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Maldita Guerra, Francisco Doratioto

Por:   •  5/12/2018  •  Resenha  •  2.438 Palavras (10 Páginas)  •  695 Visualizações

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O livro “Maldita Guerra”, escrito por Francisco Doratioto em 2002, busca fugir dos vícios da historiografia nacional e internacional, principalmente entre os países envolvidos, e recontar a Guerra do Paraguai com uma perspectiva que não é nem dos ganhadores, nem dos perdedores: a de um historiador interessado em fatos e que se afasta da construção de mitos.

O autor nascido em Atibaia, Graduado em História e Ciências Sociais pela USP, com mestrado e doutorado em Relações Internacionais pela UNB, escreveu mais de uma obra relacionada a história brasileira, como “De Getúlio a Getúlio” de 1991 e “Relações Brasil-Paraguai”, sua obra mais recente de 2012. É membro correspondente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro; da Academia Paraguaya de la Historia, Paraguai, e da Academia Nacional de la Historia, Argentina, e do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil.

Doratioto introduz o texto citando a individualidade da Guerra do Paraguai. Foi uma guerra longa, e não curta como as outras de seu tempo, e onde o agressor, o Paraguai, saiu perdedor e não vencedor. A guerra dinamizou a economia dos países envolvidos, e esse foi um dos fatores determinantes da consolidação do Estado Argentino, e do Uruguaio. Para o Brasil foi o zênite da diplomacia do Império, mas ao mesmo tempo enfraquecendo-o politicamente e economicamente imensamente: as dívidas deixadas da guerra afetaram o país por muitos anos. A curiosidade em relação ao período surgiu para o autor dada a parcialidade daquilo produzido sobre a guerra em todos os países envolvidos. Enquanto no Brasil minimiza-se os erros as críticas às forças brasileiras envolvidas e a participação argentina, no Paraguai recentemente a figura de Solano López tem sido tratada por alguns intelectuais como a de um grande líder anti-imperialista. O certo é que López era um ditador de um país agrícola atrasado, e que parte de suas características pessoais influenciaram o conflito. Não se pode, porém, dizer que o conflito foi resultado somente disso – como defendido pela historiografia tradicional, formada por membros da geração do pós-guerra. No final do século XIX e no começo do século XX os positivistas brasileiros colocariam a culpa do conflito no Império Brasileiro. No Paraguai, com uma sucessão de ditadores em todo o século XX, Solano Lopéz seria tratado como estadista e grande chefe militar. A partir da década de 60 uma terceira interpretação seria criada por intelectuais nacionalistas: a de que o Estado Paraguaio era um Estado progressista, moderno, preocupado com o bem-estar do seu povo, que não queria se inserir no modelo capitalista de produção e ser manipulado pela Inglaterra, como Brasil e Uruguai. Doratioto se diz crítico de todas essas interpretações, tanto da tradicional como da revisionista, ambos teriam sido levados pela emoção que teria influenciado o senso crítico. Não podemos porém dizer que o revisionismo tenha sido influenciado pela emoção, nem tão pouco que era pobre em ferramentas metodológicas, como podemos dizer sobre os conservadores. O revisionismo foi influenciado pela falta de criticidade do ambiente das ditaduras militares durante o período de 60 a 80. A vontade de criar heróis nacionais, de exaltar o nacionalismo fascista desse período tal qual fora o de Solano, levaram a criação de um mito. Com o fim das ditaduras, com as ferramentas corretas, Doratioto diz buscar fazer uma representação justa de aliados e paraguaios.

Foi preocupação do autor dar vozes ao passado, dos que viveram a guerra nos diferentes exércitos, o espaço para serem ouvidas com respeito, quer dizer, inseridas no contexto histórico em que foram geradas. Merecem admiração aqueles que, sejam aliados, sejam paraguaios, se sacrificaram ao lutar por uma causa que lhes parecia justa. (DORATIOTO, 2002,p.21)

O primeiro capítulo intitulado “Tempestade no Prata” trata do período que precede a Guerra, a constituição Paraguaia, e por fim o início das tensões no Prata. Para o autor a Gerra do Paraguai foi o resultado do processo de construção dos Estados nacionais no Rio da Prata e ao mesmo tempo um marco nas suas consolidações. Em  “O Paraguai de Francia e Carlos López: a defesa da autonomia (1811-62)” o autor se aprofunda na fundação dos vice-reinos espanhóis, que seriam mais tarde Uruguai, Paraguai e Argentina. Criado em 1776 o vice-reino da Prata, com sua capital em Buenos Aires, queria parar a expansão Portuguesa. Quando a região se torna independente da Espanha, a burguesia mercantil de Buenos Aires se põe em uma posição de liderança e controle do Rio da Prata. O porto de Buenos Aires e a entrada do Rio eram essenciais para quaisquer trocas mercantis do além mar para dentro do continente. As elites do interior descontentes com o controle da elite portenha se colocariam contra essa determinação. O Paraguai derrotaria uma coluna militar argentina em 1811, e proclamaria sua independência formalmente em 1842. O Brasil reconheceu a independência em 1844, mas dada as disputas limítrofes já em 1829 o primeiro ditador Paraguaio, Francia, expulsaria o consul brasileiro, descontente com a questão. Paraguai estaria em isolamento até 1840, estando assim protegido de qualquer ataque ao poder do governo. O Estado confiscou terras e escravos da Igreja, que era vista como um aliado espanhol, assim como das elites que eram contra a ditadura. O Estado portanto centralizou todo o comércio dos principais bens da economia: erva-mate, tabaco, madeira. A tentativa de Juan Manuel Rosas, ditador argentino, de se impor as províncias do Rio da Prata, também contribuiria para um maior isolamento. Em 1840 esse isolamento se encerraria. O autor também se debruça sobre a constituição do Estado Argentino: a tensão entre colorados e blancos, que eram apoiados por Rosas que governava então a Argentina, começaria um conflito que terminaria  com o governo Rosas em1852.

Derrubado Rosas, os governadores das províncias argentinas assinaram,  em maio de 1852, o Acordo de San Nicolás, que redefiniu o Pacto Federal de 1831, que criara a Confederação (...) Passaram a existir, então, duas unidades políticas independentes entre si e em permanente atrito, a Confederação Argentina, com sede em Paraná, e o Estado de Buenos Aires. Ambos reconheceram a independência do Paraguai, que teve franqueada a navegação do Prata e do rio Paraná. (DORATIOTO, 2002, p.29)

O livro é escrito principalmente para trazer “luz” a historiografia sobre a guerra, ainda muito mistificada.O autor tece, já na introdução, críticas aos intelectuais revisionistas: ao falso argumento de que o Paraguai anterior a 1865 teria promovido uma industrialização interna, sem depender de recursos estrangeiros, se tornando uma ameaça para a Inglaterra, que tinha inúmeros interesses aqui. Parte dos recursos utilizados nos projetos do país eram provenientes da Inglaterra, defende o autor.

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