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A psicanálise como ferramenta de análise do espírito do tempo

Por:   •  16/9/2019  •  Ensaio  •  1.084 Palavras (5 Páginas)  •  119 Visualizações

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Título: A psicanálise como ferramenta de análise do espírito do tempo

Ao me deparar com os estudos sobre a psicanálise, meu sentimento foi de fascinação à inquietação. Ficava me perguntando se os psicanalistas estavam sempre analisando todos ao redor, pelos seus gestos, chistes, atos falhos ou relatando um sonho. Isso valeria desde os colegas do dia a dia até as figuras midiáticas, passando por músicos, apresentadores ou até mesmo políticos.

A escolha temática deste artigo nasce deste questionamento. Vivemos em uma época em que politicamente, existe uma ruptura em relação aos valores sociais conquistados nos movimentos de lutas por direitos das últimas décadas. As conquistas das mulheres – mesmo que ainda muito aquém de uma sociedade justa – criaram as leis contra o assédio e o feminicídio. Denúncias contra o comportamento machista da sociedade, colocou contra a parede muitos homens a rever seus conceitos. Os que aceitaram esta revisão, chamamos de machistas em desconstrução, os que não aceitaram, de machistas conservadores.

Outra luta por direitos que conquistou visibilidades nos meios de comunicação e, recentemente conquistas no legislativo é a luta contra a homofobia. Como na luta pelos direitos das mulheres, a luta contra a homofobia ainda está muito longe de um mundo ideal – o Brasil é líder em assassinatos de pessoas trans no mundo. Nos estádios de futebol, quando o goleiro vai repor a bola em jogo, quase todas as torcidas ecoam o grito de “bicha” e se divertem debochando como se estivessem diminuindo o adversário por sua sexualidade.

Além destes, outra luta de destaque foi pelos direitos étnicos, destacando principalmente negros e pardos além de indígenas. As chamadas cotas raciais, a lei de criminalização da discriminação racial, ainda estão muito distantes de resgatar a dignidade dos negros que desde a libertação dos escravos, – o último país a acabar com a escravidão – relegou todos os negros ao subemprego e morando em favelas e periferias. Aos indígenas, sobrou somente a demarcação de terras, e poucos assistencialismos.

Mesmo assim, muitos avanços ocorreram nos últimos anos, e parecem ter incomodado muita gente que, ao observar estas conquistas por direitos, sofriam silenciosamente por um acentuado conflito de valores. Isso se reflete nas manifestações dadas pelos votos nas últimas eleições.

Fiquei me perguntando o quanto a psicanálise poderia me ajudar a entender este processo, e só me questionei por conhecer uma obra em que o autor faz uma análise do mundo neoliberal partindo de uma análise lacaniana. Dany-Robert Dufour, em sua obra A arte de reduzir as cabeças: sobre a nova servidão na sociedade ultraliberal (2003), discorre sobre o assunto apoiando-se tanto na psicanálise lacaniana quanto na sociologia. Como sugere o título do livro, o autor analisa as mudanças políticas e sociais decorrentes do desenvolvimento capitalista dizendo que sua velocidade é rápida e calcada no intenso consumo de tudo, até no consumo de si mesmo.

O capitalismo está, portanto, ancorado no consumo, algo voraz que se alimenta de todos os recursos existentes e até dos próprios indivíduos. Essa dinâmica faz com que exista uma aniquilação dos sujeitos, que no pensamento psicanalítico acontece de forma simbólica. A dessimbolização do mundo é o ponto central para entender a teoria de Dufour.

No simbólico imaginário, a afirmação do mundo se dá pelo pensamento social, que funciona como um espelho, ou o Outro Social. Como efeito desse exemplo, conforme a linha de pensamento, o Outro Social no sujeito moderno iluminista é a Razão; no mundo medieval, esse sujeito era Deus, mas dependendo da análise poderia ser o Rei; no mundo contemporâneo, esse Outro Social se torna o mercado. Esse Outro Social representa uma estrutura simbólica que serve para formar os sujeitos e marcá-los em suas relações e escolhas. O simbólico, ou o Outro Social, como mercado, funciona de forma dinâmica, com uma capacidade de alteração rápida e intensa representada pelo consumo, e o sujeito se torna o consumidor e o consumido.

Com base nesta teoria de Dufour, decidi tentar encontrar símbolos no Brasil contemporâneo que demonstrassem os retrocessos nas lutas por direitos. As falas do presidente da República, seus ministros e muitos políticos eleitos, dizem que mulheres devem ganhar menos por engravidarem, que racismo não existe no Brasil, que indígenas não precisam de terra e que homossexuais são doentes.

Freud dizia que não existe uma weltanschauung – termo alemão que é melhor traduzido por “cosmovisão” – na psicanalise, uma vez que tanto a filosofia quanto a ciência, e a religião tentaram, e, com exceção da última, não conseguiram nem chegar perto de tal feito – explicar o mundo em sua totalidade. Mesmo assim, a psicanálise não deixa de ser uma ferramenta que nos ajude a entender o mundo que estamos vivendo. Em alemão, outro termo serve para designar o espírito do tempo em que estamos vivendo, zeitgeist.

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