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Insegurança Alimentar e Medo de Covid-19 em Mulheres

Por:   •  14/1/2023  •  Dissertação  •  5.512 Palavras (23 Páginas)  •  59 Visualizações

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1 INTRODUÇÃO

O coronavírus-2 da síndrome respiratória aguda grave (SARS-CoV-2), a partir do ano de 2019, criou desafios sem precedentes, causando grande infortúnio na saúde pública. Iniciado com um surto na província chinesa de Wuhan, pensava-se que estava centralizado apenas naquela região, mas rapidamente se dispersou. A doença do coronavírus 2019 (COVID-19) causada pelo SARS-COV-2, ganhou a partir do início de 2020, status de pandemia (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2020), se propagando para mais de 200 países e se tornando uma emergência de saúde pública internacionalmente declarada, à medida que continuou a crescer exponencialmente(DONG; DU; GARDNER, 2020) com o surgimento de múltiplas variantes que alteraram o potencial patogênico do vírus e foram associadas a maiores taxas de transmissibilidade (KORBER et al., 2020) ao longo dos últimos dois anos. Com o propósito de refrear à propagação do vírus, alterações nos padrões de vida foram necessárias como lockdown, distanciamento social, quarentena, uso de máscaras, fechamento de escolas e locais públicos. O contexto pandêmico levou à rápidas mudanças nas condições sociais, econômicas e de saúde e causou consequências socioemocionais como resultado do novo nível de tensão e estresse (DE GIROLAMO et al., 2020; HUANG; ZHAO, 2020; MAZZA et al., 2020; OZAMIZ-ETXEBARRIA et al., 2020; QIU et al., 2020; WANG et al., 2020; ZHANG et al., 2020). As alterações impostas pelo cenário pandêmico têm o potencial de se manifestar de uma forma que pode suprimir as relações interpessoais e a qualidade de vida, aumentar o medo e produzir resultados negativos para a saúde mental (PANCHAL et al., 2021; ROYCHOWDHURY, 2020). A Organização Mundial da Saúde, logo após as recomendações para refrear a propagação do vírus, alertou para as consequências que essas medidas poderiam trazer para a saúde mental, como solidão, insônia, depressão, ansiedade e comportamento suicida (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2020).

A saúde mental é um tema amplo que envolve transtornos psicológicos, emocionais e comportamentais. Também pode abranger aspectos socioeconômicos, culturais e, até mesmo, de acessibilidade (WORLD HEALTH ORGANIZATION; NONCOMMUNICABLE DISEASE AND MENTAL HEALTH CLUSTER, 2003). Vários estudiosos têm demonstrado a associação entre a atual pandemia de COVID-19 e piora da saúde mental (XIONG et al., 2020). Certos aspectos da doença, como a incerteza acerca da sua disseminação, evolução ou sobre a imunidade dos pacientes que foram infectados, aumentaram o sentimento de medo entre

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a população (ORELLANA; ORELLANA, 2020; ORNELL et al., 2020; RODRÍGUEZ-REY; GARRIDO-HERNANSAIZ; COLLADO, 2020). Esse medo, gerado pela percepção de estímulos ameaçadores, já foi observado em epidemias anteriores, como a causada por SARS (REYNOLDS et al., 2008) ou Síndrome Respiratória do Oriente Médio - Coronavírus MERS-CoV (BUKHARI et al., 2016) e mostrou-se uma variável de grande relevância, ilustrando como as consequências psicológicas da pandemia de COVID-19 podem se revestir de características próprias (ORNELL et al., 2020). O medo aumenta os níveis de ansiedade em indivíduos saudáveis, bem como naqueles com condições de saúde mental preexistentes (SHIGEMURA et al., 2020).

A pandemia de COVID-19 e os impactos econômicos e sociais associados, incluindo perdas de empregos, riscos à saúde e isolamento decorrentes de medidas de distanciamento social, tiveram o potencial de acentuar os resultados ruins de saúde mental entre adultos de baixa renda (ETTMAN et al., 2020), particularmente entre aqueles em insegurança alimentar (NAJA; HAMADEH, 2020). A insegurança alimentar (IA) cujo conceito compreende a falta de acesso físico, econômico e social a alimentos de forma a satisfazer as necessidades nutricionais, apresenta-se desde a preocupação com a incerteza da aquisição futura dos alimentos a uma redução ou mesmo ausência desses alimentos (FAO, 1996), têm elevada prevalência na população brasileira desde os primeiros estudos realizados a partir de 2004 (IPEA, 2015). A IA é um determinante social da saúde que atinge demasiadamente as minorias raciais e étnicas assim como as famílias de baixa renda (COLEMAN-JENSEN; RABBITT; SINGH, 2018) e tem sido associada a desordens nutricionais em mulheres adultas em idade reprodutiva em diferentes países (KAC et al., 2012). Evidências indicam que a IA também está correlacionada a resultados adversos na saúde física (ABDURAHMAN et al., 2019; WEAVER; FASEL, 2018), e a resultados negativos à saúde mental, incluindo depressão e ansiedade(ARENAS et al., 2019). A alimentação é um direito humano fundamental que foi violado durante a pandemia do coronavírus, causando uma recessão sem precedentes. Conforme um relatório de avaliação global, a pandemia gerou efeitos devastadores na economia e foi constatado que quase um décimo da população mundial (cerca de 811 milhões de pessoas) passou fome em 2020. No Brasil, de acordo com inquérito nacional realizado no contexto da pandemia de COVID-19, a insegurança alimentar esteve presente em 55% dos domicílios brasileiros (REDE PENSSAN, 2021). A pandemia continua revelando deficiências em nossos sistemas alimentares e

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ameaçando a segurança alimentar de pessoas em todo o mundo, especialmente entre os indivíduos mais vulneráveis (ONU, 2021). O súbito surgimento da pandemia de COVID-19 obscureceu ou agravou as preocupações já existentes de IA. De acordo com uma projeção recente do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas (ONU, 2021), a COVID-19 pode agravar os riscos de insegurança alimentar aguda para mais 130 milhões de pessoas. A exposição a IA, além de estar relacionada a situações como a ocorrência de doenças crônicas, também envolve sintomatologia de ansiedade e depressão (LEUNG et al., 2015; SELIGMAN; LARAIA; KUSHEL, 2010; TAMIRU et al., 2016). Portanto, além da violação dos direitos humanos, a IA representa um prognóstico para as condições de saúde e nutrição de uma população e configura importante problema estrutural da sociedade, necessitando ser constantemente monitorada no que se refere aos determinantes de sua ocorrência (ONU, 2021). As consequências da COVID-19 na vida das pessoas ainda precisam ser entendidas claramente, uma vez que poucas evidências em estudos surgiram até agora. O estudo atual examina as interrelações entre o medo de COVID-19, estressores individuais, recursos sociais e psicológicos e níveis de ansiedade entre mulheres em vulnerabilidade social, usuárias do Sistema Único de Saúde, durante a atual pandemia de doença coronavírus 2019. Possui como hipótese que o sentimento de medo vivenciado pela COVID-19, situação de caráter transitório

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