Diversos Assuntos

Falta muito para chegar lá. É exatamente este o sentimento que faz a gente desistir de crescer. Para reverter isso, o economista Roberto Tesch criou a Edukar, empresa social dedicada a incluir pessoas de baixa renda no ensino superior e ajudá-las a superar os obstáculos que impediriam sua capacitação para o mercado de trabalho. “Construímos a ponte entre a realidade delas e o que podem alcançar”, explica. “É um conceito muito forte, que faz sentido tanto do ponto de vista social como econômico”.

Da mesma forma, foi neste equilíbrio entre retorno humano e retorno financeiro que o empreendedor encontrou a resposta para o seu negócio. “A semente do Edukar nasceu dessa vontade de juntar o meu mundo, o da economia, cujos objetos são a escassez de bens e o conforto material, e o mundo dos meus pais, que sempre tiveram uma preocupação social e humana muito fortes”, revela Tesch, que fundou a empresa em 2012 ao lado de outros sócios.

A compatibilidade entre esses dois universos se evidenciou na área da educação, mais especificamente no ensino superior. O desafio, segundo o empreendedor, era entender o mercado. Por que os investimentos que já estavam sendo feitos neste setor – ProUni, Fies, faculdades públicas, etc. – não se transformavam em oportunidade efetiva para os estudantes? Por que, apesar desses esforços, 86% dos estudantes continuam não se formando no Brasil?

Assim, ele chegou ao modelo de negócios da Edukar. “Vamos imaginar um barco com 20 buracos. Se a gente tampar 19 e 1 continuar aberto, o barco vai afundar. E quais são esses buracos no caso do estudante? Alimentação, transporte, curso pré-vestibular, orientação profissional, matrícula do vestibular, moradia. Os apoios costumam se concentrar apenas na mensalidade, mas se os buracos no percurso não forem preenchidos, ele não vai se formar”, explica.

Por isso, a Edukar se estruturou sob três pilares de inovação: flexibilidade no uso dos recursos, retorno em percentual da renda e suporte de desenvolvimento. A justificativa do primeiro é simples: “se o problema do estudante for a alimentação, não adianta a empresa oferecer 200 mil de crédito para pagar a mensalidade. Se não tiver dinheiro para outra necessidade, não vai se formar”. Então, no modelo da Edukar, o estudante pode usar o recurso para outras necessidades que vão além da mensalidade.

O segundo pilar corresponde ao acerto feito com o estudante: ele devolve a quantia emprestada proporcionalmente à sua renda. “É uma forma de receber mais de quem ganha mais, menos de quem ganha menos”, comenta Tesch. Isso ainda tira o risco das costas do estudante, que não precisa tornar sua vida uma bagunça para pagar parcelas fixas, e melhora a equação financeira do investidor.

Mas fornecer os recursos e assegurar o pagamento proporcional ainda não são medidas suficientes para a inserção do estudante no mercado de trabalho, pois muitas vezes ele não sabe fazer a gestão da própria educação. Por isso, é fundamental oferecer um suporte ao desenvolvimento, como coaching e orientação profissional. “Esse é um trabalho muito importante para consolidar o caminho do estudante”, comenta o empreendedor. O objetivo é que potencial e determinação sejam os únicos recursos de que alguém tenha que dispor para crescer profissionalmente.