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A QUESTÃO DO CONHECIMENTO E DA VERDADE NA FILOSOFIA MODERNA E CONTEMPORÂNEA

Por:   •  29/9/2019  •  Trabalho acadêmico  •  1.969 Palavras (8 Páginas)  •  308 Visualizações

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A QUESTÃO DO CONHECIMENTO E DA VERDADE NA FILOSOFIA MODERNA E CONTEMPORÂNEA

  1. Bacon e Descartes pretendem fazer uma crítica radical da concepção clássica de conhecimento e de verdade. Em razão disso, eles propugnam – cada um a seu modo – um método seguro para a construção do conhecimento.

  1. Bacon e Descartes propugnam métodos diferentes para a construção do conhecimento, entretanto eles guardam uma semelhança fundamental: a crença de que a mente humana deve ser purificada de preconceitos para obter um fundamento para o conhecimento, a partir do qual – segundo Bacon por processos indutivos e segundo Descartes por processos dedutivos – o restante do conhecimento pode ser seguramente obtido.
  1. Trata-se, assim, de teorias otimistas do conhecimento. Uma vez expurgados os preconceitos e os resquícios da tradição, a verdade se mostra evidente, imediata no campo visual do conhecedor.
  1. O que diferencia essas duas modalidades de epistemologias otimistas, ou seja, que adotam a convicção de que a verdade se revela facilmente é o modo pelo qual se dá o acesso à fonte segura do conhecimento. Para os empiristas, a verdade é acessível a todo aquele que se utilize adequadamente dos sentidos. Para os racionalistas, a verdade é acessível a todos que usem adequadamente a razão.  
  1. No Novum Organon encontramos o empenho de criar um sistema de regras capaz de propiciar um conhecimento provedor de um controle instrumental sobre a realidade. O empirismo baconiano entende que a compreensão da realidade implica o seu efetivo domínio.
  1. Para bacon, a percepção sensorial dá acesso à verdade. As leis científicas que descrevem as uniformidades naturais buscadas pela ciência são alcançadas pelo acúmulo de observações de fatos.
  1. Bacon destaca a indução como o método adequado para alcançar o conhecimento das regularidades naturais. O cientista deve agir como a abelha, que colhe o material de fora e transforma em mel. Em razão de usarem o método dedutivo, os escolásticos são como aranhas que tiram o material do seu próprio corpo.
  1. Os ídolos (IDOLA) são preconceitos que ocupam o espírito humano e impedem que ele tenha uma representação verdadeira do mundo. Eles precisam ser expurgados da mente humana, pois podem levar a ilusões cognitivas, prejudicando o exercício fidedigno da observação. Os principais ídolos são: ídola tribus, decorrem da condição humana, o homem tende a acreditar que as coisas são como ele deseja, o que o leva a supor, por exemplo, a existência de regularidades não suficientemente constatadas; ídolas specus, relativos às idiossincrasias, decorrem da educação e das inclinações pessoais, pois são fruto do pequeno mundo de cada individuo;  ídola fori, decorrentes dos processos de interação entre os homens, sobretudo pelo uso equivoco da linguagem, ídola theatri, decorrentes respeito exagerado à autoridade, muitas vezes são fruto dos sistemas filosóficos que apresentam como verdades indisputáveis teorias destituídas de confirmação na realidade.
  1. Bacon entende que, purgado das perversões cognitivas advindas da condição humana, das idiossincrasias, da linguagem e do respeito pela autoridade, o homem pode fazer o registro decalcador da realidade. Bacon adota o que Popper chama de teoria do balde mental (The bucket theory of the mind), uma visão de que a mente é uma acumuladora passiva de sensações. Bacon restringiu a gênese e a justificação das teorias ao domínio observacional e deixou de atentar para o fato de que as nossas hipóteses é que transformam um campo observacional em um contexto problemático, o qual pode ser desencadeador de um sistema interpretativo da realidade.
  1. Para descartes, o homem comum guiado pela sua razão tem mais chance de atingir a verdade do que se deixando guiar pela erudição dos antepassados. A tradição e os sentidos são as fontes dos erros humanos. O método aristotélico pode servir como um bom exercício mental, mas não conduz à descoberta da verdade.
  1. O projeto de Descartes nas Meditações é propiciar um fundamento firme e constante para o conhecimento. À luz da razão nascem as intuições claras e evidentes, através das quais chegamos às verdades gerais e por meio de deduções obtemos os conhecimentos particulares. A intuição evidente é, assim, o ponto arquimédico do conhecimento, pois não se pode aceitar como verdadeira uma coisa acerca da qual se possa levantar a mais ligeira dúvida.
  1. Para Descartes, ninguém pode enganar-se quanto ao fato de que se está a pensar é porque existe. Por pensar ele entende não só o pensamento conceitual, mas todas as formas do pensamento consciente, incluindo sentimento, percepções e dores. COGITO EGO SUM.
  1. Tendo chegado ao ponto de reconhecer apenas o conteúdo de sua consciência, ele terá de reconhecer nesse conteúdo algo que o relacione ao mundo exterior.
  1. Para Descartes, o acesso ao conhecimento da realidade decorre da bondade de Deus. Ele reconhece que tem na sua mente a ideia de um Deus infinito e diz que, como ser finito, não a poderia obter por seus próprios meios, o que o leva a inferir que o próprio Deus a colocou na sua mente. Defende também que o Deus que lhe possibilitou possuir tão excelsa ideia não permitirá que sua busca de conhecimento seja vã, desde que procure fazer a sua parte clarificando as suas ideias.
  1. A diversidade de métodos frustra a ciência, portanto Descartes preconiza no seu Discurso do Método regras que possibilitam um adequado conhecimento do mundo: 1ª Regra: só inclua nos seus juízos aquilo que se apresente de forma tão clara e distinta no seu intelecto que não possibilite a menor dúvida; 2ª Regra: divida o seu problema em tantas partes menores, quantas forem possíveis; 3ª Regra: proceda à resolução dos seus problemas a partir dos pensamentos mais simples e suba progressivamente em direção aos mais complexos; 4ª Regra: faça enumerações tão completas e revisões tão gerais que tenha a segurança de nada ter omitido.
  1. Vico observou que a clareza e a distinção são mais propriedade do sujeito que do objeto, não constituindo por isso nenhuma garantia de conhecimento verdadeiro. Pascal censura Descartes por ele haver transferido seu raciocínio geometrizante para outros campos do saber.
  1. Crítica de Albert a Descartes: os juízos intuitivos trazem o selo de certeza simplesmente porque costumam corresponder aos nossos hábitos intelectuais.  Críticas de Albert a Bacon: a constituição da teoria é uma atividade criadora e não o decalque de uma dada realidade. Além disso, enunciados singulares resultantes de observação não implicam enunciados gerais explicativos, ou seja, leis científicas.
  1. Francis Bacon formulou as bases do método cientifico tradicional. Inicialmente, o cientista faz observações e experiências meticulosamente controladas, as quais deverão ser fidedignamente registradas. Quando a repetição das experiências ensejarem um considerável número de dados comuns dignos de crédito, então serão formuladas hipóteses gerais, as quais, uma vez confirmadas, transformar-se-ão em leis.
  1. A indução pode ser definida, ainda que de modo um tanto tosco, como o processo mediante o qual, a partir da acumulação de enunciados de observação singular, atinge-se enunciados gerais explicativos, ou seja leis científicas. A indução, na perspectiva do método científico tradicional, possibilita a obtenção de conhecimentos sólidos e sistemáticos, baseados na evidencia observacional.
  1. Para Hume, nenhum número de enunciados de observações singulares podem implicar um enunciado geral e irrestrito, ou seja, uma lei científica. Logo, se dois acontecimentos vêm acompanhados um significativo número de vezes, haverá uma expectativa de que eles se repitam, mas se trata de um fato psicológico e não lógico. Ele afirma que não há como legitimar a regularidade da natureza, com a qual a ciência trabalha. A constituição psicológica do homem é tal que acaba por obrigá-lo a se valer da indução, pois é a única alternativa para se fazer ciência, trata-se de uma legitimidade prática.
  1. A não demonstração dos alicerces da ciência levou muitos empiristas ao ceticismo e ao irracionalismo. A grande maioria dos homens que faziam ciência encontraram a seguinte solução: afirmar que as leis cientificas são prováveis no mais alto nível que se possa conceber, o que, na prática, não se distingue da certeza. O que vale é o resultado prático advindo da atividade cientifica.
  1. Popper rejeitou a solução clássica para o problema do conhecimento cientifico. Em termos lógicos, a solução popperiana é colocada com bastante simplicidade: nenhum número de enunciados de observação singular garante uma generalização em forma de lei. Contudo, um único contra-exemplo pode falsear uma lei cientifica. Do ponto de vista metodológico, a questão é mais complicada, pois é sempre possível levantar suspeitas acerca das observações relatadas. Nesse sentido, um falseamento conclusivo é sempre confrontável com uma possibilidade de reinterpretação para manter o que a lei enuncia.
  1. A epistemologia popperiana incita a um desejo constante de falsear teorias. O modo pelo qual se chega a uma teoria não tem significado especial, não há método para se ter novas ideias. Daí a importância que a imaginação criativa e a independência de espírito exercem na ciência. As grandes revoluções científicas são frutos desses impulsos criativos.
  1. O conhecimento deve se ampliar busca de teorias satisfatórias e informativas. Se se buscar somente casos confirmadores, eles serão encontrados aos milhões. Todavia, não comprovarão veracidade a veracidade de uma lei científica e corre-se o risco de fossilizar o conhecimento.
  1. Popper entende a provisoriedade do conhecimento como uma decorrência da impossibilidade de se demonstrar a veracidade de uma teoria. O que se justifica é a preferência por uma teoria, em detrimento de outras teorias. Entretanto, a qualquer momento, pode-se encontrar uma explicação mais satisfatória para os fenômenos em questão. A longevidade de uma teoria não garante que a teoria é verdadeira, basta observar que a teoria de Newton sobre a gravidade e o sistema solar reinou absoluta até a teoria da relatividade de Einstein.
  1. Para Popper, as teorias são criações do espírito humano, hipóteses levantadas pelo homem para explicar fenômenos. Como tal, pressupõem interesses, pontos de vista e problemas. As observações nas quais elas supostamente se baseiam são, na realidade, interpretações dos fatos. Os experimentos e as observações não dão origem as teorias, antes são frutos delas. Não há, portanto, observação pura, uma vez que a nossa experiência é referenciada a um quadro de expectativas, não é uma descrição da realidade.
  1. As leis são hipóteses que têm a forma de enunciados gerais, “em todos os casos em que se realizam condições da espécie F, realizam-se condições da espécie G. Elas expressam uma relação entre os fenômenos.
  1. Não aprendemos por indução, diz Popper. Somente rejeitado os nossos “palpites” ou hipóteses é que podemos corrigir os nossos erros e aprender algo novo. Desse modo, tanto o conhecimento comum como o conhecimento cientifico progridem através de conjecturas seguidas de refutações, ou seja, através do método do ensaio e erro. A teoria é melhor à medida que apresenta um maior número de falseadores potenciais, ou seja, quanto mais proibições ela formular. Por exemplo, a afirmação “Vai chover algum dia” tem um conteúdo preditivo insignificante.
  1. As próprias noções de refutabilidade e refutação só podem ser compreendidas a partir da noção de verdade. Nesse sentido, a ideia de verdade e, também, a ideia de validade lógica são, para Popper, ideias regulativas que orientam e controlam a pesquisa cientifica, embora não nos forneçam um meio seguro de encontrar a verdade.
  1. A verdade, correspondência dos enunciados com os fatos, pode ser compreendida a partir de uma relação com o conceito de acuidade. Como a acuidade diz respeito ao grau de aproximação de uma determinada medida, dado que se pressupõe a impossibilidade de se atingi-la. Nesse sentido, estaríamos cada vez com um maior grau de aproximação da verdade, sem, contudo, ter condições de afirmar que a atingimos. Cabe, em relação a isso, a seguinte pergunta: é mais difícil saber o quanto estamos distantes da verdade ou saber onde a própria verdade realmente está? Popper entende que é impossível afirmar que uma teoria é verdadeira. Ele adotava a convicção de Xenófanes, segundo a qual: com a pesquisa sabemos mais sobre o mundo, mas a verdade certa ninguém sabe. Tudo não passa de uma teia urdida de pressupostos.

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