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Reflexões sobre o brutalismo caboclo

Por:   •  28/5/2018  •  Projeto de pesquisa  •  1.026 Palavras (5 Páginas)  •  475 Visualizações

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Sérgio ferro arquitetura e trabalho livre

ARANTES, Pedro Fiori (Organização e apresentação). Posfácio de Roberto Schwarz. São Paulo: Cosac Naify, 2006. 456  p. ilustrado.

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[pic 1]

(1) FERRO, Sérgio, Reflexões sobre o brutalismo caboclo. In: Arquitetura e trabalho livre. São Paulo: Cosac Naify, 2006, p. 261.

Isadora Guerreiro[pic 2]

Retomando o debate

“A renovação do Artigas foi mostrar que na arquitetura há uma enorme dimensão política que todo mundo esquece.”1

O final da década de 60 representou um marco da crítica em vários setores do qual a FAUUSP participou de forma ativa em permanente diálogo com outras áreas do conhecimento (principalmente relacionadas à então Faculdade de Filosofia). A coletânea  de Sérgio Ferro, Arquitetura e trabalho livre, recémlançada pela Cosac Naify, traz a chance de retomar – não sem polêmica – o ainda atual debate instaurado naquele momento. Mostra-nos, dessa forma, que ainda é tempo de reverter o atraso causado, por um lado, pelos anos de ditadura, e, por outro lado, pelo “boicote” permanente de boa parte dos colegas de profissão. Atraso que, dificultando o conhecimento das questões levantadas pelo grupo de Sérgio Ferro, Rodrigo Lefèvre e Flávio Império, teve como conseqüência a reprodução de soluções arquitetônicas cada vez mais contraditórias ainda nos dias de hoje.

O debate teórico levantado pelo grupo o qual também norteou sua prática profissional partiu da crítica à aposta feita pela geração de arquitetos modernos pioneiros (seus mestres) no desenvolvimento das forças produtivas. Segundo esses, mesmo em um contexto autoritário, era uma etapa necessária a novas configurações de classe e à superação de nossas mazelas sociais. O arquiteto, nessa perspectiva, deveria pensar novas formas, racionalizadas, não apenas condizentes com esse desenvolvimento em curso, mas propulsoras dele pela técnica, que seria, assim, base de transformações estruturais na sociedade.

Diante da constatação que tal desenvolvimento não teve e não poderia ter como resultado avanço social algum e, pelo contrário, só aprofundava a violência do sistema, os três propõem a busca de novas práticas, partindo de novos pressupostos. Já em seu primeiro texto de maior fôlego, Arquitetura nova, de

pós n.20  são paulo  dezembro 2006

1969 , Sérgio Ferro sintetiza as críticas até então formuladas pelo grupo, chamando a atenção para a reprodução vazia de significado à qual a arquitetura dos mestres modernos (e seus seguidores estritos) havia chegado. Segundo ele, a construção civil não passou – nem poderia passar – por desenvolvimento industrial e a estética dita combativa da arquitetura moderna brasileira foi rapidamente integrada ao sistema, contribuindo para sua reprodução. A crítica, bastante ácida, naquele momento foi suficiente para instaurar sérias dúvidas em relação ao modo de fazer a “boa arquitetura”, que já demonstrava claros traços de impossibilidade de lidar com as questões da cidade no capitalismo.

O que primeiro apareceu como “inversão” de sentido da arquitetura moderna – depois constatado pelo próprio arquiteto em Brasília, Lúcio Costa e Oscar Niemeyer como sua função estrutural – e a “não-industrialização” de nossos canteiros são estudados profundamente em A produção da casa no Brasil e posteriormente em O canteiro e o desenho. No primeiro texto, o arquiteto completa a crítica de 1969 ao constatar que a industrialização não chegou aos nossos canteiros de obras exatamente porque é um dos setores produtivos o qual, pelo atraso – a pesada exploração do trabalhador em um processo produtivo de        pósmanufatura –, garante as mais altas taxas de lucro necessárias ao equilíbrio estrutural do sistema, em conjunto com os setores avançados, contando com taxas bem menores (pelo baixo uso de força de trabalho). Nesses textos a raiz de pensamento marxista aparece com força, dando à arquitetura papel central na reprodução do capital pelo fetichismo da forma mercadoria. Segundo Sérgio – e esse é um salto na crítica – a obra de arquitetura é mercadoria, pois tem todas as suas determinações, principalmente a de ser produção social. Além disso, ela carrega consigo um fator fundamental: sua forma aparente, que na mercadoria se automiza, cria “vida própria”, com o objetivo de ocultar a história de sua produção.[pic 3]

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