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Por:   •  4/3/2016  •  Trabalho acadêmico  •  5.426 Palavras (22 Páginas)  •  327 Visualizações

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“RECORDAÇÕES DO ESCRIVÃO ISAÍAS CAMINHA”: UMA OBRA

COMO OBJETO DE DENÚNCIA

Bianca Meira Lopes (graduanda) - (UEPG)

Resumo: O presente estudo tem como objetivo analisar a obra literária de estreia “Recordações do Escrivão Isaías Caminha” do autor Afonso Henriques de Lima Barreto. A análise será realizada pelo viés da vida e obra do autor, e a partir disto, será vista como recurso usado por Lima Barreto para denunciar mazelas sociais como a corrupção e a descriminação que ele próprio vivenciou, a partir de narrativas dos bastidores da imprensa na virada do século XX. Localizando a obra dentro da chamada literatura negra, ela será analisada como uma produção literária em que a voz negra aparece fortalecendo sentidos sobre sua própria condição social, partindo do pressuposto de que ao narrar a vida do personagem Isaías Caminha, Lima Barreto parece estar contando sua própria história, causando no leitor um reconhecimento do autor em seu personagem. Em outra perspectiva teórica, será abordada a crítica em relação à recepção do referido romance, bem como seu controverso caráter autobiográfico. Futuramente, a análise subsidiará a elaboração de proposição didática para o trabalho com literatura no Ensino Médio, considerando a Lei 10.639/03, que tornou obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira na educação básica.

Palavras chave: Literatura negra. Literatura Autobiográfica. Denúncia.

Introdução:

A obra “Recordações do Escrivão Isaías Caminha” é o romance de estreia do autor Lima Barreto, publicado pela primeira vez em folhetim e só depois em volume, em 1909, em Portugal, devido à dificuldade de publicação no Brasil.

O romance mostra a realidade da sociedade brasileira na virada do século XX. É uma obra cercada de críticas à sociedade corrupta e preconceituosa, à política, à imprensa da época, aos literatos que frequentavam a boemia carioca e ao racismo.

Na obra estão presentes vários traços semelhantes entre o autor e seu personagem protagonista, o que acarreta um tom autobiográfico ao texto. Sobre isso Florencio diz o seguinte: “Ao reconhecer na história de vida do protagonista da narrativa dados diversos da biografia do autor, o leitor vê-se diante de um romance de conteúdo autobiográfico que se mescla a mais livre invenção romanesca.” (FLORENCIO, 2010, p.136).

Portanto, serão analisados traços autobiográficos que nos remetem a crer que a obra é de conteúdo autobiográfico. Além disto, a obra também será localizada dentro da chamada literatura negra, através de características que a incluem dentro do contexto teórico.

Vida de Lima Barreto

Segundo a biografia de Lima Barreto, contida na própria obra “Recordações do Escrivão Isaías Caminha, o autor era filho de mulatos e nasceu no dia 13 de maio de 1881 no Rio de Janeiro. Sua mãe morreu precocemente, quando Barreto tinha apenas 6 anos de idade.

Aos 16 anos, Barreto começa a frequentar a Escola Politécnica do Rio de Janeiro, a fim de cursar engenharia civil, e é a partir desse momento, que ele começa a conhecer e a conviver de fato com o racismo.

Mas sua grande paixão não era o que cursava, e sim as letras, a literatura, tanto que em 1900 começou a dar seus primeiros passos como escritor, ano em que iniciou os registros de Diário Íntimo. Em 1903 abandona o curso de engenharia e em 1905 começa a escrever reportagens que são publicadas no jornal Correio da manhã. Na mesma época começa a escrever o romance Clara dos Anjos. Em 1907 é publicado em folhetim Recordações do Escrivão Isaías Caminha.

Além dos livros Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá, Triste fim de Policarpo Quaresma, Os Bruzudangas e as obras já citadas acima, que são as mais conhecidas, o autor também se dedicou a escrever contos e crônicas.

Apesar de seu talento, as coisas sempre foram difíceis para o autor. Ele sabia que não seria fácil publicar suas obras e ser reconhecido. Ele escrevia uma boa parte, depois parava, após um tempo retornava a escrever, e assim concluía suas obras, que muitas vezes eram cercadas de um desânimo. “Depois de três meses de interrupção, deu-me vontade de escrever, ou continuar a escrever meu livro. Publicá-lo-ei? Terá mérito? Em avant.” (BARRETO, SD, p. 45).

Com as dificuldades de publicação de seus livros e tantos outros obstáculos que apareciam sempre à sua frente, Barreto afogava as mágoas com a bebida, e em 1914 foi internado em um hospício, por estar tendo alucinações alcoólicas, onde ficou por dois meses. Em 1919, andava pelas ruas em delírios e é recolhido novamente ao hospício, de onde só sai no ano seguinte. Em 1 de novembro de 1922, Lima Barreto falece, vítima de um colapso cardíaco.

Recordações do Escrivão Isaías Caminha

A obra está narrada em primeira pessoa pelo protagonista Isaías Caminha, que conta sua trajetória desde seus 19 anos de idade.

Isaías é um garoto mulato, que vivia no interior do Rio de Janeiro. Ele tinha uma imensa admiração pela inteligência do pai e pela simplicidade de sua mãe. O menino pobre fugia dos brinquedos e de grandes grupos de crianças, no entanto, tinha uma enorme energia para com os estudos. Uma de suas professoras o admirava por isso, o que fomentava ainda mais sua vontade de estudar. Ele sentia a necessidade de ser alguém diferente, que para ele, seria se tornar doutor. Para realizar seu sonho, Isaías precisaria se mudar para o Rio de Janeiro, onde teria mais oportunidades.

O jovem decidiu partir para a capital, e seu tio Valentim foi quem o incentivou nessa decisão, indo imediatamente com seu sobrinho à casa do Coronel Belmiro para pedir a este, que escrevesse uma carta recomendando o sobrinho ao doutor Castro, uma pessoa que Valentim já conhecia e que poderia ajudar Isaías no Rio.

Com a carta Isaías partiu para o Rio de Janeiro, com o intuito de estudar medicina. Seus primeiros dias na cidade foram cercados de preocupações. Sem conseguir falar com o Dr. Castro, ele preocupava-se com o dinheiro que logo mais faltaria. Alguns dias depois, consegue falar com o Dr. Castro, mas no fim, descobre que ele não quis fazer nada para ajudá-lo. Mais uma vez, Isaías se preocupa com a miséria que pensava estar esperando por ele.

Sem dinheiro, Caminha começa a passar por dificuldades. É obrigado a vender seus livros e suas melhores roupas para pagar as diárias de um cômodo onde estava hospedado e se alimentar. Ao escrever à sua mãe, conseguiu que ela o mandasse algum dinheiro, porém, após algum tempo, ela acaba se adoentando e vem a falecer. Isaías recebe a notícia da morte de sua mãe e tem apenas uma leve e passageira dor.

Além de estar na miséria, Isaías Caminha também passa por muitas humilhações, chegando a ser acusado de um roubo no hotel em que estava hospedado.

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