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Teoria Da Variaçao

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Por:   •  23/9/2014  •  2.125 Palavras (9 Páginas)  •  173 Visualizações

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Sociolinguística tem por objeto de estudo os padrões de comportamento linguistico observáveis dentro de uma comunidade de fala e os formaliza analiticamente através de um sistema heterogêneo, constituído por unidades e regras variáveis. Esse modelo visa a responder a questão central da mudança linguística a partir de dois princípios teóricos fundamentais: (i) o sistema linguístico que serve a uma comunidade heterogênea e plural deve ser também heterogêneo e plural para desempenhar plenamente as suas funções; rompendo-se assim a tradicional identificação entre funcionalidade e homogeneidade; (ii) os processos de mudança que se verificam em uma comunidade de fala se atualizam na variação observada em cada momento nos padrões de comportamento linguístico observados nessa comunidade, sendo que, se a mudança implica necessariamente variação, a variação não implica necessariamente mudança em curso (cf. LABOV, 1972, 1974 e 1982 e 1994; e WEINREICH, LABOV e HERZOG, 1968).

Assim, os processos de mudanças contemporâneas que ocorrem na comunidade de fala são primordiais na Sociolinguística. Comunidade de fala para esse modelo teórico-metodológico não é entendida como um grupo de pessoas que falam exatamente igual, mas que compartilham traços linguísticos que distinguem seu grupo de outros; comunicam relativamente mais entre si do que com os outros e, principalmente compartilham normas e atitudes diante do uso da linguagem. (cf. LABOV, 1972; GUY, 2000).

Dessa forma, para os sociolinguistas, nas comunidades de fala, frequentemente, existirão formas linguísticas em variação, isto é, formas que estão em coocorrência (quando duas formas são usadas ao mesmo tempo) e em concorrência (quando duas formas concorrem). Daí ser a Sociolinguística Variacionista também denominada de Teoria da Variação.

Toda a análise sociolinguística passa então a ser orientada para as variações sistemáticas, inerentes ao seu objeto de estudo, a comunidade de fala, concebidas como uma heterogeneidade estruturada. Não existe, portanto, um caos linguístico, cujo processamento, análise e sistematização sejam impossíveis de serem processados. Há, pelo contrário, um sistema (uma organização) por trás da heterogeneidade da língua falada.

As formas em variação recebem o nome de "variantes linguísticas". Tarallo (1986, p. 08) afirma que: "variantes linguísticas são diversas maneiras de se dizer a mesma coisa em um mesmo contexto e com o mesmo valor de verdade. A um conjunto de variantes dá-se o nome de variável linguística". Essas variáveis subdividem-se em variáveis linguísticas dependentes e independentes. A variável dependente é o fenômeno que se objetiva estudar; por exemplo, a aplicação da regra de concordância nominal, as variantes seriam então as formas que estão em competição: a presença ou a ausência da regra de concordância nominal. O uso de uma ou outra variante é influenciado por fatores linguísticos (estruturais) ou sociais (extralinguísticos). Tais fatores constituem as variáveis explanatórias ou independentes.

Nesse sentido, a Teoria da Variação considera a língua em seu contexto sócio-cultural, uma vez que parte da explicação para a heterogeneidade que emerge nos usos linguísticos concretos pode ser encontrada em fatores externos ao sistema linguístico e não só nos fatores internos à língua. Portanto, como observou Mollica (2003, p. 10), "ela parte do pressuposto de que toda variação é motivada, isto é, controlada por fatores de maneira tal que a heterogeneidade se delineia sistemática e previsível".

Desse modo, um estudo sociolinguístico visa à descrição estatisticamente fundamentada de um fenômeno variável, tendo como objetivo analisar, apreender e sistematizar variantes linguísticas usadas por uma mesma comunidade de fala. Para tanto, calcula-se a influência que cada fator, interno ou externo ao sistema linguístico, possui na realização de uma ou de outra variante. Ao formalizar esse cenário, a análise sociolinguística busca estabelecer a relação entre o processo de variação que se observa na língua em um determinado momento (isto é, sincronicamente) com os processos de mudança que estão acontecendo na estrutura da língua ao longo do tempo (isto é, diacronicamente).

Variação estável ou mudança em curso?

Através da análise das variáveis sociais, busca-se definir o quadro de variação observado na comunidade de fala nos termos da dicotomia entre variação estável e mudança em progresso. No primeiro caso, conclui-se que o quadro de variação tende a se manter ainda por um longo período, já que não se verifica uma tendência de predominância de uma variante linguística sobre a(s) outra(s). Já o diagnóstico de mudança em progresso implica que o processo de variação caminha para a sua resolução em favor de uma das variantes identificadas, que deve se generalizar, tornando-se o seu uso praticamente categórico dentro da comunidade de fala. Nesse quadro, a(s) outra(s) variante(s) tenderia(m) a cair em desuso.

Assim, correlacionando a estrutura linguística variável com fatores da estrutura social, poder-se-ia observar como uma determinada variante estaria se difundindo entre os diversos segmentos sociais, no que se definiu como uma das faces do problema da transição – ing. transition problem. Por outro lado, através de testes de julgamento subjetivo, poder-se-ia aferir a reação dos falantes diante dos valores da variável observada, de modo a se definir a tendência de mudança que essa avaliação social favoreceria, no que foi denominado problema da avaliação – ing. evaluation problem. Tais informações, juntamente com as informações relativas ao encaixamento da variável na estrutura linguística da comunidade de fala, teriam um papel capital para o esclarecimento acerca de como a postulada mudança chegaria a sua consecução, no que foi denominado de problema da implementação – actuation problem (cf. WEINREICH, LABOV e HERZOG, 1968; e LABOV, 1972 e 1982). Nesse sentido, a grande questão é avaliar se um determinado cenário de variação tende a se resolver em função de uma determinada variante, efetivando-se a mudança linguística, ou se as variantes identificadas tendem a se manter no uso linguístico da comunidade, dentro de uma estratificação específica, o que caracterizaria a variação estável.

O estudo da mudança linguística em tempo aparente

A possibilidade de se fazer inferências acerca do desenvolvimento diacrônico da língua a partir de análises sincrônicas ganhou corpo na pesquisa linguística com os estudos desenvolvidos por William Labov na década de 1960, primeiramente na ilha de Martha’s Vineyard,

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