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41Rev. Bras. Cienc. Esporte, v. 22, n. 2, p. 41-54, jan. 2001

APTIDÃO FÍSICA E SAÚDE NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: AMPLIANDO O ENFOQUE

MARCOS SANTOS FERREIRA

Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde. E-mail: msantos@uerj.br

RESUMO

A prática regular e bem orientada do exercício físico pode ser vista como uma contribui- ção importante para a saúde. Com base nessa relação positiva entre exercício e saúde surge, em meados da década de 80, o movimento da “‘Aptidão Física Relacionada à Saúde” (AFRS) para a educação física escolar. Esse movimento, que advoga a idéia da aptidão para toda a vida e a construção de estilos de vida ativa nas pessoas, visa a contribuir para a melhoria da saúde e da qualidade de vida da população. Embora esse movimento possa ser considerado um avanço em relação ao que vem sendo ensinado na educação física escolar, ele não está isento de críticas. Dentre as principais críticas, estão a idéia de causalidade entre exercício e saúde e o caráter eminentemente indivi- dual de suas propostas, o que concorre para a culpabilização da vítima. Como forma de superar essas lacunas, discutimos a necessidade de a AFRS considerar o caráter multifatorial da saúde, incorporando os determinantes sociais, econômicos, políticos, culturais e ambientais do exercício, da aptidão física e do desporto. A compreensão da influência desses fatores na adesão ao exercício físico por parte dos alunos, seria, a nosso ver, o grande papel da educação física escolar.

PALAVRAS-CHAVE: Saúde; Aptidão Física; Aptidão Física Relacionada à Saúde; Educação Física Escolar

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INTRODUÇÃO

Hoje o senso comum aceita e propaga a idéia de que exercício físico faz bem à saúde. De fato, a prática regular e bem orientada de exercícios físicos traz inúmeros benefícios. Com base nisso, surgiram propostas voltadas para a educa- ção física escolar com o objetivo de popularizar a prática do exercício físico e, desse modo, contribuir para a melhoria da saúde e da qualidade de vida da popu- lação. No nosso entender, essas propostas representam um avanço, embora ado- tem uma abordagem essencialmente biológica da questão, omitindo aspectos de fundamental importância para a adesão ao exercício físico, como os socioeconô- micos. Tendo isso em vista, pretendemos apresentar aqui idéias que visam preen- cher essa lacuna, e assim contribuir com a criação de uma nova perspectiva para o exercício e o desporto na educação física escolar.

O EXERCÍCIO FAZ BEM À SAÚDE?

A influência benéfica do exercício físico no status de saúde encontra suporte teórico em estudos de diversos autores (Powell et al., 1996; Mota, 1992; Borms, 1990; Corbin, 1987). A tal ponto que alguns vêm entendendo o incentivo a essa prática como ação importante na área de saúde pública (Sallis, Mckenzie, 1991; Powell, 1988; Simons-Morton et al., 1988; Caspersen, Christenson, Pollard, 1986). Com efeito, a prática regular e bem orientada de exercícios traz benefícios como: (a) a redução do “colesterol maléfico” (LDL) e o aumento do “colesterol benéfico” (HDL), o que diminui o risco de distúrbios cardiovasculares, como a arteriosclerose e o infarto do miocárdio, além de combater a obesidade; (b) o aumento da vascularização, que favorece a nutrição dos tecidos corporais e com- bate a hipertensão (Siscovick, Laporte, Newman, 1985); (c) a melhoria da eficiên- cia cardíaca, fruto do aumento das cavidades do coração e da hipertrofia do miocárdio; (d) o fortalecimento de músculos, articulações e ossos, que diminui o risco de lesões e dificulta o aparecimento de doenças como a osteoporose; (e) o aumento da capacidade respiratória, que favorece as trocas gasosas; (f) a melhoria da flexibilidade e da força muscular, que reduz as dores nas costas, o risco de lesões articulares e otimiza a autonomia do indivíduo para atividades cotidianas, dentre outras adaptações. Além disso, a prática regular do exercício físico também vem sendo associada a benefícios na esfera psicológica, como a redução da ansie- dade, da depressão (Taylor, Sallis, Needle, 1985), do estresse e a melhoria do humor (Berger, 1996). Vale ressaltar, porém, que a associação sem reservas entre exercício físico e saúde, numa relação de causalidade, pode nos levar ao campo do “otimismo ingê-

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nuo” (Sobral, 1990), uma vez que os benefícios do exercício dependem da forma como é praticado. De fato, vários autores argumentam que ao desenvolvimento da aptidão física não corresponde necessariamente uma melhoria do status de saúde (Mota, 1992; Bento, 1991; Haskell, Montoye, Orenstein, 1985) e que nem todas as repercussões do exercício físico e do desporto são benéficas à saúde (Bento, 1991; Meinberg, 1989). Há, por exemplo, estudos que demonstram que o treinamento ao qual os atletas do desporto de rendimento são submetidos pode levar, anos mais tarde, a seqüelas no organismo (Meeusen, Borms, 1992; Sward, 1992; Kujala, Kvist, Osterman, 1986). Portanto, o exercício físico deve ser encara- do como um meio potencial para se contribuir positivamente para a saúde, quan- do praticado de forma correta e adequada.

APTIDÃO FÍSICA E SAÚDE NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

É exatamente na possibilidade de o exercício contribuir positivamente para a saúde que se apóia o movimento da “Aptidão Física Relacionada à Saúde” (Health- Related Fitness) que, desde meados da década de 80, do século passado, vem ganhando espaço em países como Grã-Bretanha, Canadá, Estados Unidos e Aus- trália, o que pode ser observado em livros e artigos em revistas especializadas (Corbin, Fox, Whitehead, 1987). Um exemplo disso foi a constituição de um gru- po de trabalho na Grã-Bretanha, em finais daquela década, para definir em que nível a Aptidão Física Relacionada à Saúde poderia contribuir na formulação das Diretrizes Curriculares Nacionais. A recomendação final desse grupo de trabalho foi que o currículo nacional de educação física tivesse como meta a Aptidão Física Relacionada à Saúde, ou seja, que os alunos compreendessem os benefícios da prática regular do exercício físico, e conhecessem as formas pelas quais esses be- nefícios podem ser alcançados e mantidos (Armstrong et al., 1990).

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