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A Transferência do Homem do Lobos com Freud

Por:   •  5/9/2019  •  Trabalho acadêmico  •  2.633 Palavras (11 Páginas)  •  193 Visualizações

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A transferência do Homem dos Lobos com Freud

1. Explicitar os laços que o Homem dos Lobos manteve com Freud:

a) No início do tratamento, destacando como o paciente encontrou o

analista e como a “transferência” se estabeleceu;

Antes de Serguéi iniciar sua análise com Freud, ele já havia procurado ajudar para conseguir administrar sua vida, então já havia se submetido a tratamentos como a hidroterapia e a eletroterapia. Também se consultou com dois médicos, o Dr. Theodor Ziehen e Dr. Emil Kraepelin, que por sinal, eram considerados inimigos de profissão do analista.

Freud não tinha horário disponível para atender o Homem dos Lobos em seu consultório, então, pediu para que ele se internasse em determinado sanatório no qual já atendia diariamente outro paciente. Mesmo Serguéi tendo aversão por sanatórios, ele aceitou a proposta de Freud. Essa concordância nos chama a atenção para o fato de que desde que o Homem dos Lobos teve contato pela primeira vez com Freud ele ficou encantado por ele, pois o analista lhe causou uma excelente impressão. A transferência entre Freud e Serguéi ocorreu de forma imediata. Serguéi ficou impressionado com o seu método e com a sua personalidade: Ah! Se a senhora o tivesse visto! Era uma personalidade fascinante... Tinha um olhar muito severo, que olhava a gente lá no fundo da alma. Todo o seu aspecto era muito simpático. Senti simpatia por ele. Era justamente a transferência. Ele possuía um poder de atração, ou, melhor dizendo, um brilho irradiante, que era muito agradável e positivo (OBHOLZER, 1993. p.48).

Durante os quatro primeiros anos de análise, Freud concluiu que não estava havendo uma evolução de seu analisando, Serguéi estava com uma intensa resistência a mudanças. Foi então que Freud estipulou uma data em que encerraria a análise, não importando em qual estágio estaria seu paciente. Percebemos, portanto, que Freud fez uma “jogada de mestre” pois após essa data de encerramento estipulada, o Homem dos Lobos conseguiu romper algumas resistências relatando, então, seu sonho com os lobos que foi considerada por Freud como sendo um conteúdo importante para as interpretações de momentos da vida do analisando, entre eles, a cena primária.

Poucos meses depois, com a principal parte de sua análise completada, Sérguei volta para Odessa já em condições de gerenciar sua vida. Porém, em 1919 o Homem dos Lobos regressa a Viena tendo perdido todo o seu vasto patrimônio e com uma obstinada prisão de ventre. Sendo assim, Freud resolve voltar a analisar Serguéi e dessa vez sem cobrar nada pelas sessões.

Não só o laço transferencial de Sérguei para Freud nos chama atenção, mas, também a forte transferência do analista para seu analisando:

“A dedicação de Freud ao homem dos Lobos era tão intensa que, para lhe arranjar

um horário na agenda, interrompeu abruptamente a análise de sua renomada

discípula, Helene Deutsch, alegando que ela já fora suficientemente analisada.”

(OBHOLZER, 1993. p.9).

Além de tal fato citado acima, Freud ainda ajudou financeiramente Serguéi. O que nos faz pensar mais ainda que Freud também estabeleceu um forte laço com seu analisando: “(...) a ajuda dele era apenas ocasional. Ele dizia: - Recebi dinheiro do senhor; agora, receba alguma coisa de mim (...)” (OBHOLZER, 1993, p. 80). A ajuda financeira e tal dedicação de Freud ao Homem dos Lobos, contribuiu para que Sérguei enxergasse seu analista como uma figura paterna, potencializando a transferência.

O laço transferencial, estabelecido desde o início da análise, foi tão “forte” que Sérguei deixa de voltar para a Rússia, com o objetivo de cuidar de seus negócios, pois Freud diz para ele não ir: “Ele não deveria ter-me prendido. Mas também é possível fazer outra interpretação. Poderíamos dizer que ele me salvou de algum perigo. Talvez, não sei. ” (OBHOLZER, 1993, p. 68)

Através da afirmação do Homem dos Lobos, acima, percebemos que mesmo ele tendo discordado de Freud, anos mais tarde ainda é possível observar os resquícios da transferência quando ele justifica tal pedido de Freud, como se ele pudesse estar o protegendo de algum perigo. Podemos relacionar esse resquício transferencial com o fato de Sérguei ter enxergado por muito tempo Freud como uma figura paterna.

Na verdade, se eu considerar Freud como um pai e acreditar em tudo o que ele diz, posso cometer erros. Ele me disse, por exemplo, que não voltasse para minha casa para acertar meus negócios, embora aquele fosse justamente o momento certo. Mas por causa dessa transferência que eu tinha com ele, fiquei em Viena. A transferência já constituía um certo falseamento da realidade, uma vez que o sujeito em questão não era meu pai. Mas eu me

portei, assim mesmo, como se fosse. (OBHOLZER, 1993. P. 69).

Podemos concluir que o estabelecimento da transferência se deu por Serguéi ter se encantado com Freud, no momento posterior à morte de seu pai, somando-se a isso sua vontade de querer ter sido cuidado por ele. E também o próprio Freud ter potencializado sua figura paterna, perante a Serguéi, com suas atitudes que foram além de um relacionamento analista/analisando, como foi mostrado acima.

b) ao longo do tratamento com esse analista

O paciente do qual seu nome verdadeiro era Serguéi Constantinovitch Pankejeff, procurou Freud dizendo que sofria de depressões, mas que na verdade naquela época a sua relação com a namorada Teresa estava perturbada, mencionando que um dos motivos era que ele não sabia o que fazer “(...) não conseguia me decidir por nada, então fomos a Viena. ” (OBHOLZER, 1993, p. 48).

O Homem dos Lobos descreve sua afetuosa relação por Freud que fica transparente quando ressalta sobre o analista “Era uma personalidade fascinante (...) e possuía um aspecto muito simpático, era justamente a transferência. ” (OBHOLZER, 1993, p. 48). Para ele, Freud possuía um poder de atração, um brilho irradiante que era agradável e positivo.

Ele ia a casa de Freud todos os dias, as vezes de manhã, as vezes pela tarde, todos os dias uma hora, menos aos domingos, durante quatro anos. Quando lhe é perguntado se Freud agia de maneira impessoal, diz não ser o seu caso, “de vez em quando ele também exprimia sua opinião (...), mas era pouco”, não contava quase nada sobre si mesmo, falava sobre pintura, o que o levou a saber que Freud tinha um filho que queria ser pintor, mas que depois renunciou essa vontade para se tornar arquiteto. Também lembra que via subir as escadas a filha de Freud, Anna Freud, era uma adolescente de mais ou menos 15 anos. (OBHOLZER, 1993, p. 52,53).

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