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Psicanálise no Brasil

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Por:   •  30/3/2014  •  Projeto de pesquisa  •  8.204 Palavras (33 Páginas)  •  192 Visualizações

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Introdução

Um dos fenômenos culturais mais marcantes na passagem do século 19 para o 20 foi o declínio da comunidade ampliada como sustentáculo da existência individual. Com o fortalecimento dos modos burgueses de vida, impôs-se a tendência à organização de uma ordem social pautada no indivíduo, acentuando no homem a necessidade de uma compreensão diferenciada de sua constituição como pessoa.

Os atributos do indivíduo como ser autônomo e independente passaram a ser definidos com base na recém-descoberta realidade íntima e subjetiva, aprimorada no âmbito do círculo familiar, na escola e nos demais espaços de convívio social. Ante as dificuldades impostas pela vivência coletiva, predominou a tendência de as pessoas verem a si mesmas "como incapazes de solucionar autonomamente, ou com a ajuda de seus semelhantes, os conflitos surgidos no interior de sua intimidade psicológica" (Cunha, 1988, p. 31).

Os saberes científicos, especialmente os da Psicologia, foram gradativamente requisitados para conduzir e solucionar os conflitos individuais (Figueiredo, 1996). O médico vienense Sigmund Freud situou os processos do psiquismo, como as fantasias, os sonhos e os esquecimentos, em regiões obscuras, dispondo-se a tratá-los cientificamente como fenômenos situados no âmago da psique, embora não desprezasse a problemática antropológica e cultural (Freud, 1930; 1974).

Freud elaborou a sua teoria e a sua proposta de intervenção clínica com base na observação de pessoas acometidas por problemas nervosos. Sua proposta era fundamentada na tese de que a etiologia das doenças encontrava-se no inconsciente, fazendo-se necessário acessar essa região obscura para auxiliar o paciente a desenvolver mecanismos de superação de suas dificuldades (Mezan, 1982).

Durante o primeiro quarto do século 20, a teoria freudiana disseminou-se por diversos países. Na Suíça, o médico Eugen Bleuler passou a usar o método psicanalítico no tratamento das psicoses, no intuito de oferecer solução para o enigma da loucura, considerando que a Psicanálise, por desvendar os recônditos do universo mental, constituía alternativa adequada para a cura de distúrbios de conduta (Alexander; Selesnick, 1980). As concepções de Freud atingiram também a América e, sem restringir-se as elites intelectuais, obtiveram popularidade por intermédio de obras de divulgação científica, revistas femininas, programas de rádio e jornais de ampla circulação (Russo, 2002).

Em 1907 foi fundada, em Viena, a primeira organização formal de adeptos da Psicanálise, denominada Sociedade. Em 1909, Freud e Jung foram aos Estados Unidos difundir sua teoria junto ao povo e aos intelectuais (Gay, 1989). Em 1910 foi criado um organismo internacional para reunir todas as organizações psicanalíticas e garantir a adoção de procedimentos éticos entre os associados. No início da Primeira Guerra Mundial a Psicanálise já se expandia pela Índia e pela América do Sul e, a partir dos anos 1920, os temas freudianos tornaram-se mais e mais frequentes entre os praticantes das ciências médicas, especialmente os psiquiatras, o que angariou legitimidade científica à nova teoria, bem como à sua prática clínica.

Foi nesse contexto e nessa época que a Psicanálise chegou ao Brasil e obteve a adesão de certo grupo de educadores interessados em renovar as concepções e práticas escolares. Um dos mais destacados líderes do movimento de renovação educacional denominado Escola Nova foi Anísio Teixeira, cuja atuação na área do ensino teve início na Bahia em meados da década de 1920. No início dos anos 1930 Teixeira assumiu a direção da instrução pública do Distrito Federal, ocasião em que teve a oportunidade de colocar em prática os princípios fundamentais do escolanovismo, dentre os quais se destacava a inserção da Psicologia no conjunto das ciências norteadoras da educação (Cunha, 1994; 1995).

No presente trabalho, procuraremos elucidar as ideias de Anísio Teixeira acerca da Psicologia focalizando, especificamente, as suas relações com a Psicanálise no contexto da renovação educacional brasileira nos primeiros anos da década de 1930. Para examinar esse tema ainda pouco explorado pela historiografia educacional, consideraremos que o pensamento e as práticas de Teixeira devem ser vistos no âmbito das problemáticas e dos anseios de sua época. Por esse motivo apresentaremos, primeiramente, um histórico da inserção dos saberes psicológicos na educação, com destaque para a adesão do escolanovismo à Psicanálise.

A Psicanálise no Brasil

As ideias psicanalíticas foram introduzidas no Brasil na mesma época em que Freud começava a obter projeção internacional, sendo alvo, também, de severas críticas. Suas teses adentraram no país em momento de grande agitação intelectual, quando se buscava um projeto de nação moderna capaz de superar as contradições históricas e alcançar relevância no cenário mundial. As primeiras menções à obra de Freud foram feitas em 1899 pelo médico Juliano Moreira, responsável pela cátedra de Psiquiatria na Faculdade de Medicina da Bahia (Perestrelo, 1988), inaugurando o longo período de difusão da nova ciência em diversos setores da atividade científica e cultural no Brasil.

Contribuíram para isso diversos profissionais da psiquiatria, da pediatria e da educação, como Júlio Pires Porto-Carrero, Juliano Moreira, Franco da Rocha, Deodato de Moraes, Gastão Pereira da Silva, Hosannah de Oliveira, Antônio da Silva Mello, Ayrton Roxo, Maurício de Medeiros e Arthur Ramos (Mokrejs, 1993). Seu objetivo comum era o de utilizar a teoria freudiana não apenas como método para o tratamento de pacientes neuróticos, mas como teoria útil a diferentes esferas do universo cultural e científico (Abrão, 2008). Assim, a Psicanálise integrou-se ao conjunto de ideias inovadoras que alicerçaram muitos projetos de modernização do Brasil nas primeiras décadas do século 20, como, por exemplo, o dos Modernistas dos anos 1920 (Oliveira, 2006).

Os primeiros textos de divulgação das teses psicanalíticas abrangiam a sua aplicação a vários campos, como a Educação, a Antropologia e a Literatura (Abrão, 2001). Seu conteúdo exibia a clara intenção de introduzir a Psicanálise não apenas no meio científico, mas também no ambiente social mais amplo (Mokrejs, 1993).

O espaço obtido em instituições alheias à área médica contribuiu para a aceitação e expansão da doutrina freudiana. Clínicas de orientação infantil, por exemplo, foram criadas sob a inspiração da Psicanálise com o objetivo de auxiliar pais e professores na formação dos futuros cidadãos. Uma das mais importantes foi instituída

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