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Visão Keynesiana Sobre Decisão Sob Incerteza

Por:   •  5/3/2019  •  Artigo  •  4.535 Palavras (19 Páginas)  •  168 Visualizações

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A visão Keynesiana sobre decisão sob incerteza:

a formação de Convenções.

Antônio Carlos Roxo[1]        

        

1- Introdução

         O Banco Central do Brasil, em meados de janeiro de 1999, após contínua e profunda sangria das reservas brasileiras, resultado da fragilidade dos "fundamentais" da economia, e da crescente perda de credibilidade de sua política cambial, depois de tímida tentativa de acalmar o "mercado" com o alargamento da banda ( 13/01), passa ao regime de câmbio flutuante.

        O real despencou.

        Os analistas admitem que os agentes econômicos com débitos denominados em dólar, em sua grande maioria haviam se protegido fazendo algum tipo de hedge.

        No dia 21 de janeiro de 1999, o jornal O Estado de São Paulo, entre outros jornais de grande circulação do país, trouxe Nota Oficial do Banco BoaVista.

        Nesta, o Banco explicava, como justificativa para as pesadas perdas de seus fundos cambiais depois da desvalorização do real, o funcionamento dos fundos de derivativos, cambiais inclusive, como de perspectiva de retorno elevado, mas com maior risco, visto que atuam com grande agressividade no mercado,

        O comunicado acrescentava ainda, que cada cliente é informado sobre este risco, e que o Banco, nada poderia fazer sobre o prejuízo dos aplicadores, pois a regra do jogo seria esta.

        No entanto, no mercado, a conversa era outra. Os fundos cambiais do Banco BoaVista haviam sofrido perdas ao jogar contra o dólar, apostando na continuidade da política do real valorizado, contra a opinião generalizada dos agentes econômicos. A situação, entretanto, era mais complicada, pois a tesouraria do Banco havia atuado no sentido contrário - desvalorização do real - conseguindo um bom lucro.

        Dias após o Banco emite novo comunicado permitindo que as posições nos seus fundos fossem fechadas em  14 / 01, portanto, antes da flexibilização cambial.

        Será que a imagem do Banco - ficaria tão desgastada se os fundos tivessem sofrido as mesmas perdas com apostas no consenso do mercado: desvalorização cambial?

        Nosso objetivo é, exatamente, examinar a visão Keynesiana, sobre como no mundo incerto dos eventos econômicos - onde o conhecimento não é perfeito, e as probabilidades, se  existentes, não são objetivas , nem o mundo é estável e imutável - se dá as ações dos agentes relevantes.

2- A incerteza e a formação de convenções.

                           2.1 A Incerteza

        A incerteza e o processo de tomada de decisões sob incerteza esta no âmago da teoria de Keynes.

        A visão Keynesiana é discordante em relação à dos clássicos de que a realidade é racional, as probabilidades são objetivas, isto é, o equilíbrio perfeito. Se existesse perfeito conhecimento e fluidez de informação não haveria razão para que, por exemplo, a Lei de Say não se cumprisse.

        Keynes nega a essência clássica, para ele o agente econômico, o empresário produtivo ou financista tem como mecanismo fundamental de guia de suas decisões não a busca de alocar fatores, ele busca, isto sim, ampliar riqueza monetária. Na economia Keynesiana, o dinheiro é uma convenção chave, pois é a forma absoluta e geral da riqueza.

        Se o objetivo é acumular riqueza em forma de dinheiro, isso pode levar a que a posse de dinheiro tenha prevalência sobre as outras.

        A partir daí, como se estrutura o processo de decisão micro e os resultados macro? Como se analisa, a conexão entre a natureza das ações econômicas e os resultados? Como é que se configura os resultados macro a partir de decisões micro?

        A visão Keynesiana, esta construída na perspectiva de que as estruturas e os resultados econômicos não são dedutíveis axiomaticamente dos processos micro. Na verdade, os processos macro podem resultar em frustradores das decisões micro.

        Dado que os gestores da riqueza não dispõem de informações objetivas, eles são obrigados a formar subjetivamente uma expectativa dos acontecimentos, e mais, eles precisarão conferir algum grau de crença àquelas expectativas. Eles são obrigados a conjecturar sobre as expectativas.

        A gestão de riqueza obriga imperiosamente a tomada de decisões. Há que se decidir com base em uma expectativa de futuro, que não pode ser representada por uma probabilidade objetiva, mas sim subjetiva. “Nos casos em que não se pode assinalar de maneira objetiva nenhum valor numérico preciso, é necessário tomar decisões. E se tomam como se si pudesse fazer alguma sinalização objetiva de probabilidades; essas probabilidades assinaladas em ausência de conhecimento suficiente poderiam chamar-se ‘probabilidades subjetivas’. Estabelecidas com base em conhecimentos insuficientes, estas estariam sujeitas a mudanças rápidas e consideráveis; por isso os processos que obedecem a decisões apoiadas nessa classe de estimações podem mudar tão rápida como bruscamente" ( Minsky,1975).

        Sob incerteza densa, os gestores terão que decidir, tomar decisões e mesmo sabendo que é muito precária a base de decisão, ela não é uma decisão irracional, não o é em termos de propósito: quer acumular; também não o é no que diz respeito a busca de informações e a construção de procedimentos passados e presentes para projetar o futuro. Procedimento racional, embora a decisão em si, não seja substantivamente racional. No fundo suportada no "animal spirits", na crença.

        Conforme Keynes: "Não devemos concluir daí que tudo depende de ondas de psicologia irracional. Pelo contrário, o estado de expectativa a longo prazo é, no mais das

vezes, estável e, mesmo quando não o seja, os outros fatores exercem seus efeitos compensatórios. O que apenas desejamos lembrar é que as decisões humanas que envolvem o futuro, sejam elas pessoais, políticas ou econômicas, não podem depender da estrita expectativa matemática, uma vez que as bases para realizar semelhantes cálculos não existem e que o nosso impulso inato para a atividade é que faz girar as engrenagens, sendo que a nossa inteligência faz o melhor possível para escolher o melhor que pode haver entre as diversas alternativas, calculando sempre que se pode, mas retraindo-se, muitas vezes, diante do capricho, do sentimento ou do azar "( Keynes,1985).

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