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Efeitos terapêuticos da terapia equina

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Por:   •  4/4/2014  •  Pesquisas Acadêmicas  •  5.006 Palavras (21 Páginas)  •  578 Visualizações

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SEGURANÇA NA EQUOTERAPIA: minimizando riscos e promovendo um melhor e mais intenso contato entre praticante e cavalo

Kether van Prehn Arruda: Equoterapeuta, Equitador e Psicólogo*

Ana Paula Gatti Panizza: Tradução para o inglês (Psicóloga e Equoterapeuta)

INTRODUÇÃO

A Equoterapia, apesar de ter sua origem em um período anterior ao nascimento de Cristo, aparecendo em livros de Hipócrates de Loo, entre outros, de fato se difundiu mundialmente a partir de 1952, com o caso da atleta Olímpica, Lis Hartel. Junto a crescente prática desta terapia se fez necessária a comprovação científica de seus benefícios, onde o objeto da maioria das pesquisas já realizadas teve como foco o mais visível e mensurável: os benefícios físicos provenientes do movimento tridimensional do cavalo.

Hoje, porém, há espaço para a verificação de outros aspectos, como os cognitivos, psicomotores, emocionais, sociais, esportivos, entre outros. Sabe-se atualmente que a Equoterapia é competente no desenvolvimento global das pessoas. Pude verificar durante a minha experiência e comprovar em estudos de caso, que esta terapia propicia algumas condições mínimas e suficientes para que o praticante se envolva com o seu processo de recuperação e desbloqueie a sua tendência ao desenvolvimento global. A esse fenômeno Carl R. Rogers (1958) chamou de “condições mínimas e suficientes para se estabelecer uma relação de ajuda”. Segundo Rogers, tais condições são:

1. Terapeuta e cliente têm que estar no mesmo ambiente e na mesma hora. No caso da Equoterapia, inclui-se o cavalo como parte integrante e indispensável ao setting terapêutico.

2. Congruência: o terapeuta deve ser unificado, integrado, congruente; deve ser na relação exatamente aquilo que é, de maneira franca e verdadeira e não uma fachada ou um papel.

3. Consideração positiva incondicional: trata-se de uma aceitação total dos sentimentos e expressões sinceras do cliente, sem julgamentos ou preconceitos.

4. Compreensão empática: captar o mundo interior do cliente como se fosse o seu próprio, mas não confundi-lo como tal.

5. Transmissão: Que o cliente perceba minimamente a congruência, a aceitação e a compreensão empática do terapeuta.

Como tenho relatado em trabalhos anteriores, acredito que o cavalo, de certo modo, contém todas as características citadas, porém, mesmo o cavalo tendo uma função ímpar e inquestionável nesta terapia, quem vai estabelecer a dinâmica da relação praticante-cavalo são as pessoas envolvidas neste encontro e questiono: será que o mediador da terapia também promove condições facilitadoras - congruência, aceitação incondicional, empatia e transmissão? Quando Rogers identificou essas condições facilitadoras, provavelmente desconhecia a Equoterapia. Ousando imagina-lo no ambiente Equoterapêutico, arriscaria dizer que uma das condições seria: ‘Estabelecer o contato praticante-cavalo preservando a integridade emocional e física do cliente’. Apesar da importância de todas as condições e atitudes citadas, o foco deste trabalho encontra-se na responsabilidade do mediador em formar um contato intenso, real e muito seguro, seja do ponto de vista físico, como emocional.

SOBRE RISCOS E TRAUMAS

1) Exemplos Práticos

Um processo terapêutico em franca evolução pode ser interrompido a qualquer momento por um trauma físico e/ou emocional.

O trauma físico pode se dar numa queda do praticante, numa resposta agressiva de um cavalo, numa cabeçada do animal ao se coçar, numa pisada no pé do praticante, ou qualquer outro evento que traga danos físicos justamente a quem, cuja condição global, estávamos tentando melhorar. Os traumas emocionais podem ocorrer ainda mais facilmente, em conjunto com o trauma físico ou isoladamente. Quando, por exemplo, um mediador diz ao praticante que não há perigo nenhum ao alimentar um cavalo com uma cenoura, mas o animal, faminto, acaba por morder o dedo do praticante. Nesta situação, a confiança é abalada e o desejo do praticante em participar deste processo diminui. Também, o cavalo pode assustar-se com algo e o mediador, distraído ou despreparado, também pode assustar-se com o evento, naturalmente o praticante será acometido pelo mesmo sentimento de insegurança e o processo terapêutico estará ameaçado. Nesses casos, estaríamos desabilitando e não habilitando.

Muitas vezes os mediadores expõem os seus praticantes a traumas por não saberem dos riscos que envolvem aquela operação. Os exemplos citados ilustram que para proteger física e emocionalmente um praticante, o mediador tem que estar preparado para o maior número de situações de risco possíveis, sendo congruente com as possibilidades.

Ilustro esta questão com um episódio ocorrido durante um atendimento que mediei; o que a princípio pode parecer um comportamento de super-proteção, será claramente elucidado.

Tive a oportunidade de acompanhar praticantes que evoluíram física, emocionalmente e também como equitadores, chegando ao nível pré-esportivo. Um deles foi um garoto de 14 anos com Síndrome de Down. Em determinado momento das práticas, ele já estava apto a colocar o cabresto no cavalo, encilhar, montar, apear e conduzir ao passo, sem o meu auxilio. O próximo degrau seria o trote. Ressalto aqui que todos os equitadores que conheço já caíram muitas vezes do cavalo e desde o início das montarias desse praticante, eu lhe explicava que isso um dia iria ocorrer com ele também, já que estava tornando-se um equitador. Além de avisá-lo, passava-lhe dicas de como minimizar os traumas físicos, usando estratégias para cair em pé. Passamos a treinar o trote em retas, eu andava ao seu lado, como auxiliar lateral, testando o seu domínio. Em determinado momento, o praticante demonstrou que queria trotar sozinho e eu lhe avisei que ele ainda não estava pronto. Na prática seguinte, ele resolveu colocar o cavalo para trotar dentro do redondel, onde seu equilíbrio seria muito mais exigido, devido à força centrípeta. Eu lhe disse que parasse, mas ele desobedeceu – como um filho querendo mostrar ao pai que este estava errado – e, neste momento, desequilibrou-se e começou a cair para o lado; o cavalo estacou e ele passou ao lado do pescoço do animal, porém estava segurando em sua crina, como eu lhe havia ensinado, e caíra em pé, imediatamente deitando de costas no chão de areia.

Logo o menino se levantou e ameaçou correr; eu o segurei e lembrei-lhe dos avisos que havia dado, também falei que já havia caído muitas vezes. Ao falar com ele, o que dizia estava totalmente congruente com o que eu estava sentindo e com o que já havia dito outras vezes. Ao perceber que o seu coração estava batendo muito rápido, disse-lhe que sentir muito medo é normal na primeira queda, e que, como ele, o cavalo estava muito assustado. Pedi então que me acompanhasse para acalmar o seu amigo cavalo; fomos de mãos dadas até o animal, ele sentiu os batimentos do cavalo, percebeu que o amigo partilhava o susto e se acalmou. Em seguida, disse ao praticante que para ambos não ficarem com um sentimento ruim deste momento, ele e o cavalo precisavam dar mais uma volta juntos. O praticante montou novamente e o episódio foi comentado ao pai com muita alegria e risadas.

Quando o praticante me desobedeceu, estava claro que o final seria a queda, mas o ambiente era perfeito para que isso ocorresse e o episódio seria bem vindo para lhe fazer aprender mais. Após este evento, o nosso vínculo de confiança aumentou ainda mais e o seu fluxo de desenvolvimento fluiu com mais intensidade.

O que aconteceria se nós não contássemos com uma possível queda? E se eu também me assustasse com o ocorrido? E se eu tivesse omitido esta possibilidade? E se ele não tivesse sido treinado para evitar se machucar numa queda? E se ele não tivesse montado logo em seguida?

Não sabemos exatamente o que poderia acontecer, o que sabemos é que, neste caso, um conjunto de cuidados levou um episódio de riscos traumáticos a otimizar o processo de evolução da terapia.

2) Sobre Montanhas E Cavalos

Os efeitos terapêuticos acontecem à medida que se constrói a relação praticante-cavalo e quem vai definir ou promover a qualidade desta construção é o equoterapeuta. Se o profissional entender que a base desta construção é a segurança do praticante, mais sólidos serão os benefícios do tratamento.

Para ilustrar e exemplificar a importância da segurança neste trabalho, recorro a uma outra atividade a que me dedico há mais tempo – o montanhismo. Venho praticando este esporte há 12 anos, sou atual presidente da Associação de Montanhismo da minha região e há 08 anos me dedico a ministrar cursos de escalada em rocha.

A escalada é um esporte praticado da melhor forma em duplas unidas por uma corda, onde o primeiro da cordada é o escalador guia e o outro é o escalador participante. Enquanto o guia abre caminho, levando a ponta da corda para cima da montanha, prendendo-se a pontos de segurança e arriscando-se cair entre eles, o participante controla a corda para impedir que o guia toque o chão em caso de queda. Do alto, o guia, já preso a um ponto fixo, faz a segurança para o participante, que escala sem risco de queda, pois está sendo segurado pela corda de cima.

Segundo GRAYDON e col. (1992), quando se está a frente de uma escalada, você é o responsável pelo desfecho da empreitada. O guia tem que estar pronto para uma possível queda, para um ataque de abelhas escondidas em uma fenda, tem que conhecer o caminho, tem que saber as condições do tempo, as vestes, os equipamentos e os suprimentos necessários, o tempo que a dupla vai levar para subir e descer da montanha e, o mais importante de tudo, é responsável por saber o que fazer se algo der errado, como se começar a chover, o que em uma escalada na rocha, deixa muito perigosa ou até impossível a ascensão.

Quando vamos escalar, não esperamos que esses imprevistos aconteçam, mas temos que saber como agir se acontecerem, porque mais dia menos dia eles acontecerão. Por isso, o guia deve ser um escalador que gradativamente adquiriu experiência e conhece sobre tais variáveis e riscos e, mais do que isso, sabe como evita-los ou minimiza-los.

Os estudos estatísticos fornecidos pelo grupo de estudo Segurança em Montanha mostram que uma fatalidade ocorre na proporção de uma para cada mil comportamentos de risco.

Fonte: http://www.segurancaemmontanha.com.br

Analisando a Pirâmide dos Acidentes, muitas vezes chamada de Iceberg da Fatalidade, podemos ver que na base estão os Comportamentos de Risco, mas por não aparecerem, não recebem a importância devida. A maioria das pessoas só lembra da segurança quando acontece uma Fatalidade.

As variáveis são muitas e nós não temos controle sobre todas elas. Muitas vezes, o escalador conhece muito dos nós, equipamentos, desenvolve técnica e força escalando em ginásios; sente-se um escalador completo, mas quando está numa montanha, tem que lidar com fenômenos naturais que não pode controlar, como chuva, vento, sol, abelhas, insetos, vertigem e tantas outras variáveis circunstanciais.

Esse escalador de ginásio pode ser comparado ao profissional da saúde que domina a sua área, seja Fisioterapia, Psicologia, ou qualquer outra, e já tem sucesso nos seus atendimentos em consultório. Então, faz um curso de Equoterapia, aprende sobre os benefícios desta prática e inicia os seus atendimentos no picadeiro como um mediador Equoterapeuta. Está entusiasmado e empolgado com esta terapia, mas será que conhece as possíveis reações que um cavalo pode ter? Consegue observar seus sinais? Sabe como controlar o cavalo? Sabe como retirar o praticante de cima do cavalo em qualquer circunstância? Sabe como acompanhar os movimentos do cavalo, mantendo-se ao lado do praticante sem assustar o animal? Será que ele sabe se proteger do animal em caso de uma esquiva abrupta para o seu lado? Se este profissional tiver sorte, os seus comportamentos de risco não vão promover traumas graves aos seus praticantes e, com o tempo, ele conhecerá os riscos inerentes a Equoterapia e aprenderá a evitá-los. Mas será que temos o direito de contar com a sorte e trair a confiança que nos foi entregue pelo praticante e seus familiares? Acredito que isso realmente não seja ético.

3) A Questão da Segurança e a Lei

Para os profissionais que acham que estão seguros por ‘Termos de Responsabilidade’ que os pais assinam, vale ressaltar que, no Brasil, isso não tem valor legal caso uma família sinta-se prejudicada pela Equoterapia, quer seja material, quer seja moralmente.

A lei é imperativa, e vale tanto para o dono do Centro de Equoterapia quanto para os profissionais envolvidos com o atendimento. Os danos causados a praticantes provenientes do processo terapêutico e seus acidentes estarão sujeitos às penas do novo Código Civil e Criminal.

Segundo o Código de Processo Civil Lei Federal nº 10.406, de 10/01/2002:

“Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

Art. 936. O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar culpa da vítima ou força maior.

Art. 948. No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras reparações:

I - no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da família;

II - na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta a duração provável da vida da vítima.

Art. 949. No caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o ofensor indenizará o ofendido das despesas do tratamento e dos lucros cessantes até ao fim da convalescença, além de algum outro prejuízo que o ofendido prove haver sofrido.

Art. 950. Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o seu ofício ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a indenização, além das despesas do tratamento e lucros cessantes até ao fim da convalescença, incluirá pensão correspondente à importância do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu.

Art. 951. O disposto nos arts. 948, 949 e 950 aplica-se ainda no caso de indenização devida por aquele que, no exercício de atividade profissional, por negligência, imprudência ou imperícia, causar a morte do paciente, agravar-lhe o mal, causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo para o trabalho.”

O Código Penal prevê em Decreto-Lei nº 2848, de 07/12/40:

“Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.

2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:

b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;

c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.

...II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia.”

O código penal é muito claro: com a negligência vem a culpa. Portanto, mediar uma sessão de Equoterapia sem conhecer as principais variáveis de risco, é negligenciar.

PREPARANDO OS MEDIADORES

Sabemos que existem muitas providências a serem tomadas em direção a um atendimento mais seguro, como a preparação dos cavalos, a manutenção das instalações físicas do C.E. e do equipamento, etc., mas neste trabalho focaremos a preparação dos mediadores e auxiliares, a fim de torná-los capazes de prevenir e evitar um trauma físico e/ou emocional ao praticante. O treinamento é o caminho preventivo para a segurança e conseqüente evolução do processo terapêutico.

Assim como para um escalador participante vir a ser um guia instrutor, ele tem que passar por vivências, às vezes anos de escalada, para conseguir enxergar as variáveis, visualizar os riscos envolvidos e daí partir para uma tomada de decisão e guiar uma cordada, na Equoterapia, considero que existam dois tipos de profissionais que participam do atendimento, os mediadores (guias) e os auxiliares (participantes). Como na escalada, tanto um como o outro são essenciais ao processo, mas o mediador tem que ter muita vivência, conhecer as possibilidades, prever os movimentos tanto do cavalo como do praticante, e dominar o ambiente a sua volta.

O mediador tem que conhecer muito bem as variáveis: CAVALO–AMBIENTE– PRATICANTE – EQUIPAMENTO.

Como instrutor de escalada, aprimorei o meu curso básico focando nos conteúdos fundamentais para que o aluno pudesse dar continuidade em sua evolução dentro do esporte. Concentrei-me nos aspectos de segurança, pois praticando de forma prudente, os alunos teriam tempo para adquirir experiência. No decorrer das aulas, percebi que os conteúdos ministrados na própria montanha, com exemplos práticos, eram aprendidos mais facilmente.

PIAGET (1982) nos elucida este fato quando explica o processo de aprendizagem ocorrendo através da assimilação, acomodação e adaptação, onde o indivíduo busca adaptar-se às novas situações, assimilando os estímulos externos e os acomodando junto aos seus conhecimentos anteriores, atualizando os seus conceitos e incrementando a sua cognição.

Mas como assimilar algo a distância? Apesar de o ser humano ter a capacidade de visualizar e imaginar situações e sensações que serão vividas, a precisão deste mundo imaginário, virtual, dificilmente compreende a totalidade da realidade e acaba por produzir pseudo-conhecimentos. Por isso, passei a possibilitar que meus alunos construíssem o seu aprendizado na área de escalada, levando-os à rocha logo no primeiro dia, construindo o aprendizado com a prática em tempo e situação reais, monitorando as possibilidades de risco, mas oferecendo uma estimulação multi-sensorial e emocional, resultantes do contato com o maior número de variáveis reais que iriam encontrar no dia a dia da prática.

Foi da experiência como instrutor de escalada, equitador e equoterapeuta, e da necessidade de montar uma equipe de mediadores em Equoterapia que desenvolvi o Pegasus Preventivo – Conhecendo e minimizando os riscos da prática equoterapêutica – um programa de treinamento que busca, através de vivências e simulações de situações cotidianas na Equoterapia, propiciar aos profissionais uma conscientização dos riscos envolvidos no trabalho, construindo na prática uma conduta com atitudes seguras e, consequentemente, prevenindo a ocorrência de traumas.

1) O Treinamento:

Sujeitos: equipe multi-profissional de atendimento a pessoas com necessidades especiais: três psicólogas, duas fonoaudiólogas, uma terapeuta ocupacional, uma fisioterapeuta, uma musicoterapeuta e uma psico-pedagoga, coordenadas pelo Equoterapeuta, Equitador e Psicólogo, Kether van Prehn Arruda.

Local: Estudos teóricos: Associação Beneficente São Lucas, Bragança Paulista, SP – instituição cuja demanda permitiu gerar o programa de Equoterapia Pegasus;

Práticas: Centro Hípico Viverde – local em que os cavalos são mantidos, parceiro que tornou possível a prática da Equoterapia Pegasus.

Duração: 20 horas de estudos teóricos na instituição;

20 horas práticas no Centro de Equoterapia;

02 meses de atendimento supervisionado.

Método: o programa dividiu-se em três fases distintas:

a) 1ª. FASE - Conhecendo melhor o parceiro-cavalo.

b) 2ª. FASE – Situações de risco e emergência: como evita-las e como sair delas.

c) 3ª. FASE – Supervisão da prática.

2) Fases do treinamento

a) Conhecendo melhor o parceiro– cavalo

Iniciamos o trabalho de formação da equipe com estudos teóricos sobre as relações: cavalo X cavalo e homem X cavalo.

Partimos da história do cavalo no planeta, seu histórico junto ao homem, sua constituição física, raças, cores, alimentação, o movimento tridimensional e também o estudo das relações entre cavalos (comunicação, liderança, proteção e acolhimento). Então direcionamos para a relação cavalos X pessoas, nosso principal foco.

Para promover um contato maior com os conteúdos, me utilizei de textos de Monty Roberts e um filme inspirado em seus feitos, O Encantador de Cavalos. Este material foi capaz de homogeneizar os conhecimentos da equipe sobre o comportamento do nosso parceiro.

O contato prático foi realizado de maneira gradativa e seqüencial, a fim de facilitar a aproximação e o aprendizado dos profissionais. Iniciamos com uma revisão das aulas teóricas, abrangendo aspectos como a constituição física dos cavalos, cores, etc. e o primeiro contato com os animais se deu através dos seus cuidados. Os profissionais tiveram que buscar os cavalos nas baias, escovar, pentear, rasquear, lavar, limpar as ranilhas e alimenta-los.

Quanto aos equipamentos de montaria, eles foram apresentados enquanto cada participante ajudava a encilhar um cavalo com sela, manta e cabeçada. Durante a vivência, sempre que possível, sinalizei aos profissionais as diversas reações dos cavalos e o que significavam, como morder ao apertar a cilha, pisar no pé durante a escovação e vivenciamos, na prática, o posicionamento de proteção que o mediador deve ter quando ensina estes procedimentos aos praticantes.

Este treinamento foi direcionado a pessoas que, em sua maioria, já tinham contato com equoterapia e ou realizado o curso Básico da ANDE, portanto, foi uma revisão dos aspectos citados acima, porém com enfoque na segurança ao lidar com o animal, sempre sinalizando aos alunos durante a execução das atividades, as possíveis reações dos cavalos.

Após a aproximação e o treinamento de tratos, partiu-se para a condução do parceiro-cavalo, o que nos tomou 05 horas de equitação no picadeiro, consolidando a relação de dominância.

Neste momento os profissionais tiveram a oportunidade de testar a sua capacidade de se comunicar com o seu parceiro-cavalo e diante desta comunicação, estabelecer uma relação onde um dos dois iria dominar. É claro que é uma construção e, diga-se de passagem, é engraçado ver os cavalos testando a dominância dos novos equitadores. O mediador não precisa ser um profissional da equitação, mas tem que estabelecer tal relação de dominância. Falo de uma relação que os cavalos habitualmente procuram; na manada, um é líder e os outros são protegidos por ele. Os cavalos nos oferecem a liderança e se sentem seguros com um líder compreensivo. Na mediação, esta relação tem que estar bem definida: o mediador é o líder. Nas aulas de equitação me foquei em mostrar, exemplificar e treinar os comandos de condução dos animais, sinalizar o teste de dominância ao qual os terapeutas estavam sendo submetidos e os auxiliei a estabelecer uma relação de liderança e respeito com os cavalos.

b) Mediando com segurança

A equipe passou 10 horas simulando situações cotidianas de riscos presentes na equoterapia.

Nesta ocasião os profissionais já conheciam de forma satisfatória o cavalo, os equipamentos e já tinham estabelecido uma relação de liderança com os cavalos. Já conheciam muitas das principais variáveis que compõem um atendimento de Equoterapia e que influem diretamente na segurança, como: o cavalo, suas reações e como domina-lo. Faltava agora saber agir quando não se pode dominar o cavalo. Partindo então da ordem dos acontecimentos em um atendimento, simulamos atendimentos de pessoas com patologias diversas, inclusive tetraplégicos adultos, espásticos, autistas, praticantes sem reflexos de proteção, agressivos que se auto-flagelavam e agrediam o cavalo. Todos os profissionais representaram os diversos personagens do setting terapêutico; auxiliar guia, auxiliar lateral, mediador e praticante, realizando a aproximação, alimentação com cenoura e feno, formas de montar e apear; simulamos os exercícios de flexibilização sobre o cavalo, volteio terapêutico, mudanças posturais e condução na guia. Focamos, nesta etapa, a construção de procedimentos mais seguros ao mediar a relação praticante X cavalo e saber sair de possíveis riscos de traumas. Exemplificando situações de risco, além dos profissionais se revezarem nos papéis, vivenciando de distintos pontos de vista os procedimentos, emoções e riscos inerentes a prática, finalizei estes procedimentos com uma avaliação prática onde eu era um praticante sem reflexo de proteção, e pedia para que os profissionais realizassem diversas mudanças posturais, tentava me jogar do cavalo sempre que tinha oportunidade e os terapeutas tinham que contornar a situação.

c) Supervisão da prática dos atendimentos

Após o treinamento, iniciamos os atendimentos propriamente ditos, todos precedidos de avaliação médica, avaliação de todos os profissionais envolvidos, construção interdisciplinar do planejamento e avaliação sobre o cavalo. Nesta etapa, atuei inicialmente como mediador de todos os atendimentos até passar a supervisor. Neste período, percebi que os profissionais puderam consolidar o conhecimento que haviam construído durante o treinamento e passaram a ter uma consciência maior dos riscos envolvidos e de como evita-los.

Como equipe, conseguimos construir uma consciência uniforme quanto à segurança, formando uma base sólida e preparada para a evolução da equipe, cuja formação gerou outro trabalho apresentado neste congresso, que aborda a equipe interdisciplinar com mediação transdisciplinar.

Contato do autor: ketherarruda@hotmail.com

BIBLIOGRAFIA

AMARAL, P.L. Relatórios de Acidentes em Esportes de Montanha. http://www.segurancaemmontanha.com.br. Acessado em 25/01/2006, às 14:00h.

ARRUDA, K. P. O Cavalo Como Agente Libertador do Fluxo ao Desenvolvimento Completo dos Indivíduos. Salvador, BA: Anais do Primeiro Congresso Ibero Americano e Terceiro Congresso Nacional de Equoterapia, 2004.

Código Civil Brasileiro (Lei nº 10.406, de 10/01/2002 e suas atualizações).

Código Penal Brasileiro (Decreto-Lei nº 2848, de 07/12/1940 e suas atualizações).

GRAYDON, D. Mountaineering: The Freedom of the Hills. 5a. ed, Seattle, USA: The Mountaineers, 1992.

PIAGET, J. O nascimento da inteligência na criança. 4. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1982.

ROBERTS, M. O Homen que Ouve Cavalos. 8. ed., Betrand Brasil LTDA, 2005.

ROGERS, C. R. Sobre o Poder Pessoal . (Trad. Wilma Millan Alves Penteado; Rev. Estela dos Santos Abreu). São Paulo: Martins Fontes, 1978.

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