, através da explicação do pecado, surge quando do despertar dessa consciência que percebe o homem e a natureza ao seu redor, que apreende a realidade exterior como algo que existe independente de sua vontade. Religadora do transcendente com o âmbito terreno, a religião que criou as diferenças, movimenta a reaproximação e a busca da restauração entre o sagrado e o profano. O sagrado se configura pela experiência de viver ligado a um ser superior e a dimensão mundana forma o âmbito do profano. O espaço recebe, então, uma dimensão ora de sacralidade, ora de profanidade.

Para o homem religioso, o espaço não é homogêneo; o espaço apresenta roturas, quebras; há porções de espaço qualitativamente diferentes das outras. Há, portanto, um espaço sagrado, e por consequência, “forte”, significativo, e há outros espaços não sagrados, e por consequência sem estrutura nem consistência, em suma, amorfos. (ELIADE, 1992: 25)

Em relação à experiência profana, esta se apresenta de forma homogênea.

Não há rupturas, o mundo é visto de forma igual, não há diferenças. O espaço geométrico por mais recortado que esteja não apresenta nenhuma diferença qualitativa para a visão profana. Segundo Eliade (1992), o homem profano recusa a sacralidade do mundo, assumindo assim apenas uma existência profana, livre de toda experiência religiosa.

Para o homem religioso, ou seja, aquele que tem o conhecimento e o temor ao divino, a revelação de espaço sagrado permite que se obtenha um ponto fixo, com isso, descarta-se a ideia de viver fora do mundo sagrado, pois com um lugar de contemplação é possível fugir do mundo profano. Já para aquele que vive na profanidade desconhece esse ponto fixo, pois o seu lugar aparece e desaparece segundo as necessidades diárias.

Esse espaço para o homem profano é um lugar de eterna descoberta, está em constante transformação e cada mudança que ocorre revela para o indivíduo novas dimensões de seu próprio universo. Esse espaço é defendido por Elizabeth Costa (1989), como o “espaço-bolha” que desempenha um papel específico ligando ou dando continuidade a atuações que podem ser encontradas ou não em sua rotina.

Gera inversões, carnavalizando sistemas fechados e levando para as ruas anseios e necessidades das classes populares, normalmente ocultas; ele abre espaço para as trocas e para as relações de improviso e cria oportunidades sem pré-requisitos; por fim, ele rompe com as dualidades entre moradia e trabalho, festa e cotidiano, centro e periferia. (COSTA, 1989: 115)

A porta é o limite, a fronteira, é o meio que opõe dois mundos e ao mesmo tempo o lugar de comunicação entre eles, visto que quando há oportunidade interagem entre si, havendo uma quebra do limite apresentado anteriormente. A porta é um símbolo e ao mesmo tempo uma passagem de um elo a outro. No interior do recinto sagrado é possível a comunicação com os deuses. “O templo constitui, por assim dizer, uma “abertura” para o alto e assegura a comunicação com o mundo dos deuses”. (ELIADE, 1992: 30)

A porta que se abre para o interior da igreja significa de fato, uma solução de continuidade. O limiar que separa os dois espaços indica ao mesmo tempo a distância entre os dois modos de ser profano e religioso. (ELIADE, 1992: 29)

O homem religioso tem o desejo de viver o mais perto possível dos deuses.

Para ele uma vez perdido o contato com o transcendente, a existência no mundo já não é possível. De acordo com Eliade (1992: 38) existem três níveis cósmicos: Terra, céu e regiões inferiores que se tornaram comunicantes através do contato simbólico entre essas três instâncias e a humanidade.

Um lugar sagrado constitui uma ruptura na homogeneidade do espaço e essa ruptura é simbolizada pela “abertura” que se tornou possível através da porta da igreja. Cada homem religioso situa-se no Centro do mundo, muito perto da abertura que garante a comunicação com os deuses.

Basta-nos confrontar o comportamento de um homem não-religioso, em relação ao espaço em que vive, com o comportamento do homem religioso para com o espaço sagrado para percebermos imediatamente a diferença de estrutura que os separa. (ELIADE, 1992: 59)

Há tempo para o sagrado e para o profano. O tempo das festas periódicas é o maior exemplo disso. Existem os momentos que o tempo é eminentemente sagrado e há o tempo profano, “a duração temporal ordinária na qual se inscrevem os atos privados de significado religioso.” (ELIADE, 1992: 63)

Cada vez que uma festa religiosa acontece, ocorre uma reatualização de um evento sagrado que antes só era lembrado e que agora é concretizado. O homem sai da rotina, da duração temporal ordinária de sua vida e reintegra-se miticamente na festa. O sagrado mostra-se com um tempo recuperável e repetível.

Em toda festa periódica reencontra-se o mesmo tempo sagrado, é o tempo criado pelos homens e santificado pelos deuses por ocasião de suas estórias. O homem religioso vive assim em duas espécies de tempo. O tempo sagrado se apresenta de forma circular, reversível e recuperável, “espécie de eterno presente mítico que o homem reintegra periodicamente pela linguagem dos ritos.” (ELIADE, 1992: 64). O homem religioso recusa-se a viver simplesmente o presente, mas ele quer voltar a unir-se a um tempo sagrado que de certo modo é equiparado à eternidade, por sempre se repetir. Já para o homem não-religioso existe também o tempo predominantemente monótono do trabalho e o do lazer, assim como dos espetáculos,

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