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A Arte Expressão

Por:   •  26/6/2019  •  Dissertação  •  1.273 Palavras (6 Páginas)  •  219 Visualizações

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Arte-representação, arte-expressão

                                   

Gisele Gallicchio

Resumo:  Este texto traz uma breve distinção entre arte-representação e arte-expressão a partir do universais de contemplação, de reflexão e de comunicação apresentados por Deleuze e Guattari.

O texto tem fins didáticos e busca sistematizar de maneira esquemática os aspectos que distinguem arte-representação de arte-expressão, utilizando a perspectiva de Deleuze e Guattari. As características a serem indicadas não atendem à reconstituição de uma história da arte, mas pretendem marcar aproximações com as “idades” da filosofia. Convém notar que as concepções estéticas mesclam-se às noções filosóficas, gerando movimentos de tensão, absorção e rupturas.

 Deleuze e Guattari (1996: 65) apontam que a história da filosofia é composta por três espécies de Universais: contemplação, reflexão, comunicação. Estes podem ser considerados como “três idades da filosofia, respectivamente, a Eidética, a Crítica e a Fenomenologia”. A Eidética é assinalada pela objetividade, pressupondo o objeto ou a coisa em si, cuja essência assegura a fonte da verdade, a qual é extraída pela contemplação. A Crítica reconhece a subjetividade, procede por reflexão, pressupondo o sujeito como condição necessária ao conhecimento e à consciência. A Fenomenologia (e a Hermenêutica) investe na intersubjetividade e na interpretação, considerando a comunicação entre sujeitos que  carrega códigos e significados portadores da interpretação de mensagens.

Estes três sentidos também sustentam as diferentes abordagens constitutivas da história da arte. Estas abordagens carregam explicações e interpretações através critérios universalizantes (universais de contemplação, universais de reflexão, universais de comunicação) que remetem a um plano de transcendência[1], concebendo a arte como representação.

A arte consiste em uma representação estética quando institui “regras e valores que demarcam o belo, o universal, o imutável, a essência, a consciência, a estrutura, a significação, a mensagem” (KROEF; GALLICCHIO, 2004). A representação comporta a determinação de uma abstração que estabelece um modelo ou um padrão a partir da divisão do mundo em binariedades (sensível/inteligível, real/abstrato, essência/aparência...). A fixação de um referente estipula um centro, um padrão, como original e possibilita operar pela equivalência, isto é, pelo critério de igualdade e semelhança que, ao reconhecer e identificar através do rebatimento sobre o Mesmo,  resulta em um traço extensivo e um valor universal.  A determinação do modelo não somente sustenta o julgamento, como também separa a arte da vida, tornando-a objeto de apreciação, índice de conhecimento, consciência e cultura.

Os três sentidos dos universais alicerçam os domínios e as abordagens da arte-representação, nos quais se localizam as escolas e se classificam os estilos, além de estipular o que pertence ou não à esfera da arte. A separação sujeito-objeto, que fundamenta a definição de conhecimento e ciência, prolonga-se na divisão autor-obra reproduzindo os critérios determinantes das funções e das concepções de arte. A arte pautada pelo belo traz seu foco na obra a ser observada, julgada e admirada como objeto de contemplação. O autor apresenta um dom e uma genialidade comprovada pelo resultado estético da obra. Quando tratada como reflexão crítica, a obra adquire nova significação. Ela consiste em um instrumento de consciência e de conscientização provocado pelo autor que, na condição de sujeito e de vanguarda, desvela a realidade. A arte ganha uma função focalizada na formação do sujeito através da obra que revela, denuncia e suscita um conhecimento crítico sobre o mundo. Já como suporte de comunicação, a obra de arte converte-se em mensagem, em objeto simbólico de troca. O autor, na qualidade de emissor, faz da obra um conjunto de significados a ser decodificado pelo público, entendido como sujeito receptor. Esta interação procede por interpretação. Nela, os símbolos e os signos contém significados específicos a serem decifrados pelo espectador numa espécie de “isto quer dizer que”, ou ainda, “o autor quis dizer que”, efetivando a troca simbólica.

        A representação acarreta a reprodução da coisa, da realidade, da informação, considerando a obra original quando institui o modelo. A “originalidade” atribui valor ao objeto e ao artista, bem como classifica estilos e define escolas.

A ruptura com a representação implica um pensamento imanente em filosofia, em que a diferença, ao se tornar afirmativa, não reporta a nenhum referente ou modelo. No plano de imanência, efetiva-se a criação que dilui as binariedades, abandona a dicotomia real(concreto)/ abstrato, desfaz o par sujeito-objeto, recusa as essências, escapa à linguagem. O pensamento torna-se inseparável do vivido, exprime o vivido, produzindo sentido. A filosofia da diferença cria conceitos que povoam o plano de imanência, ocupam o horizonte do pensamento. Neste processo, os conceitos se fazem e desfazem num movimento infinito, variando a cada encontro e construindo-se por vizinhanças. O conceito diz do acontecimento (do vivido), exprimindo sentido. Criação, expressão e experimentação resistem à reprodução, à representação e à interpretação. Elas produzem aberturas, recusam a significação e possibilitam a produção de novos sentidos (vetores de forças e expressão dessas forças geradas a cada encontro, a cada vez). Daí, o movimento de criação irredutível a qualquer forma de representar, fixar centro, padronizar, visto que faz da diferença a potência e a efetivação da singularidade. 

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