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Ajuda E Dialogo

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Por:   •  14/9/2013  •  3.093 Palavras (13 Páginas)  •  365 Visualizações

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AJUDA E DIÁLOGO

A experiência é comum, tão comum que quase nos passa desapercebida: alguém pede ajuda a um outro que tenta corresponder. Um cristão procura seu diretor espiritual ou seu pároco, uma mãe de família expõe a sua situação a uma assistente social, um delinqüente se entretém com uma reeducadora, ou simplesmente um homem ou uma mulher se dirigem a um de seus semelhantes, em quem confiam, a fim de falar-lhe de problemas mais ou menos complicados com que estão às voltas.

Não é fácil conseguí-lo! Quantos de nós não tivemos já ocasião de sentir a nossa incapacidade para corresponder ao pedido do próximo. Quanta gente em dificuldade não ficou, dum encontro do qual muito se esperava, com o sentimento de não ter sido compreendida. O fracasso da ajuda é um fenômeno bastante comum para que alguns creiam poder concluir: ninguém nunca ajuda a ninguém. Cada um deve resolver por si mesmo. E se acontece que, não poucas vezes, o que pede sai do encontro momentaneamente aliviado, fato é que ele recai depressa nas suas dificuldades e tudo tem que começar de novo. O assistido social pede novos auxílios, o dirigido novos encorajamentos e novos conselhos. Desse modo, alguns se instalam numa situação de assistidos perpétuos, sem que a ajuda que se lhes oferece tenha por resultado colocá-los em melhores condições de agir por si mesmos frente aos seus problemas.

Também não é raro que a resposta ao pedido pareça depender de fatores a respeito dos quais nada se pode fazer. Uma esposa quereria que você a ajudasse a restaurar a união no seu lar, mas o marido não se preocupa absolutamente nem pede nada a você; a situação dessa família é tão miserável, a sua reputação é tal que é praticamente impossível reunir as condições que parecem necessárias para fazê-la emergir de sua angústia. Um homem maduro acha-se de repente desprovido de recursos e lhe telefona, pedindo-lhe trabalho: você não tem um para indicar-lhe, nem vê ninguém a quem possa enviá-lo, etc. ...

Assim como o pedido de ajuda é cotidiano, assim também a resposta a esse pedido se revela muitas vezes difícil, inadequada, decepcionante para o seu interlocutor. É sobre esta situação que queríamos refletir. Se nem sempre podemos ajudar as pessoas como elas o desejariam e como nós o desejaríamos, não será possível, contudo, dar-lhes uma resposta que as ponha em condições de se movimentarem, de tomarem sobre si a carga de seus problemas, numa palavra, de se ajudarem a si mesmas? No próprio diálogo que se estabelece entre nós, não haverá possibilidade de ajuda, que deixamos de aproveitar? Ainda mais, se dispuséssemos de todos os poderes e soubéssemos perfeitamente o que convém ao nosso interlocutor, poderíamos ajudá-lo realmente, sem pô-lo em condições de utilizar-se dos meios postos à sua disposição e de reconhecer pessoalmente onde está o seu bem? O que um sujeito humano pede não é afinal, ser ajudado a tornar-se um sujeito? O diálogo é o lugar próprio desse “tornar-se”, se soubermos conduzi-lo com inteligência e com amor. Concebendo a nossa ajuda como prioritária na linha da satisfação dos desejos e necessidades do nosso interlocutor, ou na da afirmação do que se deve pensar e fazer, esbarramos necessariamente em impasses que é necessário por em evidência.

Não é fácil resistir à tendência que nos induz a responder ao nosso interlocutor no mesmo plano em que parece situar-se o seu perdido. É preciso socorrê-lo imediatamente, mesmo que tivéssemos de gastar com isso as nossas forças e a nossa saúde. É preciso manifestar aquela afeição que o outro diz ter-lhe faltado. É necessário responder à objeção que põe em dúvida a bondade de Deus, é necessário lamentar esse pobre coitado que se lamenta, é preciso manifestar a nossa idéia ao que nos pergunta o que pensamos. Satisfazer aos imediatos desejos e às necessidades na medida compatível com os valores que professamos, gastar-nos sem calcular, parece-nos, à primeira vista, a melhor forma de ajudar. Contudo, quantos fracassos neste modo de agir.

Aceitando o papel daquele que pode satisfazer aos desejos e às necessidades, estabelecemos entre o nosso interlocutor e nós uma relação de dependência, relativamente a um poder-providência. Ora, tal relação, longe de ajudar o sujeito a resolver seus problemas, outra coisa não faz senão perpetuá-los, quando não acrescenta outros novos. É comum ouvir-se dizer que não se deve esperar gratidão da parte daqueles a quem se ajuda dessa maneira, muitas vezes às próprias custas. Fica-se admirado dessa “ingratidão”. Nada, porém, é mais compreensível quando se olha mais de perto.

Dar imediatamente o que o outro pede, é fazer como a boa mãe ou o bom pai que o nosso interlocutor, em geral, não teve, é dar corpo à imagem dum poder – na verdade, perdido – capaz de satisfazer passivamente aos pedidos. Daí a repetição indefinida dos mesmos pedidos ou de pedidos semelhantes. O dirigido virá regularmente mendigar encorajamentos, sem nunca sair de seus problemas, ou perguntar que é que deve fazer, sem jamais tomar em suas mãos o seu próprio destino. O assistido social não poderá mais prescindir da assistência que lhe presta socorro sobre socorro. A ajuda, sempre precária, é continuamente solicitada de novo, como se nunca se fizesse bastante.

Realmente, nunca se faz bastante dessa maneira. Os desejos cuja satisfação fica dependente da providência de outro e do seu poder imaginário, têm um aspecto reivindicativo; e a não ser que nos tornemos escravos deles, não poderemos deixar de decepcioná-los. Aquele que dá poderia dar mais, e se lhe quer mais mal pelo que ele não dá do que se lhe é grato pelo que dá. Daí essa mistura de amor e agressão, essa ambivalência de sentimentos que se tem para com aquele que ajuda a você dessa forma. Não é necessário buscar longe o motivo dessa ingratidão, da qual falávamos, dessas rupturas inesperadas que deixam muitas vezes desamparado o que ajuda.

Para dizer a verdade, ele tem sua responsabilidade nessa situação. Pois, numa relação de ajuda dessa espécie, o pedido não tem sentido único. O sacerdote, a assistente social, a reeducadora, o conselheiro, pedem também alguma coisa ao que se dirige a eles. Esperam que este último se deixe ajudar que lhes testemunhe sua satisfação, que os reconheça e os encare como a sua providência. Daí o cuidado inconsciente que têm de manter o interlocutor em sua dependência para com eles; daí também a decepção que sentem quando não lhes é demonstrado reconhecimento. É então que eles respondem, quer por uma rejeição mais ou menos dissimulada, quer por um desânimo que os deixa abatidos, quer ainda por uma atitude de “menosprezados”, na qual encontram

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