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A Viargem e a Técnica Moderna

Por:   •  15/4/2015  •  Trabalho acadêmico  •  3.215 Palavras (13 Páginas)  •  121 Visualizações

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A viragem e a técnica moderna

O sentido do ser é a questão central para o famoso filósofo Heidgger (CARDINALLI, 2004). Houve um período de grandes mudanças no pensamento filosófico, revolucionando a lógica de sujeito cartesiana, onde o sentido do ser, ou o retorno ao ser é reafirmado em seus escritos após 1930 falando da “natureza” do existente (ontologia) marcando o início da viragem. Há muitos autores que apresentam diferenças de pensamento em Heidgger, dividindo-o em “Heidegger I e II. Ele próprio fala dessa mudança em seus escritos (PUCC-RIO, 2012). No entanto, o presente trabalho não pretende abordar todos os princípios estabelecidos nesse processo (viragem), mas focar em alguns aspectos da técnica moderna discutidos dentro da fenomenologia.

Heidgger fala da retomada do ser, do modo de ser do Dasein que não é, porém um constante vir-a-ser, caminhante errante sempre em falta, frágil, sendo para si questão e tarefa. Perguntando sempre da desconstrução da metafísica sendo este o modo como estamos acostumados a pensar, modo que promove o afastamento do ser transformando-o em autômato ou objeto previsível e controlável demonstrando que em todo tempo somos responsáveis, embora tal metafísica tente dizer o contrário. Heidegger busca a revelação do ser que por tradições foi ocultado, buscando um des-velamento que historicamente tem sido encoberto. A proposta fenomenológica heidggeriana, em seu exame parte de uma relação sujeito-sujeito a qual rompe com a atual forma de pensar metafísica que divide o sujeito e objeto (WARSCHAUER, 2011). Ele fala de uma aproximação não direta, isso pode ser notado claramente, pois, em seu último pensamento sempre faz apontamentos que remetem a entendimentos anteriores. Na verdade é apenas uma continuidade de seus trabalhos. A revolução filosófica (viragem) possibilitou compreensão de que o mundo tornou-se uma “riqueza” poderosa, ou um império de conceitos pré-concebidos que traz um fundamento, uma base afirmando sempre o que é; levando a humanidade a uma des-responsabilização esquecendo o ser. Desde Descartes a senhora ciência apresenta-se cada vez mais poderosa, há um suposto encontro com a certeza da existência e nem mesmo o cientista escolhe os objetos a serem estudados, mas estes são aqueles em que o próprio cientista pode ter alguma certeza e asseguramento (LOPARIC, 2012).

Embora Heidgger seja apresentado como I e II podendo transparecer a princípio o abandono de suas concepções iniciais, o que ocorre é que antes seu foco era a questão do ser, ou “ser dos entes” faltando a “definição dos entes através de uma descrição de suas categorias essenciais” (Cardinalli, p. ,2004), como apresenta a autora. Agora ele aprofunda o pensamento sobre os entes utilizando-se de uma nova forma de pensar para levar à compreensão da falta de sentido que está sempre presente no viver do Dasein. Falta essa “preenchida” pela técnica moderna.

A atual forma “técnica” de pensar, diferente da tecné para os gregos, tem como pressuposto que todas as perguntas sobre o ser estão respondidas. E tudo que não tem resposta é esquecido, eliminado do mundo do conhecimento, ficando oculto. Não percebendo que algo já foi decidido. O homem foi transformado em máquina, podendo ser medido e analisado. Quando se propõe algo novo não é aceito. É difícil libertar-se dessa forma de pensamento. Quando o homem fala através de um pensamento como esse, acaba se considerando poderoso pelo fato de apresentar “verdades” a princípio inquestionáveis. Através de um pensamento maquinador as ciências modernas tornou o homem escravo do efeito de melhora. Sendo eficiente tirando a responsabilidade (COLPO, 2012).

Essas “verdades” contribuem para transformar o homem em “coisas” paradas. Tudo o que se enxerga no mundo “técnico” de hoje são objetos, dados prontos. Sempre um preparo para um fazer. No entanto, não é preciso fazer, mas, é preciso pensar (modo do pensamento e não fazedoria). Hoje, pode-se ter tudo. Tudo vale. Não se enxerga o ser humano. O conhecimento não é mais intelectual e sim metafísico. A humanidade vive na época do esquecimento do ser, ficando com o ente quando se esquece do ser. O maior e mais poderoso ente é a vivência (experiência, vida). É tanto dizer sobre as pessoas e as coisas numa tentativa inútil de preenchimento de sentido que o Dasein muitas vezes se esquece do seu sentido (POMPEIA & SAPIENZA, 2011).  O homem é o ente que carrega com ele uma falta (sentido). O mundo da técnica mecanicista cartesiano pretende preencher essa falta.

Certas áreas da psicologia transformam as pessoas em “coisas”. Se perguntas básicas forem feitas, tais como: pra que? Por que? E dermos respostas honestas, essa via de pensamento nos transforma em Dasein (ser-aí; silêncio pensante). O silêncio pensante é uma abertura. Não é uma transformação volitiva e nem facticidade. Dessa forma percebe-se a metafísica, e nesse momento encontra-se fora dela. Pode-se dizer que o ser, é que está pensando através do Dasein, ele é a abertura, então, o ser está aí. O ser compele para sair do lugar de ser humano e ser-aí. Ele está querendo voltar a falar. Para um pensamento maquinador, o ser é presente, constante e explica o ente. O que não era visível agora se torna visível. Transforma o ser em outro ente. Sempre perguntam “o que” “como” e chegam sempre em outra coisa. É tão presente, constante, à mão que se pode fazer e não pensar. A pergunta por uma “coisa” chega sempre em outra “coisa”. O ser é o conceito do ente. Ele define e nunca vale por curto período, a intenção é atingir algo duradouro e constante tornando o ser esquecido. No esquecimento do ser o ente reina e cresce rumo ao infinito.

A maquinação do ente vai sempre crescendo, tão poderoso a ponto de dizer que para ser psicólogo mesmo ele precisa vivenciar. Tem-se um conhecimento quase que espiritual (advinho). É o maior conceito, no entanto o mais vazio. A ideia de que é o homem que “faz isso” é pura metafísica. O homem busca o tempo inteiro o infinito e ao mesmo tempo finito, porque pretende ter resposta para tudo e ter um fim inquestionável. O ser fica dito, manipulável e explicado. Dessa forma ente foi abandonado pelo ser. Ente é tudo aquilo que aparece num primeiro momento e ser é questão; não se apresenta para uma manipulação. Para compreender é preciso estar sempre numa “questionabilidade simples”. Quando o homem decidiu acreditar no ente? Quando, como e onde decidiu acreditar na causa? Ser é aquilo que deixa ser, doa o ente. Nunca se diz que o ser é, mas deve existir uma abertura a ele, precisa para isso de calma e tempo. Não importa se as questões tem respostas ou não. Para respeitar o ser é preciso ser-aí, Dasein. O ser não é, o que é, é o ente.  O Dasein existe, é o seu modo de ser. Ele é um ente privilegiado porque no modo de ser dele, ele é, e não é, vem a ser. Dessa forma, não há interesse em responder quem ele é. Apenas espera-se com calma que brote algo digno de ser questionado. Mas, a abertura não é algo que se escolhe fazer. (POMPEIA & SAPIENZA, 2011).  

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