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Chuva Acida

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Por:   •  11/11/2013  •  1.433 Palavras (6 Páginas)  •  567 Visualizações

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Primeiramente, um pouco de biografia, a qual certamente contribuirá para a compreensão da teoria. Agnes Heller nasceu em Budapeste, em 1929. Foi discípula e colaboradora de Lukács, pesquisadora do Instituto Sociológico de Budapeste e deixou a Hungria, por motivos políticos, em 1978. Lecionou na Austrália e atualmente integra o corpo de professores e pesquisadores da New School for Social Research, em Nova York. Faz parte de um grande grupo de intelectuais que elaboraram um marxismo crítico no leste europeu; mais especificamente, Heller integra a chamada Escola de Budapeste. Esses intelectuais tomaram como ponto de partida a crítica do marxismo soviético e do socialismo real, ou seja, do socialismo tal como se constituiu na União Soviética e na esfera de sua influência. Sua obra integra, portanto, um marxismo de oposição que contém, mais do que uma contribuição teórica importante, implicações relevantes no âmbito das atitudes políticas. No cerne dessas formulações teóricas está a revisão de alguns pressupostos da tradição marxista, que perderam a força quando aplicados não só à compreensão da experiência da Europa oriental como também dos rumos, imprevisíveis para Marx, das sociedades capitalistas ocidentais (Arnason, 1989, p. 163 s.).

Esse processo de superação do marxismo soviético valeu-se não só de fontes externas ao marxismo como de partes da obra de Marx que haviam sido postas de lado ou refutadas; de um lado, a redescoberta dos Manuscritos econômico-filosóficos, de 1844, deu origem a interpretações antropológicas do marxismo que reconstruíram o próprio conceito de natureza humana; de outro, temas específicos negligenciados ou interditados pelas versões oficiais do marxismo despertaram renovado interesse: esse é o caso, por exemplo, da análise filosófica e sociológica da vida cotidiana.

A obra de Heller desenvolve-se na confluência dessa redescoberta (dos Manus-critos) e desse interesse (por aspectos da vida social menosprezados pela filosofia e pelas ciências sociais). Ao se voltar para a Ideologia alemã e principalmente para os Primeiros Manuscritos, ela resgata a questão do homem-natureza e do homem-ho-mem, isto é, a questão da humanização do homem no decorrer do processo histórico; nesse processo, Heller atribui especial importância aos comportamentos cujo conteú-do axiológico seja positivo, isto é, que contribuam efetivamente para esta humaniza-ção. É por essa via que a ética ocupa um lugar central em sua obra.

Perspectivas, São Paulo, 16: 119-141, 1993

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Enquanto no marxismo ocidental (por exemplo, em Henri Lefèbvre) o interesse pela vida cotidiana vem ligado a uma estratégia de radicalização - o mundo de todos os dias deveria ser transformado por uma "revolução cultural" mais profunda, que ultrapassasse a simples inovação nas áreas política e econômica -, no marxismo crítico oriental esse interesse decorre de uma percepção da revolução como algo incompleto se deixar intactas as estruturas básicas da vida cotidiana. Esfera da reprodução individual, a vida cotidiana é vista como território de estruturas antropológicas elementares que podem ser invocadas contra a naturalização da história; enquanto complexo de atividades estritamente ligadas, que subjazem à rede das instituições mais especializadas, exige uma revisão da relação "estrutura/supra-estrutura". É no contexto dessa revisão que surge o importante conceito de "mediação" (Arnason, 1989).

A filosofia da práxis, enquanto referência teórica para pensar a escola pública num projeto de mudanças sociais profundas, abrange várias concepções a respeito não só de quem faz a história, mas também de como e em que instância social ela se faz. Essas concepções contêm, portanto, diferentes versões sobre o papel dos protagonistas da vida na escola num projeto de mudança social radical e implicam diferentes propostas relativas à implementação da política educacional. Portanto, sua escolha como quadro teórico da pesquisa do rendimento escolar coloca o pesquisador diante do problema de decidir sobre que dimensão da vida social sua análise incidirá, ou seja, diante do problema de escolher entre as várias teorias geradas no âmbito dessa filosofia da história.

A crítica às pesquisas realizadas no marco das concepções funcionalista de sociedade e positivista de ciência, bem como a busca teórica de aproximação das esferas social e individual, tradicionalmente separadas nas ciências humanas, con-vergem para uma área recente do conhecimento sociológico: o estudo da vida cotidiana, ao qual se encontra ligado o nome de Agnes Heller, pensadora marxista comprometida com a busca da fundamentação teórica para um projeto político de "mudar a vida" nas sociedades atuais, marcadas pela exploração econômica e pela dominação cultural.3

Por estar voltada para as relações entre a vida comum dos homens comuns e os movimentos da história, e por não perder de vista a especificidade das pessoas envolvidas nas ações que tecem a vida cotidiana, sua obra é particularmente promissora como referência teórica para a reflexão sobre a escolarização das classes subalternas, nos países capitalistas do terceiro mundo, concebida como processo histórico tecido por todos os que se confrontam em cada unidade escolar. Por isso, ao mesmo tempo em que, no Brasil, o pensamento helleriano era percebido como uma

3. Nosso primeiro contato com esta autora deu-se no curso "Sociologia da vida cotidiana", ministrado na graduação em Ciências Sociais da FFLCH-USP, pelo prof. José de Souza Martins, em 1982.

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Perspectivas, São Paulo, 16: 119-141, 1993

perspectiva inovadora e promissora

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