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Resenha "Crônica de Uma Morte Anunciada"

Por:   •  12/5/2020  •  Resenha  •  691 Palavras (3 Páginas)  •  279 Visualizações

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A obra “Crônica de uma morte anunciada”, escrita por Gabriel García Márquez e publicada em 1981, traz uma reconstituição do assassinato de Santiago Nasar, bem como um recorte dos principais acontecimentos que antecederam e precederam o crime. Colhendo depoimentos dos envolvidos e de espectadores da brutalidade, o narrador escreve, de fato, a crônica de uma morte que foi explicitamente anunciada por seus autores, porém não evitada por aqueles que tinham conhecimento e menosprezada pelas autoridades competentes. Além de ser uma obra ímpar e chocante da literatura mundial, ainda nos dá margem para discussões atuais, como a banalização de crimes brutais e a postura da mídia atual em utilizar da reconstituição dos crimes como forma de sensacionalismo e apelação.

O livro possui como personagem central Santiago Nasar, filho de Plácida Linero e Ibrahim Nasar, imigrante árabe e recém falecido. A família Nasar é servida há anos por Victória Guzmán e sua filha, Divina Flor, que é constantemente assediada por Santiago. No dia anterior à morte de Santiago, a cidade para em razão de dois acontecimentos: o grande casamento de Bayardo San Roman e Angela Vicário, e a visita de um bispo. Como parte dos costumes da época, a noiva deveria casar-se virgem, porém, horas depois do casamento, Bayardo descobre que Angela não era mais virgem. Quando pressionada por seu marido, Angela responsabiliza Santiago Nasar pelo feito e é abandonada na casa de seus pais. Buscando recuperar a honra de sua irmã, Angela, os gêmeos Pedro e Pablo Vicário juram matar Santiago.

Ao longo da madrugada que antecedeu o crime, os gêmeos Vicário prepararam-se buscando facas para cometer o assassinato e aguardaram Santiago no estabelecimento de Clotilde Armenta, próximo a sua casa. Durante esse período, quando perguntados por que estavam em posse das facas, respondem, sem hesitar, que iriam matar Santiago. Clotilde preocupou-se com a situação e notificou o delegado do vilarejo, que minimizou a situação considerando que os dois poderiam estar apenas bêbados demais. Nesta madrugada, praticamente todo o vilarejo tomou nota do iminente assassinato, mas, mesmo em se tratando de um crime brutal, nenhum dos habitantes tomou a atitude de conter os gêmeos, demonstrando que, aos olhos deles, aquilo seria uma coisa trivial. Esse fenômeno é abordado pela filósofa Hannah Arendt, que considera que a banalização de certos comportamentos reprováveis é resultado da perda de capacidade de se chocar e surpreender com atitudes brutais, semelhante ao que acontece atualmente e no livro.

Em uma análise, pode-se constatar que essa banalização da brutalidade encontra fundamento, atualmente, na popularização dos noticiários policiais de cunho sensacionalista. É extremamente comum que programas policiais, nos dias de hoje, procurem desenvolver um perfil dos envolvidos, coletando depoimentos e retomando cada passo do crime, buscando apelo popular. Porém, a insistência no assunto durante dias, bem como a dedicação em retratar os mais cruéis crimes demonstra que, de uma certa forma, a brutalidade tornou-se corriqueira em nossa sociedade, e não digna de repúdio e deslegitimação. No Uruguai, por exemplo, programas policialescos são proibidos, sob a justificativa de que desrespeitam a privacidade da vítima, bem como promovem atitudes violentas e discriminativas.

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