As Mãos Inteligentes

Os gestos das mãos vão a todos os lugares por meio da linguagem, em sua mais perfeita pureza. Todos os movimentos das mãos são expressados por meio do pensamento.

-As mãos e as ferramentas

        A mão, ao utilizar uma ferramenta, não a considera como um elemento distinto dela, mas sim a união perfeita entre um objeto animado e o inanimado. A ferramenta se transforma em uma extensão da própria mão, criando um novo órgão, a “mão-ferramenta”. A mão que segura uma ferramenta deixa de ser uma mão, e se torna a própria ferramenta.

        O processo de melhorias, uso e rejeição são o que evoluem as ferramentas. Séculos de trabalho contínuo refinaram as ferramentas básicas, como a faca, o martelo e o machado. Além de possíveis melhorias que são guiadas muitas vezes pelos fatores de função e beleza. Assim como as mãos humanas, as ferramentas são genéricas e específicas, como se uma ferramenta desenvolvida em tal cultura tivesse o seu próprio “DNA” específico.

        As ferramentas possuem uma beleza especial e indiscutível. Até mesmo as mais primitivas transmitem o prazer indiscutível de funcionalidade e desempenho perfeitos. Acima de tudo, as ferramentas transmitem a beleza das próprias mãos humanas, a mais perfeita de todas as ferramentas.

        A complexidade do desempenho das ferramentas varia daquelas que são utilizadas com uma mão às utilizadas com as duas mãos, chegando até àquelas que funcionam como extensões de toda a constituição neurológica e corporal humana. Da mesma maneira como ferramentas simples se fundem a própria mão quando utilizadas, ferramentas mais complexas, como instrumentos, também deixam de lado a parte de individualidade e se tornam um só ao encontro das mãos: um grande músico toca a si próprio, em vez de tocar um instrumento separado.

-As mãos dos artesãos

        Indivíduos treinam suas mãos para determinada tarefa e fazem um pacto com seu ofício, tornando-o destino final de toda a sua vida. São fatores que refletem na determinação, dedicação e no orgulho profissional.

        Os ateliês de arquitetos geralmente expressão a personalidade de seus profissionais. Estes são o auge de toda uma vida de trabalho árduo e fé na missão individual.

        O trabalho artesanal vem tendo seu valor resgatado na realidade tecnológica atual, em meio à toda produção mecânica/ produção em massa e a lamentável perda de contato com as mãos humanas.

        Inúmeros trabalhos artesanais e tradicionais se perderam em meio a industrialização eufórica das décadas de 60 e 70. São as tradicionais práticas de uso das mãos humanas ao redor do mundo que formam as verdadeiras habilidades de sobrevivência da humanidade. O trabalho artesanal surge da habilidade manual, do treinamento e da experiência.

        A habilidade prática de um trabalho artesanal tem total envolvimento com a imaginação, projetando uma versão imaginada da tarefa completada ou do objeto em questão. O artesão em questão precisa desenvolver uma relação muito grande entre si mesmo e a ferramenta/instrumento a ser utilizado, internalizado a natureza do material e se tornando o seu próprio produto. Muitas vezas, a semelhança entre o autor e sua criação é algo surpreendente.