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Tempos Modernos

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Por:   •  6/4/2014  •  3.428 Palavras (14 Páginas)  •  292 Visualizações

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Tempos Modernos e o fordismo

Análise do Filme "Tempos Modernos" (Modern Times), de Charles Chaplin (1936)

O termo fordismo se generalizou na linguagem sociológica a partir da concepção de Antonio Gramsci (em “Americanismo e fordismo”), que o utiliza para caracterizar os sistemas de produção e gestão empregado por Henry Ford em sua fábrica, a Ford Motor Co., em Highland Park, Detroit, em 1913. O fordismo é uma forma de racionalização da produção capitalista baseado em inovações técnicas e organizacionais que se articulam tendo em vista a produção e o consumo em massa

Em Tempos Modernos, Chaplin nos apresenta um tipo de fordismo incompleto tendo em vista que a produção de mercadorias é de massa, mas não se constituiu ainda uma implicação de consumo de massa, o que ocorreria apenas no pós-guerra nos principais paises capitalistas, sob pressão do movimento sindical e político de classe (o compromisso fordista, como diria David Harvey).

O fordismo de Tempos Modernos é apresentado como inovação técnica e organizacional da produção e do processo de trabalho. Ele se caracteriza como prática de gestão na qual se observa a radical separação entre concepção e execução, baseando-se no trabalho fragmentando e simplificado, com ciclos operatórios muito curtos, requerendo pouco tempo para formação e treinamento dos trabalhadores (o que permite, deste modo, a integração na produção capitalista de operários de massa e pessoas simples da plebe, sem grande formação educacional, como é o caso do the tramp, personagem clássico de Charles Chaplin).

O processo de produção fordista fundamenta-se na linha de montagem acoplada à esteira rolante que evita o deslocamento dos trabalhadores e mantém um fluxo contínuo e progressivo das peças e partes, permitindo a redução dos tempos mortos, e, portanto, da porosidade. Esta é a impressão magistral que Chaplin nos apresenta em Tempos Modernos, pois o grande personagem do filme, ao lado de Carlitos, na cena da fábrica, é o sistema de máquina, a esteira rolante que impõe seu ritmo, ditado pelo capitalista, aos demais operários-massa. Em várias cenas, a maquina adquire vida própria. E o trabalho, como atividade vital, transforma-se, para os operários-massa desta produção fordista, em atividade repetitiva, parcelada e monótona, com sua velocidade e ritmo estabelecidos independentemente do trabalhador, que o executa através de uma disciplina rígida. No fordismo o trabalhador perde suas qualificações, as quais são incorporadas à máquina. Na verdade, essa é uma determinação material da grande indústria, segundo Marx. O fordismo é a assunção plena (e vulgar) da grande indústria tratada por Marx em O Capital, em 1867.

Nas primeiras cena de Tempos Modernos, Charles Chaplin nos apresenta os principais elementos da fábrica fordista-taylorista. Através de imagens, ele faz a anatomia da lógica fordista-taylorista, da produção em massa, tanto em sua objetividade, quanto em sua subjetividade. Aparecem as imensas instalações fabris (a grande indústria) e uma massa de operários entrando na fábrica que, através de um recurso metafórico, é comparada com um rebanho de ovelhas – no meio delas, uma ovelha negra (em A Greve, de 1926, Serguei Eisenstein utilizou o mesmo recurso metafórico para identificar, por exemplo, operários em greve com bois indo para um matadouro). O que Chaplin sugere é a idéia do operário-massa, que tanto caracterizou a produção fordista-taylorista (o próprio Frederick Taylor considerava o “operário-bovino” como aquele mais adequado para exercer as tarefas parcelares, repetitivas e monótonas da produção capitalista).

Depois, prosseguindo em sua anatomia da produção capitalista, Chaplin nos apresenta as formas de controle do capital sobre a força de trabalho. O capitalista exerce controle total sobre a produção capitalista através do comando da velocidade da esteira automática, acionada pelo capataz, a partir das suas ordens dadas através de uma tela imensa. É um controle virtual que atinge o operário não apenas na linha de produção, mas inclusive nos locais de privacidade no interior da fábrica, tal como o banheiro, onde o industrial worker esperava encontrar um espaço para si e não para o capital. A idéia do controle capitalista através da tela midiática está sugerida também em Metrópolis, de Fritz Lang (de 1926).

É claro que, nesse momento, Tempos Modernos aparece como uma curiosa ficção-científica, pois as fábricas fordistas da década de 1930 não utilizavam telas imensas para o controle operário. O futurismo de Chaplin quer apenas nos sugerir que o controle do capitalista no locus da produção de mercadoria é totalizador. E, além disso, é um controle midiático (o que iria se disseminar apenas no capitalismo tardio com as novas tecnologias da informação e comunicação, o que demonstra o caráter visionário da “ficção-científica” de Charles Chaplin).

Entretanto, o controle capitalista que ocorre através da linha de montagem, a esteira automática, e as telas imensas que existem na fábrica, não podem ser consideradas absolutas. O que iremos verificar é que o surto nervoso do industrial worker aparece como uma dimensão da sua subjetividade insubmissa diante do controle do capitalista (nem o capitalista controla a disposição intima do industrial worker, nem o próprio Chaplin, como persona do capital, consegue controlar a si mesmo).

Em Tempos Modernos, os operários são apenas apêndices do sistema de máquinas, uma mera engrenagem, representada na cena clássica do operário sendo engolido pela máquina. É a dimensão da objetividade estranhada e fetichizada, pois a máquina, ou mais propriamente, o sistema de máquina, é a própria representação do fetiche que se impõe sob o comando do capitalista como persona do capital.

O sistema de máquinas possui, como mediação hierárquica, o capataz, homem musculoso e de força física, em contraste com os demais operários da linha de montagem. É ele quem executa as ordens do capitalista

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