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A Contribuição ao Estudo do Sincretismo Católico-Fetichista

Por:   •  13/7/2019  •  Trabalho acadêmico  •  1.846 Palavras (8 Páginas)  •  148 Visualizações

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BASTIDÉ, Roger. Contribuição ao Estudo do Sincretismo Católico-Fetichista. In: _______________. Estudos afro-brasileiros. São Paulo: Perspectiva, 1983.

O autor inicia o texto destacando que Nina Rodrigues foi o primeiro a atentar para o sincretismo entre os orixás negros da Bahia e os santos católicos. Para Rodrigues os africanos limitavam-se a justapor os santos católicos aos seus deuses, os considerando perfeitamente iguais, o que se tratava de uma ilusão da catequese. P. 159

O autor comenta o seu intuito de partir de uma Etnologia para uma Psicologia Social para descobrir as atitudes da alma do negro na confusão de um orixá e um santo, e saber os sentimentos presentes nesse sincretismo. Salientando que durante sua pesquisa estava raciocinando com uma mentalidade de sociólogo, através da qual suas próprias perguntas influenciavam nas respostas dos entrevistados. O autor trabalha com o problema do sincretismo católico-fetichista. P. 160

Em primeiro lugar é necessário lembrar que este sincretismo não é um fenômeno recente nem estritamente localizado. É um fenômeno antigo, pois se encontra desde a colonização do Brasil, no quilombo dos Palmares através dos gestos e ritos (sinal da cruz, orações) e da união dos deuses africanos e santos (imagens católicas nos templos dos quilombos). Assim como é um fenômeno presente em outros locais como em Cuba, Haiti, etc. p.160-1

Esse sincretismo não é rígido e cristalizado, ele está sempre em formação, é fluente e móvel, assimilando elementos diversos conforme as épocas. Por exemplo, na época estudada por Rodrigues, Xangô (deus do raio e do trovão) se relacionava com Santa Barbara (padroeira das tempestades). Já na época do estudo de Bastidé, Xangô estava identificado com São Jerônimo. Assim como muitos autores divergem sobre a identificação de Iemanjá (Nossa Senhora do Rosário, Virgem Maria, Nossa Senhora da Piedade). Estes fatores demonstram que o sincretismo não é uma coisa fixa, cristalizada, ele varia e se mantêm em constante evolução gerando novas identificações. P. 161-4

Esta variabilidade é mais forte quando a estudamos no espaço e não no tempo. As identificações e relações variam profundamente segundo as localidades como Bahia, Alagoas, Recife, e Porto Alegre. Estas grandes cidades estão muito afastadas umas das outras, o que obrigou a cada centro a descobrir por si só suas identificações e diante das especificidades de cada local. P. 164

Esta diferenciação é contrabalançada por dois fatos: primeiro pela própria hagiologia (estudo da vida dos santos) católica e segundo o efeito da imitação. É evidente quando se tem um orixá da varíola como Omolu, que ele vai estar ligado a um santo protetor das chagas e das moléstias de pele como São Lazaro, assim como um santo guerreiro como São Jorge que derrotou dragões fabulosos só pode estar relacionado a Oxossi, o orixá da caça. Assim como o efeito da imitação é muito presente naquelas cidades bastante próximas uma das outras, como na Bahia, Recife e Alagoas, devido ao transito de pais-de-santo por estes locais. Neste sentido a imitação desempenha um papel bem nítido. P. 165

No entanto estas imitações por vezes se fazem de maneira errônea e inábil, devido a presença de xangôs relacionados ao charlatanismo e não a tradição. Assim como estas imitações são bastante influenciadas pelas leituras de livros de afrologistas. Os pais-de-santo costumam ler o que escrevem sobre eles e sobre as crenças e religiões o que influencia na reformulação de sua própria religião. P. 168

A diversidade de identificações encontradas de cidade para cidade talvez provenha, em parte, destas pesquisas terem sido realizadas em nações diferentes. Se ao contrário, se explorasse sempre a mesma nação, talvez se encontrasse um pouco mais de assimilação idêntica. Neste sentido, Bastidé ressalta a existência de dois fenômenos de sincretismo: o sincretismo regional e o sincretismo étnico. O sincretismo varia no ritual de cada nação, assim como variam de terreiro em terreiro numa mesma região. P. 168-9

Existe ainda uma ultima confusão a ser evitada. Cada orixá é múltiplo, devido a multiplicidade de nações, “existem vários Xangôs, um em cada nação”. Além disto, tudo orixá tem duas formas (moço e velho) e forma cada tem uma identificação diferente, portanto um santo católico diferente. (Ex: Oxalá moço = Menino Jesus, Oxalá velho = N. S. do Bonfim na Bahia; Oxalá moço = Jesus Cristo, Oxalá Velho = Deus, o Padre Eterno em Recife). P. 170-1

Como percebemos a questão do sincretismo é mais complicada que o suposto pelos livros acerca do afro-brasilianismo, o que exige uma nova metodologia por parte dos pesquisadores, substituindo as considerações gerais e globais por uma abordagem analítica de cada terreiro, que leve em conta sua nação, a fragmentação de seus múltiplos orixás e assimilação católica de cada um. A partir disto então seria possível traçar comparações e resolver os problemas de identificação entre os diversos sincretismos, nas diversas localidades do Brasil. P. 171-2

É necessário também indicar a data do terreiro estudado, sua fundação e genealogia, de maneira a distinguir o sincretismo de tradição ao sincretismo de imitação, na busca por eliminar os sincretismos de fatos, as copias e charlatanismos de “zeladores” sem iniciação suficiente e repleta de erros de interpretação. P. 172

A questão é ainda mais vasta, ela engloba gestos e ritos. Não se trata apenas de fusão de deuses da África com os santos; trata-se de uma relação entre o candomblé e a Igreja Católica. Esta inserção de uma religião na outra ocorre porque geralmente os mesmos indivíduos freqüentam as duas igrejas. Bastidé destaca que existem dois casos: a penetração do candomblé no ritual católico, e a penetração do catolicismo no candomblé.

No primeiro caso, o autor cita o exemplo da famosa festa da lavagem de Nosso Senhor de Bonfim. Uma cerimônia de origem portuguesa, em que os pretos introduziram o costume de sua religião de lavar os objetos sacrificiais com óleo-de-dendê, sangue ou água da fonte sagrada, com isto confundindo as cerimônias e transformando a lavagem em uma festa sincrética católico-fetichista. P.173

Existem ainda outras igrejas católicas ligadas a religião africana, como a da Nossa Senhora da Conceição da Praia que está intimamente ligada a Iemanjá. Além disto, em geral, toda festa de candomblé é precedida por uma missa que o zelador faz celebrar. Ao tardar da noite se celebra a festa pagã. Pode se argumentar que este fato era uma forma de proteção ao culto pagão dos negros que sofria perseguições, mas como afirma Batisdé, em determinados período não havia mais motivos para se esconder, portanto é um fenômeno tradicional do sincretismo, uma aliança entre as duas religiões. P. 174

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