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Bases Para O Estudo Dos Ecossistemas Da Amazônia Brasileira

Trabalho Escolar: Bases Para O Estudo Dos Ecossistemas Da Amazônia Brasileira. Pesquise 860.000+ trabalhos acadêmicos

Por:   •  27/4/2013  •  9.917 Palavras (40 Páginas)  •  1.286 Visualizações

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Estud. av. vol.16 no.45 São Paulo May/Aug. 2002

http://dx.doi.org/10.1590/S0103-40142002000200002

AMAZÔNIA BRASILEIRA

Bases para o estudo dos ecossistemas da Amazônia brasileira

Aziz N. Ab'Saber

Uma reflexão mais demorada sobre os ecossistemas ocorrentes no domínio morfoclimático e fitogeográfico da Amazônia brasileira guarda um interesse científico e didático. O fato de a região ter sido apresentada sempre como o império das florestas equatoriais, de disposição zonal, acarretou distorções sérias nos estudos dos ecossistemas regionais. É certo que, em termos do espaço total amazônico, predominam esmagadoramente os ecossistemas de florestas dotadas de alta biodiversidade. Entretanto, se levarmos em conta o conceito original de ecossistema, independentemente das disparidades espaciais de sua ocorrência, chegaremos a um número bem maior de padrões ecológicos locais ou sub-regionais.

Antevistos pelo critério de sua especificidade — suporte ecológico e padrão de biodiversidade — pode-se agrupar os ecossistemas ocorrentes em três categorias:

Ecossistemas contrastados de "terras firmes" (tipo enclaves de cerrados, ilhados no meio das grandes matas), somente explicáveis pela Teoria dos Refúgios;

Diferenciações intra-florestais, pela presença de manchas de areia branca em terraços, várzeas e interflúvios arenosos, ou pela demorada presença de água de transborde em planícies de rios sujeitos a fortes oscilações de nível (respectivamente, tipos campinarana e campinas, e tipo igapó);

Ecossistemas extremantes localizados, originados por mini-refúgios nas paredes de "pães-de-açúcar" e lajedos, ou seu entorno; ou ocorrentes em ingremes barrancas de abrasão fluvial, atualmente sujeitas a (re)florestamento (tipo "pontões" rochosos de Roraima, em Mucagaí; ou altas barrancas do Amazonas, em Monte Alegre). Evidentemente, não fossem os estudos aproximativos sobre a história vegetacional da Amazônia brasileira, realizados no ensejo dos trabalhos que deram respaldo à Teoria dos Refúgios, seria difícil ou quase impossível explicar as manchas de cerrados e campestres regionais, ou a ocorrência de cactos nos "pedrões" de Roraima ou nas barrancas de Monte Alegre.

No que se refere às planícies aluviais, a variedade dos ecossistemas é muito grande, tal é o dédalo do mosaico terra-água, sobretudo no caso do médio e baixo Amazonas. Na larga planície de 14 a 35 quilômetros de largura, sucedem-se e se repetem faixas anastomosadas de ecossistemas no meio dos numerosos setores deprimidos ou ligeiramente "altos" da rasa planície. Pouca gente sabe que o rio Amazonas, nos setores considerados, é um dos cursos d'água que transporta a maior carga de sedimentos finos em solução, acrescidos de minitouceiras de vegetação flutuante, na face da Terra. O contraste entre as águas escuras do rio Negro face as águas amarelo-pardacentas do Solimões/Amazonas indica atributos hidrobioquímicos e hidrogeomorfológicos.

Para quem faz pesquisas nos confins de Mato Grosso, no extremo norte de Tocantins ou no centro do Maranhão é fácil saber onde começa a Amazônia. Quando as florestas deixam de ser apenas galerias amarradas ao fundo aluvial dos vales; quando as matas sobem e fecham as vertentes e interflúvios das colinas onduladas, onde antes, para o sul, o sudeste e o leste existiam extensos cerrados; ou, ainda, quando cerrados e matas secas cedem lugar para intermináveis florestas de "terra firme": aí começa a Amazônia. Em várias faixas de contato entre cerrados e matas na periferia da Amazônia ocorrem mosaicos complexos de paisagens de retalhos de chapadões ou baixo platôs com cerrados, e colinas onduladas e serrinhas com matas de "terra firme" ou orográfica. Maior complexidade ainda ocorre quando existem campestres pontilhados de arboretos dos cerrados (Roraima), passando gradualmente para matas de terra firme (Mucapai, Caracas) ou campos cerrados transicionando para matas orográficas (centro-oeste de Roraima, centro-sul do Amapá). A rigor, em todas as grandes manchas de campestres ou cerrados que se estendem ao norte do rio Amazonas — a saber, campos de Boa Vista, cerrados de Monte Alegre, cerrados naturalmente degradados do Amapá — ocorrem contatos complicados entre as formações abertas e o início das grandes matas que as envolvem.

O Negro praticamente não tem planícies aluviais: estende-se de barreira a barreira, ou de talude de terraço até as barrancas da outra banda. Em frente de Manaus, o rio chega a atingir 22 quilômetros de largura. Mas, em compensação, apresenta dois notáveis setores de restingas fluviais síltico-argilosas centrais, fixadas por um ecossistema de florestas baixas, pouco diversificadas. Dir-se-ia que existem dois arquipélagos fluviais — tipo anavilhanas — no rio Negro: um, a montante de Manaus, outro a montante da barra do rio Branco com o Negro, conforme foi detectado no Projeto RADAM. Uma das poucas hipóteses razoáveis para explicar a gênese dessas duas "anavilhanas" é que, durante o tempo de águas baixas e muito menos volumosas do Pleistoceno terminal (entre 23 e 13 mil anos A.P. — antes do presente), o rio teria tido dois canais laterais locais e um espécie de plataforma provisória e exposta, reinvadida pelas águas durante os últimos 12.700 anos, ao ensejo da densificação das florestas devido o gradual e quase contínuo aumento das precipitações pluviais na alta bacia do Negro/Vaupés. A fímbria estreita de terraços arenosos eventualmente existente na beira do tabuleiro de Manaus talvez tenha se formado durante os impactos pedológicos e climáticos do otimo climaticum. Mesmo que não existam largas e continuas planícies aluviais no baixo rio Negro, ocorrem diversos ecossistemas diferenciados na região de Manaus: matas baixas, das anavilhanas; igapós a partir dos diques marginais engastados na beira alteada rio Negro; buritizais e buritiramas e outras palmáceas em faixas deprimidas dos tabuleiros regionais; campinas e campivaranas em terraços de areia branca ou manchas arenosas mal pedogenizadas de interflúvios; e, por fim extensas florestas biodiversas de "terra firme".

No caso particular da larga e longa planície amazônica, desde a barra do rio Negro até as proximidades do golfão Marajoara,

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