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Serviço social em ONGs no campo da saúde: projetos corporativos na disputa

Seminário: Serviço social em ONGs no campo da saúde: projetos corporativos na disputa. Pesquise 860.000+ trabalhos acadêmicos

Por:   •  28/10/2014  •  Seminário  •  6.460 Palavras (26 Páginas)  •  319 Visualizações

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Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 102, p. 269-288, abr./jun. 2010 269

O Serviço Social nas ONGs no campo da saúde:

projetos societários em disputa*

ONGs’ Social Services in the field of health: collective projects in debate

Graziela Scheffer Machado**

Resumo: O artigo faz uma análise do trabalho do Serviço Social

nas organizações não governamentais (ONGs), no campo da saúde. O

estudo visa identifi car os dilemas e desafi os no cotidiano das intervenções

dos assistentes sociais nas sequelas da questão social. Também

apresenta a pesquisa enquanto estratégia na construção de propostas

coletivas na direção da cidadania, em contraponto à lógica do favor.

Palavras-chave: Organizações não Governamentais. Serviço Social.

Saúde.

Abstract: The article analyses the Social Services’ practices in the non-governmental organizations

(ONGs) in the fi eld of health. The study aims at identifying the dilemmas and challenges in

the social workers´ daily interventions in the sequels of the social issue. It also presents the research

as a strategy in the construction of collective proposals towards citizenship, as a counterpoint to the

logic of favour.

Keywords: Non-governmental organizations. Social Services. Health.

* Dedico este artigo às “minhas” estagiárias Paula Alexandra Trovisco (PUC-RJ) e a Nathália Marinho

(UVA) por seu empenho na pesquisa e por sua contribuição no horizonte ético-político no trabalho cotidiano

da ONG. Também à amiga Juliana Fiúza, pelas trocas teóricas, e a Sílvia Ladeira por suas críticas e revisão

do artigo.

** Mestre em Serviço Social pela ESS-UFRJ, especialista em Saúde Mental Coletiva pela Escola de

Saúde Pública do Rio Grande do Sul, professora da Pós-Graduação de Responsabilidade Social Organizacional

da Universidade Veiga Almeida — Rio de Janeiro/RJ, Brasil, e assistente social do Programa Nacional de

Proteção aos Defensores de Direitos Humanos no Ro de Janeiro (Iser). E-mail: grazi.email@ibest.com.br.

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Pressupostos iniciais

O estudo partiu da experiência de trabalho do Serviço Social numa

Organização não Governamental no campo da saúde. Temos como

pressuposto que as ONGs não são monolíticas, ou seja, existe uma

pluralidade de ações e discursos, e que muitas vezes aparecem entrelaçados

na lógica do favor e da cidadania: diretos sociais, mobilização social,

atendimento às necessidades sociais, o favor, moralização e humanização. Outro

ponto é que o espaço institucional das ONGs é lugar de contradições e disputas

por projetos societários, ou seja, se de um lado existem as pressões das lógicas

mercantilista e privatista no trato da questão, de outro existem pressões relacionadas

a discursos e ações ligadas à cidadania e aos direitos sociais, projetos profi ssionais

e sujeitos atendidos, que trazem consigo suas reivindicações de acesso a

um nível de civilidade mínimo (trabalho, moradia, alimentação, educação), da qual

grande parte encontra-se à margem.

O Serviço Social no campo do “terceiro setor” vive um paradoxo, no sentido

de reconhecermos o espaço das ONGS e a fi lantropia empresarial como

estratégias de esvaziamento de direitos sociais, ao mesmo tempo que o assistente

social enquanto um trabalhador assalariado não tem condições de recusar sua

inserção nesse campo sócio-ocupacional, pois depende da venda de sua força de

trabalho. O trabalho do Serviço Social possui na raiz profi ssional os dilemas da

alienação e das determinações sociais que afetam a coletividade dos trabalhadores.

O exercício profi ssional supõe a mediação do mercado de trabalho, por

tratar-se de uma atividade assalariada (Iamamoto, 2008). Não há como negar o

que a realidade nos impõe enquanto trabalhador assalariado; de modo que é

necessário estarmos atentos aos inúmeros assistentes sociais e estagiários inseridos

nas ONGs, que precisam de maior proximidade com o debate acadêmico,

com a análise da realidade do cotidiano institucional, pois “a questão social se

enfrenta com teoria e não com trabalho voluntário” (Vasconcelos, 2008). É essencial

lembrar que as ONGs atualmente representam 5% do PIB no brasileiro

(Silva, 2009).

Então, fi cam o desafi o e o dilema atual de descobrirmos mecanismos e estratégias

de assegurar os direitos sociais e de repolitizar a questão social nesses espaços

sócio-ocupacionais, para além de contornos neoliberais.

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O artigo está organizado em três partes: a primeira tem como fi o condutor o

entendimento

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