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INTRODUÇÃO DE AGRONEGOCIO

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Por:   •  13/9/2014  •  3.638 Palavras (15 Páginas)  •  1.214 Visualizações

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1

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

SETOR DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

DEPARTAMENTO DE ECONOMIA RURAL E EXTENSÃO - DERE

AGRONEGÓCIOS

João Batista Padilha Junior1

III – CONCEITO DE AGRONEGÓCIOS

3.1 - Introdução

De acordo com Rodrigues (1999), a agricultura brasileira viveu na primeira

metade dos anos 90 uma brutal transição. Saiu de um cenário no fim da década

anterior caracterizado por inflação alta, país fechado e políticas públicas razoáveis

para outro, poucos anos depois, de inflação baixa, país aberto ao exterior,

principalmente na agricultura, e estado falido. Nessa caminhada teve perda de

renda inédita na história, tanto pela ação governamental (que descasou índices

no Plano Collor estourou juros e engessou o câmbio no real), quanto pela

desarticulação do setor privado. Duas diferentes tendências ficaram claras nessa

transição que ainda não se completou:

• de um lado, uma imensa exclusão com milhares de produtores (especialmente

pequenos) e trabalhadores rurais perdendo seus empregos e patrimônios,

reforçando movimentos sociais que mais tarde se transformariam em políticos;

• de outro, uma surda batalha pela sobrevivência, via competitividade. Dois

grupos de produtores rurais se embalam nesta onda: os que entraram no

Plano Real com dívidas e os que não tinham dívidas. Os primeiros, acudidos

por paliativos como a Securitização, o Programa Especial Sobre Ativos (Pesa),

o Programa de Recuperação das Cooperativas (Recoop) e outras ações

governamentais, esperam por solução definitiva para seus problemas. Os

segundos estão fazendo a maior revolução deste século no cenário rural

brasileiro.

Essa revolução tem três facetas: uma bem evidente, que é a tecnológica,

e outras duas pouco mensuráveis, a gerencial e a de modelo.

A revolução tecnológica se caracteriza pelo uso do que há de mais

evidente em matéria de inovação para o campo: tratores, máquinas e

implementos, colheitadeiras de última geração rodando pelas fazendas

brasileiras: cultivo mínimo, plantio direto, variedades novas, fórmulas diferentes

de fertilizantes e defensivos, transferência de embriões, agricultura de precisão e

o uso crescente da biotecnologia, o que equipara nossos produtores aos

melhores do mundo.

1 Engenheiro Agrônomo, M.Sc. em Economia Aplicada pela ESALQ/USP, Doutor em Economia e

Política Florestal pela UFPR e Professor Adjunto do Departamento de Economia Rural e

Extensão (DERE) da UFPR.

2

A revolução gerencial é ainda mais importante: administração comercial,

financeira, fiscal e tributária são essenciais para o resultado positivo dos

agricultores. A gestão de recursos humanos e a gestão ambiental, também. A

informação em tempo real e confiável é um instrumento básico para o moderno

agricultor, para o gerente contemporâneo. Assim, a propriedade rural toma uma

importância fundamental, onde o empresario rural deve usar os conceitos mais

modernos de economia, administração, comercialização e finanças para se

ajustar às iminentes e rápidas mudanças de mercado.

Mas, sem dúvida, a grande mudança está no modelo. Não é mais

possível, ou não será no curto prazo, fazer renda no campo vendendo matériaprima

para compradores tradicionais. Por mais que se tenha incorporado

tecnologia, o mercado já não sustenta a renda rural para o produtor que não

agrega valor à sua produção. Esta revolução, a de modelo, é a que exige o

conceito de cadeia produtiva de agregação de valor às produções primárias.

Os mecanismos clássicos para isto estão à disposição dos produtores:

cooperativismo, associativismo, parcerias, alianças estratégicas, marketing,

propaganda, industrialização, diferenciação e, todos outros fatores existentes e

ainda não explorados adequadamente, e que também precisam ser

modernizados.

Há sem dúvida também um problema cultural emperrando avanços

concretos na direção do agronegócio, embora o conceito já esteja disseminado e

entendido. É a velha esperanças de que o governo resolva a questão da renda

com algum tipo de intervenção. Já não há mais esta chance. As diversas

cadeias produtivas precisam se articular para resolver seus dramas para

oferecer ao consumidor produtos de qualidade a preços compatíveis com a

sustentabilidade das atividades produtivas.

O Fórum Nacional da Agricultura tratou destes temas definindo em suas

Dez Bandeiras três grandes grupos de ações articulados:

a) políticas públicas que garantam isonomia em relação a concorrentes de

outros países,

b) melhor organização privada dos agentes econômicos e

c) boas negociações internacionais.

Desatados estes três nós, a agricultura e o agronegócio brasileiro

conduzirão o país ao seu lugar de destaque no cenário mundial.

Para entender um pouco mais do funcionamento das cadeias produtivas e

de suas inter-relações, torna-se necessário compreender alguns conceitos

básicos sobre agronegócios.

3.2 - Conceitos básicos – Origens e Definições de Agronegócios

Segundo o GEPAI (1997), a bibliografia sobre o estudo dos problemas

ligados ao agronegócio aponta, no cenário internacional, para dois principais

3

conjuntos de idéias que geraram metodologias de análise distintas entre si.

Embora defasadas quanto ao tempo e quanto ao local de origem, estas

duas vertentes metodológicas, que serão apresentadas a seguir, guardam entre si

muitos pontos em comum.

A primeira delas teve origem nos Estados Unidos, mais precisamente na

Universidade de Harvard, através dos trabalhos de Davis e Goldberg2. Coube a

esses dois pesquisadores a criação do conceito de agronegócios e, através de

um trabalho posterior de Goldberg2, a primeira utilização da noção de commodity

system approach (CSA).

Durante a década de 60 desenvolveu-se no âmbito da escola industrial

francesa a noção de analyse de fílière. Embora o conceito de filière não tenha

sido desenvolvido especificamente para estudar a problemática agro-industrial, foi

entre os economistas agrícolas e pesquisadores ligados aos setores rural e agroindustrial3,

que ele encontrou seus principais defensores. Com o sacrifício de

algumas nuançes semânticas, a palavra filière será traduzida para o português

pela expressão cadeia de produção e, no caso do setor agro-industrial, cadeia

de produção agro-industrial ou simplesmente cadeia agro-industrial (CPA)4.

Os pesquisadores da Universidade de Harvard, John Davis e Ray

Goldberg, já em 1957, enunciaram o conceito de agronegócios como sendo "a

soma total das operações de produção e distribuição de suprimentos

agrícolas, das operações de produção nas unidades agrícolas, do

armazenamento, processamento e distribuição dos produtos agrícolas e

itens produzidos a partir deles".

Segundo esses autores, a agricultura já não poderia ser abordada de

maneira indissociada dos outros agentes responsáveis por todas as atividades

que garantiriam a produção, transformação, distribuição e consumo de alimentos.

Eles consideravam as atividades agrícolas como fazendo parte de urna extensa

rede de agentes econômicos que iam desde a produção de insumos,

transformação industrial até armazenagem e distribuição de produtos agrícolas e

derivados.

Goldberg, em 1968, utilizou a noção de commodity system approach

(Cadeia de Produção Agro-industrial) para estudar o comportamento dos sistemas

de produção da laranja, trigo e soja nos Estados Unidos. O sucesso desta

2 DAVIS, J. H., GOLDBERG, R. A. A concept of agribusiness. Division of research. Graduate School of Business

Administration. Boston: Harvard University, 1957.

2 GOLDBERG, R. A. Agribusiness coordination: a systems approach to the wheat soybean and Florida orange economies. Division of

research. Graduate Sebool of Business Administration. Boston Harvard University, 1968.

3 A literatura francesa utiliza, em vez de Sistema Agro-industrial, a denominação de Sistema Agro-alimentar. Este material

entende que o Sistema Agro-alimentar está contido no Sistema Agro-industrial. Conservar a denominação Sistema Agroalimentar

implicaria excluir todas as firmas agro-industriais (madeira, fibras vegetais, couro etc.) que não têm como

atividade principal a geração de alimentos. Desta forma, preferiu-se a utilização do conceito mais amplo.

4 Apesar de apresentarem origens temporais e espaciais diferentes, a noção de CSA e filière apresentam a mesma visão

sistêmica e mesoanalítica que considera que a análise do sistema Agro-alimentar deve, necessariamente, passar pela

forma de encadeamento e articulação que gere as diversas atividades econômicas e tecnológicas envolvidas na produção

de determinado produto agro-industriais.

4

aplicação deveu-se principalmente à aparente simplicidade e coerência do

aparato teórico, bem como a seu grande grau de acerto nas previsões. Cabe

notar que ele efetuou um corte vertical na economia que teve como ponto de

partida e principal delimitador do espaço analítico uma matéria-prima agrícola

específica (laranja, café e trigo). Apesar de seguir uma lógica de encadeamento

de atividades semelhante à utilizada por Goldberg, a analyse de filières pode

diferir, segundo o objetivo do estudo pretendido, no que tange, sobretudo, ao

ponto de partida da análise.

Os trabalhos de Goldberg, que tiveram como ponto de partida a matriz de

produção de Leontieff, tentam incorporar certo aspecto dinâmico a seus estudos

através da consideração das mudanças que ocorrem no sistema ao longo do

tempo. Este enfoque dinâmico é ressaltado pela importância assumida pela

tecnologia como agente indutor destas mudanças. Este aspecto tecnológico é

também bastante enfatizado pela analyse de filière.

Finalmente, é interessante destacar que Goldberg, durante a aplicação do

conceito de CSA, abandona o referencial teórico da matriz insumo-produto para

aplicar conceitos oriundos da economia industrial.

Assim, segundo Zylbersztajn5 (1995), o paradigma clássico da economia

industrial - Estrutura è Conduta è Desempenho - passa a fornecer os principais

critérios de análise e de predição. A aplicação das ferramentas da economia

industrial também pode ser encontrada em autores ligados à análise das cadeias

de produção.

3.3 - ANÁLISE DE FILIÈRES (OU CADEIAS DE PRODUÇÃO)

A análise de cadeias de produção é uma das ferramentas privilegiadas da

escola francesa de economia industrial. Apesar dos esforços de conceituação

empreendidos pelos economistas industriais franceses, a noção de cadeia de

produção continua vaga quanto ao seu enunciado. Uma rápida passagem pela

bibliografia sobre o assunto permite encontrar grande variedade de definições.

Morvan6 procurando sintetizar e sistematizar estas idéias, enumerou três séries

de elementos que estariam implicitamente ligados a uma visão em termos de

cadeia de produção:

1. a cadeia de produção é uma sucessão de operações de transformação

dissociáveis, capazes de ser separadas e ligadas entre si por um encadeamento

técnico;

2. a cadeia de produção é também um conjunto de relações comerciais e

financeiras que estabelecem, entre todos os estados de transformação, um fluxo

de troca, situado de montante a jusante, entre fornecedores e clientes;

3. a cadeia de produção é um conjunto de ações econômicas que presidem a

valoração dos meios de produção e asseguram a articulação das operações.

5 ZYLBERSZTAJN, D. Competitividade e abordagem de sistemas agroindustriais. Texto preliminar para discussão. PENSA/FEAIUSP,

1995

6 MORVAN, Y. Fondements deconomie industrielle. Paris: Economica, 1988. p. 247.

5

De maneira geral, uma cadeia de produção agro-industrial pode ser

segmentada, de antes da porteira (insumos) até depois da porteira

(comercialização), em três macrossegmentos. Em muitos casos práticos, os

limites desta divisão não são facilmente identificáveis. Além disso, esta divisão

pode variar muito segundo o tipo de produto e segundo o objetivo da análise. Os

três macrossegmentos propostos são:

a. Comercialização. Representa as empresas que estão em contato com o

cliente final da cadeia de produção e que viabilizam o consumo e o comércio dos

produtos finais (supermercados, mercearias, restaurantes, cantinas, etc.). Podem

ser incluídas neste macrossegmento as empresas responsáveis somente pela

logística de distribuição.

b. Industrialização. Representa as firmas responsáveis pela transformação das

matérias-primas em produtos finais destinados ao consumidor. O consumidor

pode ser uma unidade familiar ou outra agroindústria.

c. Produção de matérias-primas. Reúne as firmas que fornecem as matériasprimas

iniciais para que outras empresas avancem no processo de produção do

produto final (agricultura, pecuária, pesca, piscicultura etc.).

A Figura 1 representa esquematicamente duas cadeias de produção agroindustriais

(CPA) quaisquer. Essa figura apresenta duas CPA não lineares, visto

que a operação 7 pode ser seguida das operações 9 e 12 ou da operação 10,

que, segundo o caso, darão origem ao produto 1 ou 2. Este é geralmente o caso

para a maior parte das CPA em que uma operação anterior pode alimentar várias

outras situadas à frente. Neste caso, pode-se falar de "ligações divergentes".

Por outro lado, existem também "ligações convergentes" em que várias

operações anteriores darão origem a um número menor de operações à frente.

No caso do exemplo apresentado, as operações 4, 5 e 6 darão origem seja à

operação 8, seja à operação 7. Não é raro encontrar no interior das CPA

mecanismos de retroalimentação, onde um produto oriundo de uma etapa

intermediária da CPA vá alimentar, nesta mesma CPA, outra operação situada à

montante desta operação.

A lógica de encadeamento das operações, como forma de definir a

estrutura de uma CPA, deve situar-se sempre de jusante a montante, ou seja, do

fim da cadeia para o começo da cadeia. Esta lógica assume implicitamente que

as condicionantes impostas pelo consumidor final são os principais indutores de

mudanças no “status quo” do sistema. Evidentemente, esta é uma visão

simplificadora e de caráter geral, visto que as unidades produtivas do sistema

também são responsáveis, por exemplo, pela introdução de inovações

tecnológicas que eventualmente aportam mudanças consideráveis na dinâmica

de funcionamento das cadeias agro-industriais. No entanto, estas mudanças

somente são sustentáveis quando reconhecidas pelo consumidor como

portadoras de alguma diferenciação em relação a situação de equilíbrio anterior.

Vale ressaltar que as CPA não são estanques entre si. Determinado

complexo agro-industrial pode apresentar operações ou estados intermediários de

produção comuns a várias CPA que o compõem. Neste caso pode ocorrer o que

será chamado de 4 operações-nó. Estas operações são muito importantes do

ponto de vista estratégico, pois representam lugares privilegiados para a obtenção

6

de sinergias dentro do sistema, além de funcionarem corno pontos de partida

eficientes para a diversificação das firmas. No caso da Figura 1, a operação 7

seria uma operação-nó, já que ela representa um interconexão entre as CPA 1 e

CPA 2.

As operações representadas na Figura 1 podem ser, do ponto de vista

conceitual, de origem técnica, logística ou comercial. No entanto, a representação

gráfica de uma CPA neste nível de detalhe seria de difícil execução prática, com

ganhos de qualidade de informação, em termos de visualização, duvidosos.

Assim, é válido que a representação seja feita seguindo o encadeamento

das operações técnicas necessárias à elaboração do produto final (Batalha,

1993). Os aspectos tecnológicos assumem, neste caso, um papel fundamental. O

"esqueleto" da CPA seria composto pela sucessão de operações tecnológicas de

produção, distintas e dissociáveis, estando elas associadas à obtenção de

determinado produto necessário a satisfação de um mesmo segmento de

demanda. Estabelecido o fluxograma de produção, deve-se arbitrar o grau de

detalhe da representação. Todas as operações de produção devem

necessariamente ser representadas?

Figura 1 – Cadeia de Produção agro-industrial 1 e 2

Cadeia de Produção

Agropecuária 1

insumos

Operação 1 Operação 2 Operação 3

Operação 4 Operação 6

Operação 7 Operação 8

Operação 10 Operação 11

Operação 12 Operação 13

Operação 9

produto 1 produto 2 produto 3

Operação 5

insumos insumos

Produção de

Matéria Prima Industrialização Comercialização

Cadeia de Produção

Agropecuária 2

7

Em geral, não é difícil decompor um processo industrial de fabricação

segundo algumas etapas principais de produção. Assim, seria razoável considerar

que, após passar por várias operações de fabricação, um produto possa alcançar

um "estado intermediário de produção”. Vale lembrar que o termo

intermediário diz respeito ao produto final da CPA. A produção de óleo refinado de

soja, por exemplo, poderia ser considerada estado intermediário de produção na

fabricação dos produtos finais margarina e maionese. O produto deste "estado

intermediário de produção" deveria ter estabilidade física suficiente para ser

comercializado além, evidentemente, de possuir um valor real ou potencial de

mercado.

A existência destes mercados permite a "articulação" dos vários

macrossegmentos da CPA, bem como das etapas intermediárias de produção

que os compõem. Dentro de uma cadeia de produção agro-industrial típica podem

ser visualizados no mínimo quatro mercados com diferentes características:

a) mercado entre os produtores de insumos e os produtores rurais,

b) mercado entre produtores rurais e agroindústria,

c) mercado entre agroindústria e distribuidores e, finalmente,

d) mercado entre distribuidores e consumidores finais.

O estudo das características destes mercados representa uma ferramenta

poderosa para compreender a dinâmica de funcionamento da CPA.

Assim, pode-se dizer que o sistema produtivo associado a uma CPA, que

neste caso escapa das fronteiras da própria firma, teria como unidade básica de

análise e de construção do sistema as várias operações que definem o conjunto

das atividades nas quais a firma está inserida, estando as operações técnicas de

produção responsáveis pela definição da "arquitetura" do sistema. Na verdade, é

o formato destes "caminhos tecnológicos" que determinam, em grande parte, a

viabilidade e a oportunidade do aparecimento das operações logísticas e de

comercialização. O posicionamento da firma dentro do sistema, bem como o da

concorrência, é facilmente identificável através da observação das operações

pelas quais a firma é responsável no conjunto das atividades necessárias à

elaboração do produto final.

3.4 - NÍVEIS DE ANÁLISE NO AGRONEGÓCIO

A literatura que trata da problemática do agronegócio no Brasil tem feito

grande confusão entre as expressões Sistema Agro-industrial, Complexo Agroindustrial,

Cadeia de Produção Agro-industrial e Agronegócios. Estas expressões,

embora relacionadas ao mesmo problema, representam espaços de análise

diferentes e se prestam a diferentes objetivos. Na verdade, cada uma delas reflete

um nível de análise no agronegócio.

8

3.4.1 - SISTEMA AGROINDUSTRIAL (SAI).

O SAI pode ser considerado o conjunto de atividades que concorrem para

a produção de produtos agro-industriais, desde a produção dos insumos

(sementes, adubos, máquinas agrícolas etc.) até a chegada do produto final

(queijo, biscoito, massas etc.) ao consumidor. Ele não está associado a nenhuma

matéria-prima agropecuária ou produto final específico. O SAI, tal como é

entendido neste trabalho, aproxima-se bastante da definição inicial de

“agronegócios” proposta por Goldberg ou da definição de Sistema Agro-alimentar

proposta por Malasis. Na verdade, o SAI, quando apresentado desta forma,

revela-se de pouca utilidade prática como ferramenta de gestão e de apoio à

tomada de decisão.

O SAI, como pode ser visto na figura 2, é composto por seis elementos básicos:

1 . agricultura, pecuária e pesca;

2. indústrias agro-alimentares (IAA);

3. distribuição agrícola e alimentar;

4. comércio internacional,

5. consumidor;

6. Indústrias e serviços de apoio (INA).

Figura 2 – Organização do Sistema Agro-industrial

Mercado

Externo

Agricultura

Pecuária Distribuição

Indústria Agro

Alimentar

Indústria não

Alimentar

Recursos

Humanos

Consumidor

Final

Indústrias de

Apoio

9

Conforme citado anteriormente, o SAI pode ser dividido nos seguintes elementos

que são visualizados na Figura 3.

Figura 3 – Elementos que compõe o Sistema Agro-Indústrial.

3.4.2 - COMPLEXO AGRO-INDUSTRIAL

Um complexo agro-industrial, tal como ele é entendido neste trabalho, tem

como ponto de partida determinada matéria-prima de base. Desta forma, poderse-

ia, por exemplo, fazer alusão ao complexo soja, complexo leite, complexo

cana-de-açúcar, complexo café, etc. A arquitetura deste complexo agro-industrial

seria ditada pela "explosão" da matéria-prima principal que o originou, segundo os

diferentes processos industriais e comerciais que ela pode sofrer até se

transformar em diferentes produtos finais. Assim, a formação de um complexo

agro-industrial exige a participação de um conjunto de cadeias de produção, cada

uma delas associada a um produto ou família de produtos.

3.4.3 - CADEIA DE PRODUÇÃO AGRO-INDUSTRIAL

O conceito de cadeia de produção agro-industrial já foi apresentado

anteriormente. Cabe somente destacar que, ao contrário do complexo agroindustrial,

uma cadeia de produção é definida a partir da identificação de

determinado produto final. Após esta identificação, cabe ir encadeando, de

jusante a montante, as várias operações técnicas, comerciais e logísticas,

necessárias a sua produção.

A Figura 4 a título de exemplo, apresenta as cadeias de produção da

manteiga, margarina e requeijão.

Existe ainda outro nível de análise representado pelas ditas Unidades

sócio-econômicas de Produção (USEP) que participam em cada cadeia. São

estas unidades que asseguram o funcionamento do sistema. Elas têm a

Indústrias de

Apoio

Transportes

Combustível

Indústria Química

Padronização

Classificação

Serviços

Produção

Agricultura

Pecuária

Pesca

Distribuição

Atacado

Varejo

Hotéis

etc...

Exploração Florestal

Indústria do Fumo

Couros e Peles

Têxtil

Móveis

Papel

Celulose

Papelão

MDF

Transformação

IAA 1ª

Transformação

IAA 2ª

Transformação

IAA 3ª

Transformação

S A I

ALIMENTAR NÃO ALIMENTAR

10

capacidade de influenciar e serem influenciadas pelo sistema no qual estão

inseridas. No caso do SAI, as USEP apresentam uma variedade de formas muito

grande. Não existem, porém, dúvidas de que a eficiência do sistema como um

todo passa pela eficiência de cada uma destas unidades. Este é uni dos motivos

que justificam a publicação deste livro.

O termo agribusiness, quando transcrito para o português (agronegócio),

deve necessariamente vir acompanhado de um complemento delimitador. Assim,

a palavra agronegócios não está particularmente associada a nenhum dos níveis

de análise apresentados anteriormente. O enfoque pode partir do mais global

(agronegócios brasileiro) ao mais específico (agronegócios da soja ou do suco de

laranja).

Figura 4 – Cadeia de Produção Agro-industrial da manteiga, margarina e

requeijão.

CPA LEITE

LEITE SOJA

Pasteurização Descascamento

Moagem

Extração

Farelo

Outros

Subprodutos

Refino

Óleo

Bruto

Óleo

Refinado

Creme

vegetal

Creme vegetal

Desnate

Leite

Gordura

PRODUÇÃO DE MATÉRIAS-PRIMAS

CPA SOJA

Homogeneização

Coagulação

Aquecimento

Lavagem

Gordura

Maturação

Embalagem Embalagem

Catalisação

Emulsão

Butirador Batedeira

Prensagem

Homogeneização

Embalagem

Requeijão

Macrossegmento de Comercialização

Requeijão Manteiga Margarina

Margarina

Industrial

Manteiga Margarina

11

3.4 – A visão Sistêmica do Agronegócio

Pela definição original, agronegócios é a soma total das operações de

produção e distribuição de suprimentos agrícolas, das operações de produção

nas unidades agrícolas, do armazenamento, do processamento e distribuição dos

produtos agrícolas e itens produzidos a partir deles.

Dessa forma, o conceito engloba os fornecedores de bens e serviços para

a agricultura, os produtores rurais, os processadores, os transformadores e

distribuidores e todos os envolvidos na geração e fluxo dos produtos de origem

agrícola até o consumidor final.

Participam também desse complexo os agentes que afetam e coordenam o

fluxo dos produtos, tais como o governo, os mercados, as entidades comerciais,

financeiras e de serviços.

As funções do agronegócios poderiam ser descritas em sete níveis, a saber:

a) suprimentos à produção

b) produção

c) transformação

d) acondicionamento

e) armazenamento

f) distribuição

g) consumo.

O termo agroindústria não deve ser confundido com agronegócios; o

primeiro é parte do segundo. Ao longo do tempo, novos conceitos têm sido

elaborados com o objetivo de dar uma definição mais precisa para agroindústria,

ampliando-a na medida do possível. Um deles define-a nos seguintes termos:

"No agronegócios, a agroindústria é a unidade produtora integrante

dos segmentos localizados nos níveis de suprimento à produção,

transformação e acondicionamento, e que processa o produto agrícola, em

primeira ou segunda transformação, para sua utilização intermediária ou

final".

O agronegócios envolve os agentes que produzem, processam e

distribuem produtos alimentares, as fibras e os produtos energéticos provenientes

da biomassa, num sistema de funções interdependentes.

Nele atuam os fornecedores de insumos e fatores de produção, os

produtores, os processadores e os distribuidores.

As instituições e organizações do agronegócios podem ser enquadradas

em três categorias majoritárias. Na primeira, estão as operacionais, tais como os

produtores, processadores, distribuidores, que manipulam e impulsionam o

produto fisicamente através do sistema. Na segunda, figuram as que geram e

transmitem energia no estágio inicial do sistema. Aqui aparecem as empresas

de suprimentos de insumos e fatores de produção, os agentes financeiros, os

centros de pesquisa e experimentação, entidades de fomento e assistência

12

técnica e outras. Por último, situam-se os mecanismos coordenadores, como o

governo, contratos comerciais, mercados futuros, sindicatos, associações e

outros, que regulamentam a interação e a integração dos diferentes segmentos

do sistema.

A compreensão do funcionamento do agronegócios é uma ferramenta

indispensável para que os tomadores de decisão autoridades públicas e agentes

econômicos privados formulem políticas e estratégias com maior precisão e

máxima eficiência. Toda a análise que se faça no âmbito do agronegócios deve

levar em conta as especificidades do sistema de produção agrícola.

Ao contrário dos bens manufaturados, a produção de bens agropecuários

desenvolve-se em determinados períodos do ano apenas, em virtude das

condições de clima e exigências biológicas das plantas e animais domésticos. As

épocas de safra e entressafra influenciam e formam a tendência de variação

sazonal dos preços, com reflexo na utilização de insumos, fatores de produção e

no processamento e transformação das matérias-primas de origem agropecuária.

Já o consumo, contrapondo-se à sazonalidade da oferta, é relativamente

constante ao longo do ano. Assim como a produção agropecuária sofre a

interferência de fatores, como adversidades climáticas e ataques de pragas e

doenças - até certo ponto incontroláveis - os desequilíbrios nos mercados tomamse,

às vezes, inevitáveis. Além disto, os gêneros agrícolas são essencialmente

perecíveis. Todos esses fatores são focos geradores de instabilidade da renda

dos agricultores e dos outros segmentos do agronegócios.

Nesse contexto, o papel das autoridades públicas e dos executivos das

empresas - todos componentes do agronegócios - toma-se fundamental para a

correção de distúrbios e instabilidades na cadeia Agro-alimentar.

Complementares, cada parte tem seu campo específico de atuação e, uma vez

sintonizadas, conseguem corrigir os problemas que surgem no agronegócios.

Isto deixa claro que o fator gerencial é crítico no desenvolvi- mento de um

sistema viável de produção de fibras, alimentos e energia renovável, cujo

conjunto, dada sua magnitude, é forte determinante do crescimento econômico

tanto dos países desenvolvidos quanto dos em desenvolvimento.

Por essas e outras razões, vê-se que o enfoque sistêmico do agronegócios

representa um instrumento poderoso de estudo e análise de uma parcela

substancial do sistema econômico da sociedade contemporânea.

A visualização da estrutura e organização operacional de toda a rede de

alimentos, fibras e substitutos energéticos abre caminho para entender como os

recursos escassos são alocados e dirigidos para a satisfação das necessidades e

desejos do homem. Serve igualmente para, em qualquer tempo, aportar subsídios

para responder a questões-chaves ligadas ao gerenciamento do agronegócios,

em uma visão de planejamento.

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