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O Trabalho de Negociação

Por:   •  16/4/2021  •  Monografia  •  2.561 Palavras (11 Páginas)  •  79 Visualizações

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Antes de ingressar no momento do genocídio ocorrido em 1994, ambiente em que se passa o filme Hotel Ruanda, faz-se necessária uma breve contextualização histórica do país desde a colonização belga, após a Primeira Guerra Mundial, até sua independência em 1962.

A rivalidade entre hutus e tutsi é antiga e já dava sinais de sua existência desde o processo de colonização. A minoria da população pertencente à etnia tutsi sempre foi privilegiada pelos colonizadores, que exaltavam sua superioridade em relação aos da etnia hutu e reservavam para eles os melhores postos da administração colonial.

A Bélgica realizou um censo, nos anos 30, que demonstrou que os hutus representavam cerca de 85% da população, os tutsis 14% e os twa 1%. Foram então emitidas carteiras de identidades para vincular cada cidadão à sua etnia. A partir dessas carteiras de identidade segregacionistas, a etnicidade tornou-se o fator definidor da existência e dos conflitos em Ruanda.

Em setembro de 1959, os hutus fundaram a União Nacional Ruandesa para lutar pela independência e deflagraram a chamada “Revolução Social”, cuja finalidade era a ascensão ao poder. Durante esse processo foi cometido um massacre contra a população tutsi, provocando um enorme fluxo de refugiados para os países vizinhos. O objetivo da revolução hutu foi atingido e os tutsis passaram décadas tentando retornar ao poder.

A violência entre etnias levou à intervenção da ONU, em 1960, para mediar o processo de paz. Após isso, a Bélgica, já enfraquecida e sofrendo pressão das Nações Unidas, favoreceu a independência de Ruanda.

A oposição étnica e política entre hutus e tutsis ganhou um tom mais violento a partir da independência, em 1º de julho de 1962, quando então intercalaram-se ciclos de violência, em que tutsis subjugaram hutus e vice-versa.

Por meio de uma série de processos, reformas e golpes os hutus assumiram o poder e passaram a perseguir os tutsis, tirando-os dos cargos políticos, estipulando cotas para escolas, hospitais e universidades. Vários ataques em massa contra a população tutsi foram perpetrados ao longo dos anos.

Na década de noventa os tutsis reagiram às políticas de discriminação aderindo à Frente Patriótica Ruandesa (FPR), para lutar pelo poder. Em resposta os hutus organizaram a milícia Interahamwe, destinada a combater a FPR, os hutus e os twas.

O conflito foi avançando e os hutus conseguiram tomar a capital Kigali e a maioria das cidades de Ruanda, por meio da milícia Interahamwe e do Exército.

Posteriormente as forças tutsis da FPR avançaram e assumiram o controle de grande parte do território, levando centenas de milhares de hutus a fugir para os países vizinhos, temendo represálias.

O filme “Hotel Ruanda”, do diretor Terry George, se passa em 1994, entre os meses de abril e julho, e conta a história de um hutu chamado Paul Rusesabagina, na época gerente do Hôtel des Milles Collines.

O filme mostra que em Ruanda o clima era de máxima tensão em 1994, quando por meio da Radio Télévision Libre de Mille Collines (RTLM), dirigida pelas facções hutus extremistas, mensagens foram emitidas ressaltando as diferenças que separavam ambos os grupos étnicos e conclamavam a população hutu a matar os inimigos tutsis.

O resultado foi o assassinato, por motivação étnica, de mais de 800 mil tutsis, incentivado pelo governo hutu, enquanto a população internacional ignorava o genocídio.

O filme Hotel Ruanda teve como objetivo chamar a atenção para o genocídio, além de retratar o sofrimento dos refugiados do massacre, centrando foco na figura de Paul Rusesabagina, que por meio de sua posição social, conseguiu dar abrigo e salvar a vários deles.

A trama do filme se desenvolve observando as negociações realizadas por Paul Rusesabagina, durante o ápice do genocídio, para conseguir salvar a vida de mais de 1.200 pessoas, que permaneceram abrigados no hotel, por meio de apelos emocionais, de bons contatos e de subornos.

Além disso, em Hotel Ruanda, é perceptível o cuidado do diretor Terry George em não mostrar toda a real e violenta realidade e focar nas negociações constantes para salvar as vidas dos refugiados. Há, entretanto, certa estereotipação dos generais e soldados hutus, o que conduz o espectador para um óbvio desprezo pelos inimigos dos tutsis.

Deve-se esclarecer que tutsis e hutus têm tradições similares e falam a mesma língua. Porém, nem mesmo essas semelhanças foram incapazes de evitar o ódio étnico plantado naquele país, que fez com que vizinhos matassem vizinhos a golpes de facão.

O filme Hotel Ruanda, inspirado no livro "Gostaríamos de informá-lo de que amanhã seremos mortos com nossas famílias” (Gourevitch, 2000), conta o genocídio ocorrido em Ruanda a partir da narrativa pessoal de Paul Rusesabagina, gerente do Hôtel des Milles Collines, localizado em que Kigali, capital de Ruanda. Paul, é um hutu casado com Tatiana, uma tutsi, e consegue salvar centenas de refugiados além de sua própria família.

O filme se inicia com provável assinatura de um acordo de paz entre os povos tutsis e hutus, mas antes da formalização da trégua entre as duas etnias, o então presidente, um hutu, sofre um acidente aéreo e morre. Após isso, a Radio Télévision Libre de Mille Collines, passou a emitir mensagens de ódio, focadas nas diferenças entre os grupos étnicos, convocando a população hutu a matar os tutsis.

Na medida em que o conflito avançava, os apelos à confrontação e à “caça aos tutsis” tornaram-se mais explícitos. O próprio governo começou a instigar os assassinatos, chamando os tutsis de “baratas”, o que levou grande parte deles ao exílio.

Enquanto isso, a ONU enviou tropas para tentar conter o massacre, contudo essas tropas foram insuficientes e, diante do desinteresse internacional, logo foram retiradas de Ruanda. O resultado foi o assassinato de mais de 800 mil tutsis, um genocídio.

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