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ROMPENDO O PACTO RACISTA: COLOCANDO O BRANCO EM QUESTÃO

Por:   •  18/5/2018  •  Resenha  •  6.506 Palavras (27 Páginas)  •  150 Visualizações

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SCHUCMAN, L. V. Entre o "encardido", o "branco" e o "branquíssimo": raça, hierarquia e poder na construção da branquitude paulistana. Instituto de Psicologia. USP. Tese de Doutorado. São Paulo, 2012. p. 12-45.

ROMPENDO O PACTO RACISTA: COLOCANDO O BRANCO EM QUESTÃO

 “[...] o racismo particular do brasileiro é a ideologia do branqueamento marcado por uma sociedade hierárquica de desigualdades sociais e racistas no que diz respeito aos negros e aos índios. Sendo assim, o judeu brasileiro também faz parte da sociedade branca, e, portanto, na ideologia racista típica do Brasil, contribui com o “branqueamento” da sociedade.” (p. 12)

“No Brasil, o tema da raça e do racismo já foi objeto de estudos de diferentes e opostas interpretações. Passamos do paraíso da democracia racial para o desvelamento do racismo em apenas algumas décadas [...] Nesta primeira década do século XXI, é possível perceber discursos que apontam o Brasil como um lugar de pacífica convivência racial, com fluidas classificações de cor e raça e estudos que mostram a duradoura e sólida iniquidade e injustiça racial como fatores determinantes da estrutura social brasileira. No entanto, em ambos os casos, a raça da população brasileira é tema destas interpretações e estudos, o que demonstra que o pensamento racial está arraigado na estrutura social e cultural e na constituição dos sujeitos em nossa sociedade.” (p. 13)

 “A raça, como categoria sociológica, é fundamental para a compreensão das relações sociais cotidianas, não só no que diz respeito à experiência local, mas também, nacional e global. A ideia de raça está presente em diferentes experiências da vida social: nas distribuições de recursos e poder, nas experiências subjetivas, nas identidades coletivas, nas formas culturais e nos sistemas de significação.” (p. 13)

 “Contudo, mesmo que a ideia de raça produza efeitos concretos no Brasil, falar dela e de racismo é estar em terreno movediço, considerando um País que ainda se identifica e atribui, como marca positiva da identidade nacional, valores de miscigenação cultural e mistura racial (Winant, 2001).” (p. 13)

“Dessa forma, o contexto multirracial brasileiro propicia mediações bastante diferenciadas para a constituição de sujeitos e, portanto, para a subjetividade de brancos e não brancos. A marca dessa diferença e dessa desigualdade perpassa toda a socialização de tais indivíduos, na casa, na escola, na rua, e todos os espaços públicos são marcados pela supervalorização da branquitude e pela preferência do branco em relação ao não branco.” (p. 14)

“O branco não é apenas favorecido nessa estrutura racializada, mas é também produtor ativo dessa estrutura, através dos mecanismos mais diretos de discriminação e da produção de um discurso que propaga a democracia racial e o branqueamento. Esses mecanismos de produção de desigualdades raciais foram construídos de tal forma que asseguraram aos brancos a ocupação de posições mais altas na hierarquia social, sem que isso fosse encarado como privilégio de raça.” (p. 14)

“A preocupação e o enfoque sobre as relações raciais na sociedade brasileira, no entanto, têm mudado muito nos últimos anos. [...] A sociedade brasileira e, mais especificamente, o Estado começam, enfim, a responder timidamente às demandas e reivindicações da luta política do movimento negro. Como exemplo, podemos citar a adoção de cotas para negros por algumas universidades, a institucionalização, por alguns Estados, de um dia para a consciência negra, a criação da Secretaria de Igualdade Racial e a Lei federal nº 10.639, que tornou obrigatório o ensino de História da África e da cultura afrobrasileira nas escolas de ensino fundamental e médio.” (p. 14)

“Apesar das preocupações e da luta contra a discriminação racial serem fundamentais para uma sociedade mais justa e humana, a psicologia pouco se debruçou sobre a questão das relações raciais no Brasil [...] Assim, é importante perguntar: quais os significados da branquitude em nossa cultura? De que forma ela se caracteriza? Quais as identificações em semelhanças e diferenças que os sujeitos brancos constroem com a branquitude? Quais os processos em que a raça opera na constituição dos sujeitos como brancos? Como a própria ideia de raça e os valores da branquitude diferenciam e hierarquizam internamente o grupo de brancos em nossa sociedade?” (p. 15)

I – BRANQUITUDE
1.1 O lugar do branco nas relações raciais: primeiros estudos

“Neste sentido, é importante pensar que as culturas nacionais e as identidades brancas e não brancas têm sido historicamente criadas, recriadas, significadas e redefinidas através das trocas circulares de símbolos, ideias e populações entre a África a Europa e as Américas, e assim este campo de estudo também aparece como trocas de pesquisas e ideias entre estes continentes.” (p. 17)

“Apesar de os estudos críticos sobre a branquitude terem emergido nos Estados Unidos na última década do século passado e no Brasil serem datados do início do século presente, alguns autores mais antigos foram precursores para se pensar a identidade racial branca (Cardoso, 2008).” (p. 18)

“Nos Estados Unidos da América, o sociólogo, historiador, filósofo e ativista político W. E. B. Du Bois, primeiro negro americano a se graduar em Harvard e a se doutorar em Berlim, escreveu um livro intitulado Black Reconstruction in the United States, publicado em1935, em que analisou a classe trabalhadora branca norte-americana do século XIX em comparação ao trabalhador negro. O autor apresenta uma dinâmica que entrelaça as categorias de raça, classe e status, demonstrando que a aceitação do racismo pela classe trabalhadora branca daquela época foi uma forma de se apropriar de benefícios, que Du Bois nomeou de salário público e psicológico, que resultavam em acessos a bens materiais e simbólicos, que os negros não podiam compartilhar. Ou seja, os brancos trabalhadores, ao aceitarem a raça como um divisor dessa classe, se aproximavam dos brancos de todas as outras classes sociais, dividindo com estes os mesmos acessos a lugares públicos, o mesmo direito a voto e, portanto, o status dado à branquitude.” (p. 18)

“Assim, a supremacia branca foi sendo formada pela classe trabalhadora branca dos Estados Uni- dos e pela constituição de uma identidade trabalhadora que se colocava em oposição aos trabalhado res negros, ou seja, estes sujeitos absorviam privilégios, identificando-se como “não escravos” e “não negros”. O racismo dos brancos aparece no trabalho de Du Bois como uma forma de o trabalhador branco buscar posições de status que não conseguiria, caso reconhecesse todos os trabalhadores como iguais, bem como uma forma de se alienar à condição de classe explorada na qual se encontravam.” (p. 18-19)

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