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A Prancheta E O Canteiro

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Por:   •  1/10/2013  •  2.744 Palavras (11 Páginas)  •  276 Visualizações

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A PRANCHETA E O CANTEIRO

(Arq. Luiz de França Roland)

Arquitetura é a atividade cultural humana que, valendo-se de processos tecnológicos disponíveis, tem como objetivo a organização dos espaços fechados e dos espaços abertos necessários ao desempenho das demais atividades humanas.

Entendo por espaços fechados aqueles que se referem às edificações, abrangendo as suas variadas tipologias. Por espaços abertos entendo aqueles que, como meio ambiente cul-turalmente modificados, são necessários ao desempenho de atividades humanas exercidas fora das edificações.

Na organização dos espaços fechados e na organização dos espaços abertos, a arquite-tura abrange todos os elementos necessários ao acerto desses espaços.

Assim, além das edificações em si, a arquitetura abrange, na organização dos espaços fechados, a concepção da decoração ambiental e todos os objetos que fazem parte e são ne-cessários à organização da edificação.

Na organização dos espaços abertos, a arquitetura abrange todos os detalhes urbanísti-cos, paisagísticos, bem como os objetos e construções que fazem parte e complementam os espaços abertos.

A Arquitetura preocupa-se, em especial e prioritariamente, com a qualidade de vida das pessoas, levando-se em consideração a construção, a conservação e a recuperação do pa-trimônio cultural edificado e do meio ambiente. E, fundamentalmente, como voltarei a falar mais adiante, Arquitetura é obra construída. Não é arte e não é ciência, é obra.

Definição de arte e de ciência

Se eu afirmo que arquitetura não é arte e não é ciência, é necessário que fique claro o que eu considero que seja arte e o que seja ciência.

Os engenheiros, genericamente, se consideram cientistas e atribuem aos arquitetos a qualidade, geralmente aceita por estes, de serem artistas. Esta visão tem, acentuadamente, condicionado as práticas da engenharia civil e da arquitetura. Essa dicotomia entre arte e ci-ência tem condicionado os trabalhos realizados na prancheta pelo arquiteto e no canteiro de obras pelo engenheiro civil.

Benedetto Croce, no seu livro “Breviário de Estética” faz a pergunta: o que é arte? E responde com uma afirmação, no mínimo curiosa mas que ele considera como não sendo destituída de sentido: “arte é aquilo que todos sabem o que seja.”

Acredito que se não ficar estabelecida uma mesma linguagem no diálogo entre as pes-soas dificilmente ocorrerá um entendimento entre elas. Proponho, então, que se considere como sendo “arte” qualquer ponto de ruptura no avanço do conhecimento. Em outras pala-vras, não somente o canto gregoriano, ou a música de Erik Satie, contém significado artístico como, por exemplo, a roda, o zero, o teorema de Pitágoras e o transistor são eventos artísti-cos. O canto gregoriano, a música de Satie, Pitágoras, a roda, o transistor e o zero significa-ram rupturas no avanço do conhecimento. E, tão importante quanto essa verificação, o mo-mento da ruptura, quem provoca a ruptura, o evento artístico, se identifica como sendo artis-ta. Portanto, artista pode ser qualquer ser humano, arquiteto, engenheiro civil, matemático, ou qualquer outro ser pensante. Desde que eles façam arte, que provoquem rupturas.

Por outro lado, nesse contexto, ciência não é uma entidade particularizada. Ciência na-da mais é do que um comportamento. Ninguém faz ciência. Fazemos, por exemplo, arquite-tura, engenharia civil, matemática etc, assumindo um comportamento científico. Repito, ci-ência não é uma entidade isolada, autônoma. É simplesmente um comportamento. Qualquer que seja a pessoa, incluindo o engenheiro e o arquiteto, que assume esse comportamento, e enquanto tal, é um cientista. Não há distinção, no âmbito da arte e da ciência, entre engenhei-ro civil e arquiteto.

Teoria da Arquitetura (Tedeschi)

Voltando à conceituação do que seja arquitetura faço outra citação. Enrico Tedeschi no seu livro “ Teoria da Arquitetura”, afirma: a arquitetura enfrenta uma complexa situação cul-tural universal e procura (supõem-se) cumprir sua tarefa. Deve resolver uma quantidade de problemas que surgem das necessidades das edificações, do entorno em que devem se situar, das técnicas e dos materiais que podem ser utilizados, das necessidades econômicas e sociais que deve satisfazer. As soluções não podem se dar separadamente, pois a obra arquitetônica deve ser um organismo unitário como todo organismo deve ser. Por outro lado, o arquiteto deve ter uma idéia dos recursos especiais e plásticos (estéticos) que o permitem realizar sua arquitetura. Deve ter uma idéia da escala com a qual a edificação expressará melhor sua sen-sibilidade para a solução dos problemas dos usuários e sua relação da sua arquitetura com o entorno.

Todavia, o fato do arquiteto lidar com a estética não o transforma, só por isso, num ar-tista. Repetindo, não existe nenhuma atividade humana que possa prescindir da estética.

Arquitetura - Prancheta e Canteiro:-

Acredito que já podemos entrar no tema da minha exposição: A PRANCHETA E O CANTEIRO.

Carlos Fayet, diplomado no curso de Pintura na Escola de Artes da Universidade Fede-ral do Rio Grande do Sul, é arquiteto e urbanista diplomado pela mesma Universidade, afir-ma: o que interessa na arquitetura é aquilo que se vê. Arquitetura é obra construída. O pro-jeto, a prancheta, é uma etapa e não a mais importante. Para o arquiteto, o canteiro é mais importante. É no canteiro que a arquitetura se consubstancia.

A atividade do arquiteto não é somente a de projetar, não se limita a prancheta, ele de-ve ser também responsável pela execução da obra. Nisso Carlos Fayet é radical: pessoalmen-te, ele entende que o arquiteto deveria ser proibido de somente projetar.

Para ele, Fayet, o arquiteto que projeta deve ter a obrigação de dirigir a obra, ou, pelo menos, de se responsabilizar por ela, transferindo este serviço, se for o caso, para outro pro-fissional da arquitetura, sob sua supervisão. Na medida em que isso aconteça, o arquiteto deixa de ser, para parte considerável da sociedade, o que é hoje: um profissional supérfluo e na maioria das vezes, inutilmente dispendioso. Um enfeitador de edifícios.

A maior parte da arquitetura no Brasil ainda é realizada sem a participação do arquite-to. Na Espanha, afirma Fayet, a participação do arquiteto no canteiro de obras é obriga-tória.

Todavia, essa idéia de colocar o arquiteto

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