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Cadeias Globais de Valor no setor textil: o caso da H&M1

Por:   •  16/9/2017  •  Artigo  •  5.415 Palavras (22 Páginas)  •  464 Visualizações

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Cadeias Globais de Valor no setor textil: o caso da H&M[1] 

 

Ana Claudia Camerano

Gustavo Vieira

Luan Felipe Neis

Lucas Mendonça

Renan Singer[2] 

 

Introdução

 

Para analisar o atual cenário econômico mundial e a ascensão das cadeias globais de valor é necessário trazer à tona o processo da globalização econômica. Nas últimas décadas, o comércio internacional teve diversas e importantes transformações, despontando assim novas dinâmicas e padrões. Além disso, a revolução nas tecnologias, principalmente nas áreas de comunicação e transporte, fez com que os objetivos das empresas transnacionais de se comercializar internacionalmente se tornassem mais complexos e amplos, permitindo então uma globalização da produção ­ fenômeno entendido como um processo de internacionalização, fragmentação e dispersão geográfica das atividades produtivas somada a uma profunda integração funcional entre esses fragmentos ­, facilitando a formação de redes internacionais de produção e comércio através das cadeias globais de valor. Portanto a formação das CGVs é um aspecto da globalização da produção, contemplando os altos níveis de interconexão entre comércio, investimento e serviços, presentes em um elevado número de setores.

 O termo “cadeia global de valor (CGV)” tem sido usado para sintetizar o conjunto de atividades que empresas e trabalhadores desenvolvem desde a concepção de um produto até seu uso final, incluindo também os serviços de pós­venda (GEREFFI e FERNANDEZ­STARK, 2011). Desse modo, a fragmentação dos processos de produção alcançou um ponto tão alto que as empresas podem se especializar em determinadas funções da cadeia, conseguindo até participar de diversas cadeias produtivas ao mesmo tempo. Ainda nota­se que o país não tem necessidade de possuir uma ampla base industrial para atender todas etapas do processo, pois as maiores trocas internacionais nesse processo de liberalização comercial, tanto de bens intermediários como também de serviços, permitem com que um país desenvolva habilidades específicas no fornecimento de componentes ou na prestação de serviços específicos de uma fase da cadeia global, alcançando assim a competitividade exportadora em tempo bem menor do que o atingido nos modelos antigos de substituição de importações, por exemplo. Por isso, cada vez mais as CGVs têm chamado a atenção dos países em desenvolvimento, já que a pretensão destes é a promoção de seu desenvolvimento econômico através da integração ao comércio mundial.

No trabalho apresentado a seguir, além de um aprofundamento maior no conceito de cadeias globais de valor, um determinado segmento será explorado de forma mais íntima e junto dele um estudo de caso sobre a empresa H&M – empresa de origem sueca, mas com atuação mais forte na Alemanha, com enfoque em roupas que acompanham a moda a preços baixos, por isso uma das líderes no setor da indústria global do vestuário e moda, considerado principal ramo da indústria têxtil e de confecções, apesar de suas operações distintas.

A indústria têxtil (fiação e tecelagem) exibe aspectos completamente diferentes das manufaturas de vestuário. Na primeira, são grandes empresas estruturadas em grandes unidades fabris, ou seja, são intensivas em capital e levam às economias de escala. Já a indústria de vestuário é mais fragmentada que a têxtil, pois possui predomínio de pequenas fábricas intensivas em trabalho e com baixa remuneração do trabalho, características facilitadoras e flexíveis que reduzem os custos inerentes à distância geográfica entre a linha de produção e o consumidor final. A indústria global do vestuário e moda é um dos mais importantes setores da economia em termos de investimento, receitas, comércio e geração de emprego no mundo todo – principalmente nos países com abundância de mão­de­obra barata. Essa indústria porém, tem ciclos de vida curtos, já que sua demanda é muito volátil e imprevisível, de modo que os consumidores ditam o ritmo da produção e inovação procurando produtos cada vez mais baratos e com estilo.  

 

 

 

 

 

 

           Cadeias Globais de Valor​         

 

Com a globalização o mundo se encontra em novas perspectivas onde o contato físico e social está muito mais próximo. As interações são instântaneas, as fronteiras parecem meras simbologias e o mundo se depara com novas experiências e características que moldam as atuais relações. Segundo Dicken (1998), citado por Gereffi (2001, p.13, tradução nossa) “As teses da globalização clarifica uma fragmentação caleidoscópia de muitos processos de produção e de suas deslocalizações geográficas em uma escala global que excede as fronteiras nacionais.”  

Gereffi (2001) aponta a globalização como fator importante para o desenvolvimento econômico de países em ascenção. Muitos autores enxergam este fator como um empecilho, Gereffi vê neste como uma oportunidade para o avanço dos países em desenvolvimento. Diversos teóricos surgem para discutir a teoria de desenvolvimento, contudo este artigo se limitará em descrever as características das CGV apresentada por Porter (1985) e se sustentará nos argumentos dados por Gereffi (2001).

Segundo Porter (1998, p.84) “ O conceito identifica as várias atividades diferenciadas, do ponto de vista técnológico e econômico, que a empresa desempenha para executar seu negócio. São as chamadas atividades de valor.” As atividades de valor são dispostas em atividades primárias e de apoio, onde todas as atividades empregam insumos adquiridos, recursos humanos e uma combinação de tecnologias. A infra­estrutura da empresa, abrangendo funções como gerência geral, assuntos legais e contabilidade, sustentam toda a cadeia.” (PORTER, op. cit., p.85).

 Desta maneira, o termo CGV é utilizado para designar uma forma de produção que está sendo utilizada por grandes empresas. A palavra “global” do termo se dá pois a produção não se encontra mais em um só páis, e ainda, não é feita verticalmente e sim horizontalmente. Isto quer dizer, em outras palavras, a produção está fracionada em mais de um local, entre diversas empresas de diversos paises que estão conectadas entre si e são responsáveis por partes diferentes da produção. Existe a empresa do centro[3] geralmente responsável pela etapa que agrega mais valor, como disse Gereffi (op. cit., p.13 apud REICH, 1991, tradução nossa) “ As empresas de centro atuam como agentes estratégicos no coração da rede, controlando a informação importante, as habilidades e os recursos necessários para que a rede funcione eficientemente.” As outras etapas do processo são feitas em outros países, semi­periféricos e periféricos, e as motivações para um bem ser produzido em tais locais, vão desde mão de obra barata à outras vantagens comparativas diversas.

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