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LIVRO FUSTEL

Por:   •  13/12/2015  •  Resenha  •  4.139 Palavras (17 Páginas)  •  254 Visualizações

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Fustel de Coulanges ( 1830 – 1889 ) foi um dos mais celebres historiadores franceses. Sua obra mais conhecida é A Cidade Antiga (La Cité Antique), publicado em 1864, onde o autor procura estudar as instituições e a mentalidade do povo grego e romano.

Fustel lastreia seu livro em uma linha diretiva, acreditando que a base das sociedades antigas ( Grécia e Roma) foi dada pela religião primitiva dessas sociedades e ainda fortalece sua opinião com argumentos fortes e convincentes. Ele mostra como a religião deu embasamento para a construção das instituições, do seu Direito, formas políticas, mentalidade, condulta, enfim, as ações deste povo no mundo. As leis e o direito ganham nesta obra grande destaque na medida em que estes são reflexos das crenças e das formas de organização política e social de uma sociedade humana. É importante entender que Fustel não está falando de gregos e romanos na época de Platão e Aristóteles, são muito mais anteriores a eles.

Por a obra ter um grande volume foi dividida pelo autor em cinco livros ou partes, onde cada livro destes se subdivide em pequenos capítulos. Pelos títulos destes livros pode-se perceber a linearidade da obra e o papel protagonista dado às crenças religiosas e á família. Os títulos de tais livros são os seguintes: o primeiro se chama Crenças Antigas, o segundo A Familia, o terceiro A cidade, o quarto As revoluções e o quinto Desaparece o Regime Municipal.

Na primeira parte percebemos que existem duas crenças principais para esses povos: o culto dos mortos e o fogo sagrado. Eles acreditavam que quando uma pessoa morria, ela continuava vivendo entre nós e morando no corpo, porém transformada em outra matéria, ou seja, vivia uma segunda vida no túmulo.

Quando gregos e romanos olhavam para o túmulo de um ancestral, eles não achavam que a alma estivesse em outro plano, como no céu ou inferno, mas tinham a certeza de que a alma estava ali, habitando dentro do corpo. Nesse sentido, a sepultura seria a nova casa do morto, era o local onde o falecido continuaria vivendo, junto com seus outros ancestrais e o tumulo ficava próximo a casa da família.

A crença na pós-morte era tão forte que cabia aos vivos cuidar para que o seu ancestral tivesse o apoio que ele precisaria para continuar vivendo sua segunda vida. Nos rituais fúnebres estes povos tinham o costume de derramar água e vinho sobre o túmulo, e também freqüentemente deixavam comida.

Torna-se com essa crença, importante um ato chamado funeral. Este não era feito apenas quando uma pessoa morria, existiam datas especificas para a sua realização após a morte do individuo. Nestes funerais além da bebida e da comida que eram deixados sobre o túmulo, havia ainda outros rituais fúnebres, onde se fazia sacrifícios de animais e cantavam-se hinos. A sepultura era então uma espécie de templo para estes povos, pois tinham uma verdadeira adoração para com seus antepassados.

O que ocorria ao certo era um acordo entre vivos e mortos. Os vivos cuidavam para que os mortos tivessem seus banquetes e rituais nas datas certas, lhes dando sempre a devida atenção, pois para eles os mortos eram como os deuses da família. E os mortos em troca protegeriam o lar. Ressaltando que os antepassados que eram cultuados e vistos como deuses eram apenas o deus da família a qual ele pertencia, jamais seria o deus de outra família, sendo estes sempre homens. Neste tempo não havia a concepção de um deus único.

Romanos e gregos davam nomes para os mortos que viravam deuses. Em Roma eram chamados de manes, lares ou gênios e na Grécia por demônios ( com o advento do cristianismo a palavra “demônio” ganha outra significação, bem diferente da que era dada pelos povos primitivos da Grécia) e heróis. Contudo, havia uma linha tênue entre a crença na proteção e o medo dos manes e/ou heróis, porque antes de se tornar deuses eles eram humanos e sentiam raiva, inveja, dentre outros sentimentos humanos e então os povos antigos temiam a sua fúria. Portanto, a principal função dos rituais era de apaziguar os deuses.

Nas casas desses povos havia um altar, onde se mantinha uma chama sempre acesa, que eles chamavam de “fogo sagrado”. Este nada mais era que a representação do deus (seu antepassado) dentro da casa, percebendo-se então que existe uma ligação entre o culto aos mortos e o fogo sagrado.

Esses povos tinham uma preocupação em manter o fogo sempre aceso, havendo sempre um cuidado com a escolha do material para a manutenção da chama, ou seja, tinha madeiras especificas para isso, além de que as pessoas fora da casa não podiam olhar para a chama. Todo esse zelo era por conta da crença de que o fogo devia ser sempre puro, nem um ato de impureza poderia ser feito perante o fogo sagrado.

Fustel de Coulanges diz na obra: “Essa religião dos mortos parecia ser a mais antiga existente entre os homens. Antes de conceber ou adorar Indra e Zeus, o homem adorou os mortos; teve medo deles, dirigiu-lhes preces. Parece que essa é a origem do sentimento religioso” (pag. 32). A crença no fogo sagrado e o culto aos mortos foram o fundamento inicial para a construção religiosa dos gregos e romanos e se perpetuaram por muitos séculos.

Na segunda parte do livro, Coulanges mostra como se constituía a família grega e romana, ressaltando os seus principais aspectos. Sendo que o conceito de família e os laços que os prendem são bastante diferentes do que temos hoje, pois não é o sangue ou o afeto que determina o parentesco e sim a religião.

O critério que determinava se um individuo pertencia a tal família era o culto aos mesmos ancestrais. Por exemplo, dois irmãos filhos do mesmo pai e da mesma mãe, só seriam irmãos se cultuassem o mesmo deus domestico. Portanto, a família primitiva se constitui ao redor do fogo sagrado.

Existe um personagem que ocupa papel central na família viva: o pai. Tendo este, além de outras funções, o sacerdócio. Desta forma era o pai quem prestava as homenagens, realizava os banquetes, introduzia os parentes no culto, zelava para que o fogo não se apagasse, enfim, o verdadeiro intermediário entre os outros membros da família e os deuses do lar.

Como autoridade familiar, o pai possuía um poder absoluto sobre os demais ( filhos, filhas, esposa...) e preparava o seu filho (primogênito) para o substituir depois de sua morte, sempre por agnação. Sendo assim, os outros filhos com a sua morte estariam sobre a autoridade do irmão mais velho, incluindo até a mãe.

O sacerdócio conferia ao pai uma autoridade quase que suprema, só não tinha autoridade sobre o que os deuses haviam definido. Sendo o sacerdote, ele era chefe do culto, podia introduzir e até expulsar pessoas do culto, tinha direito sobre a vida e a morte do filho ( a criança só era considerada como filho depois de apresentada ao fogo sagrado); poderia repudiar a mulher que não lhe desse um filho e obrigar seus descendentes a casar em nome da continuação da família; caso só tivesse tido filhas, poderia também designar que o primeiro filho homem da filha, fosse o seu filho e ainda escolher um outro marido para sua esposa por testamento ou no leito de morte. Sendo o chefe, os frutos do trabalho dos membros da família eram todos dados a ele.

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