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Atividade 2

Pesquisas Acadêmicas: Atividade 2. Pesquise 859.000+ trabalhos acadêmicos

Por:   •  24/2/2015  •  1.454 Palavras (6 Páginas)  •  372 Visualizações

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ATIVIDADE 02:

Produza uma resenha do seguinte texto, após a leitura da aula 02. Máximo de 20 linhas. Lembre-se de que a resenha é uma análise crítica conforme estudos em disciplinas anteriores. Orientações em arquivo.(valor de 1.25)

FRIVOLlTÊ

Frivolitê é um ponto de crochê que minha mãe fazia. Interminavelmente. Esse termo me vem à lembrança sempre que penso na escrita e sua função de fio, fios torcidos que acompanham a vida e se entrelaçam a outras vidas, nessa estranha dimensão que é o universo da escrita que se faz ler, enroscando-se a outros fios, com que se compartilha o mundo e se acaba por criar outros fios, a partir de modelos de bordados e tapeçarias, metáforas tão antigas do tecido literário, essa rede que se tece, sem que os tecedores nem sempre se conheçam ou se encontrem num mesmo espaço tempo. Mas se entre tecem e criam novos rumos para a vida e se correspondem e se apaixonam ou se odeiam, e essas paixões deixam rastros que, esses, sim, são verdadeiros sulcos na vida, matéria de memória. E, se é memória, é esquecimento, rasura, recriação, invenção que ocorre fora das fronteiras dos gêneros, sejam eles prosa, poesia, teatro, crítica, pois tudo tende a se dramatizar na esfera literária, esta especial dimensão da vida.

Ricardo Piglia escreveu em Formas breves: “A crítica é a forma moderna da autobiografia. A pessoa escreve sua vida quando crê escrever suas leituras. Não é o inverso do Quixote? O crítico é aquele que encontra sua vida no interior dos textos que lê.”

O escritor é, antes de tudo, um leitor. Ele descobre que não escreve a partir de nada. Pode escrever a partir desse vazio que habita a estrutura da linguagem e sua própria estrutura. Mas va¬zio não é nada. E nada não é O nada.

O escritor é aquele que lê, aquele que aponta para outro lugar, quase apagando as diferenças entre escrita e leitura. Para Vean-Michel Rey:

Ler consiste, entre outras coisas, em formar o romance de sua própria existência: essa disparidade em que se encontram acasos, pressões, oportunidades, pontos fixos, variações; em suma, toda espécie de movimentos que se notam sob figuras diferentes, no mais das vezes imprevistas, de um mesmo desejo.

Ser leitor é pertencer a uma estranha sociedade de poetas vivos e mortos que quase sempre se conhecem desconhecendo se, mas que desenvolvem uma singular intimidade fora do tempo. Em espaços nunca dantes navegados ou imaginados.

O trabalho de meu dia a dia confirma o que acabo de dizer, pois não é de escrever apenas, mas dar aulas, orientar teses, tarefa de efeitos que ultrapassam a vida acadêmica e seus rituais, prazos e compassos. Daí a presença de meus companheiros de escrita, nos interstícios deste texto, insone e subterrâneo trabalho: parceiros vários desta tarefa muitas vezes silenciosa que passa por territórios outros, de um Outro.

Os escritos de Outros especiais, interiores e exteriores, estão ou estiveram dentro e fora de quem escreve agora. Visitantes da minha memória, por associação com o que escrevo, quero que lhes sejam reconhecidos os fios que se entreteceram na minha própria escrita. Lendo-os, trabalhando com eles, dei idéias, li, reli. Mudei de idéias, voltei atrás em meus escritos, aprendi, apreendi. Vi que a autoria é feita de matéria vasta, às vezes anônima, é feita de matéria alheia, tornada nossa.

Michel Schneider escreveu um livro que se chama Ladrões de palavras, em que aborda o plágio, a cópia, o pastiche, a paródia e outros “roubos”. A partir dele, penso que somos como o lobo que é feito do cordeiro e de outras carnes alheias. Falamos que comemos os livros que amamos, mas comemos também os que não amamos, se os lemos. A antropofagia pensada por Oswald de Andrade é um conceito suculento, pois estamos sempre avançando sobre o Outro que escreve, fazendo receitas modificadas de suas matérias escriturais.

Somos ladrões de palavras: só que há o bom ladrão e o mau ladrão. Existem vários tipos de “roubo e de ladrões”: o daqueles cujo talento se fixa aí, na capacidade de roubar, é o caso do mau ladrão; ou o roubo-criativo e declarado (com as devidas aspas da citação e a devida referência ao roubado), onde se coloca o bom ladrão, acrescentando novos fios que podem abrir novas saídas, tanto para o saber, como para o desenho do traço ou da assinatura do escritor verdadeiramente criativo.

Passageiros da voz alheia

Há mais tempo eu pensava nas mulheres como passageiras da voz alheia, quando se deixavam ir no espelho do narcisismo masculino, como a ninfa ressonante, Eco, do mito de Narciso e sua repetição sintomática das palavras invertidas do amado. E Eco virou pedra, de tanto se deixar ecoar, levada pela fascinação do Outro, na voragem deslizante do desejo alheio.

Passageiros da voz alheia somos nós, leitores, que escrevemos e tentamos nos reconhecer nos textos-espelhos em que nos debruçamos. Identificação criada pelo fascínio; a esperança de sermos os destinatários ideais do texto don-juanesco. Assim sintetiza Shoshana Felmann, em seu livro Le scandale du corps parlant, quando fala das promessas do texto, da sedução a que cedemos diante de certas escritas.

Roubamos vidas alheias, vivemos experiências, roubamos memórias alheias, como observa Piglia a respeito da “metáfora borgiana da memória alheia”

“A parte do outro” é expressão cunhada por Jean-Michel Rey. O plágio, descarado ou não, afirma ele com outras palavras,

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