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UMA ANÁLISE SOBRE AS PROPRIEDADES DAS MOEDAS DIGITAIS PELA ÓTICA KEYNESIANA.

Por:   •  12/11/2017  •  Artigo  •  5.378 Palavras (22 Páginas)  •  235 Visualizações

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UMA ANÁLISE SOBRE AS PROPRIEDADES DAS MOEDAS DIGITAIS PELA ÓTICA KEYNESIANA.

William Brandão[1]

 RESUMO

Esta pesquisa tem como objetivo compreender os atributos das moedas criptografadas, ou digitais, e acomodá-las na teoria keynesiana, observando as propriedades essenciais dos juros e da moeda estabelecidas por Keynes na Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda publicado em 1936. Para tal, retornaremos à obra de Keynes para compreender os motivos que levam a demanda por moeda, sua ligação com a preferência pela liquidez e os atributos determinantes da taxa de retorno de um ativo. Isto posto, analisaremos as moedas digitais na busca por suas propriedades e os motivos que levariam os agentes a utilizarem este ativo na composição de seus portfólios. Pilar fundamental para esta pesquisa, a Teoria Geral será fonte recorrente pari passu com artigos contemporâneos que buscam estabelecer densidade e conhecimento a esta discussão ainda incipiente sobre moedas digitais e responsável por despertar grande curiosidade. O presente trabalho, contudo, não se preocupa em aprofundar as questões técnicas relacionadas às moedas digitais, mas sim, entender suas características como ativo e sua relação com a preferência por liquidez.

Palavras-chave: moeda digital; criptomoeda; Bitcoin.

INTRODUÇÃO

        Como sabemos, para Keynes, o investimento é o motor propulsor da economia. É por meio dele que a produção decola e os empregos aumentam, sendo este, somado à redução da desigualdade social, os objetivos últimos das políticas econômicas. É o conceito de demanda efetiva que fundamentou correntes tão influentes no século XX e que segue abrindo discussão frente às teorias ortodoxas. A capacidade de incorporação de elementos oriundos de um contexto técnico e científico bem distinto daquele de décadas ou séculos atrás será fator chave para garantir fôlego e importância conjuntural à estas ideias.

        Dado que o investimento possui tanta relevância para o produto nacional, é importante compreender quais fatores podem exercer influência sobre esta variável e como essa dinâmica ocorre em um mundo onde as informações são acessadas de forma instantânea e as escolhas se deparam com uma ampla gama de opções. Temos que, se de um lado o acesso rápido à informação pode reduzir potenciais riscos aos agentes e promover novas expectativas às suas escolhas, do outro lado, temos um crescimento vertiginoso de novos negócios, produtos e serviços, levando, por vezes, à incapacidade de ação e de previsibilidade aos próprios agentes. Neste contexto surgem as moedas criptografadas, ou digitais, com a promessa de transformar o próprio conceito tradicional de moeda. O conceito de moeda estabelecido neste artigo será o mesmo por Keynes: moeda é um ativo com prêmio por liquidez máximo e custo de manutenção negligenciável.

        Este artigo subdivide-se em mais cinco seções. A próxima seção retomará os motivos pelos quais os agentes demandam moeda e suas relações com a preferência pela liquidez. A terceira seção apresentará as propriedades essenciais dos juros e da moeda. A quarta seção apresentará as definições e a operacionalização das moedas digitais. A quinta seção conciliará as propriedades das moedas digitais às propriedades essenciais dos ativos na determinação das suas diferentes taxas de retorno, bem como os motivos que podem tornar as moedas digitais desejáveis. A sexta e última seção apresentará a síntese e conclusão do trabalho.

2. POR QUE SE DEMANDA MOEDA?

        Destacado pelo próprio título, a Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, publicado em 1936 por John Maynard Keynes busca integrar os conceitos de juro e moeda às explicações de flutuações na renda nacional e (o que vem a ser interpretado de forma similar) no volume de emprego que lhe corresponde. A demanda por moeda responderá às curvas de preferência pela liquidez, sendo esta, representada por uma escala do volume de recursos dos indivíduos que se deseja manter em forma líquida por diferentes motivações.

        Sendo assim, a preferência pela liquidez não retrata apenas a parte da renda do indivíduo em que ele abdica de consumir, mas também, como e em quais ativos ele opta manter a parte não consumida. Logo, diferentemente do proposto pela teoria clássica, a taxa de juros não retrata o “preço” que equilibra o investimento e a poupança, mas sim, o “preço” mediante o qual o desejo de manter a riqueza em forma líquida se concilia com a quantidade de moeda disponível. Neste caso, o juros se comporta como uma recompensa pela renúncia pela liquidez e, embora possa-se esperar que o aumento da quantidade de moeda reduza a taxa de juros e aumente os fluxos de investimentos, isto não ocorrerá se a preferência pela liquidez aumentar mais do que a quantidade de moeda.

        Keynes dividirá os motivos pelos quais os agentes demandam moeda em três categorias: (i) o motivo transação, isto é, a utilização das moedas em mãos como meio de troca, seja para garantir a transição entre o recebimento e o desembolso da renda, seja para assegurar o intervalo entre o momento em que se começam as despesas e o do recebimento do produto das vendas; (ii) o motivo precaução, ou seja, o de atender as contingências inesperadas, eventuais oportunidades vantajosas ou honrar uma obrigação estipulada em dinheiro e; (iii) o motivo especulação, relacionado com o propósito de obter lucros por meio do mercado financeiro e, portanto, sendo extremamente sensível às variações graduais nas taxas de juros. Desta forma, o motivo especulação corresponde à principal forma pela qual a autoridade monetária consegue impactar no setor produtivo via open-market. Conclui-se então que o nível da taxa de juros dependerá da quantidade de moeda disponível e das perspectivas relativas às futuras políticas da autoridade monetária.

        Concluindo, a determinação da curva de preferência por liquidez dependerá da expectativa da diferença na taxa de juros monetária atual e a futura. Logo, a expectativa de ganho sobre o investimento financeiro baseado nesta diferença se tornará referência mínima à eficiência marginal do capital esperado pelo investimento em bens de capital.

3. AS PROPRIEDADES DA MOEDA

        Para Keynes, a taxa de juros não é estabelecida apenas para a moeda, pois, “ela  [a  taxa de juros] nada mais é que a percentagem de excedente de uma soma de dinheiro contratada para entrega futura, por exemplo, a um ano de prazo, sobre o preço a vista da dita soma contratada para entrega futura” (KEYNES, 1936, p. 219). Sendo assim, é possível ter uma taxa de juros específica para cada tipo de bem calculada em termos do próprio bem e será a taxa de juro específica mais elevada que servirá como referência à eficiência marginal do capital.

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