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PARA UM CONCEITO DE CLASSE SOCIAL

Por:   •  20/9/2021  •  Resenha  •  1.478 Palavras (6 Páginas)  •  165 Visualizações

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PARA UM CONCEITO DE CLASSE SOCIAL

Não há como tratar de classes sociais sem retomar os trabalhos de Karl Marx. Mesmo que, segundo Block (2013), Marx não tenha conceituado classes sociais propriamente, mas apenas descrito sua atuação, o conceito faz-se importante para as ciências sociais.

Segundo Marx (2000) e Marx e Engels (2005, 2007, 2008), o capitalismo, sendo o maior fenômeno da modernidade, fez surgir duas principais classes: a burguesia e o proletariado. É importante destacar que, como nos chama a atenção Block (2013), Karl Marx não excluía a possibilidade de outras classes. Sua escolha pela descrição de duas principais classes se deve ao fato de que a revolução industrial teria colocado como sua principal classe a burguesia que, para ter seus objetivos seculares resolvidos, criou a única classe que, segundo ele, poderia ser verdadeiramente revolucionária: o proletariado.

A mudança radical do capitalismo após a Segunda Guerra permitiu a formulação de uma série de estratégias que tinham como mote a descentralização do papel do Estado, levando ao enfraquecimento do Estado de bem-estar social ou Estado-providência.3 Um dos fenômenos principais que seguem é a fragmentação da classe trabalhadora a partir do corte de direitos trabalhistas. Fragmentada, a classe trabalhadora perde seus referenciais de representação. Assim:

Em primeiro lugar, esta fragmentação do objeto da produção é também necessariamente a fragmentação do seu sujeito. Em consequência da racionalização do processo de trabalho, as propriedades e particularidades humanas do trabalhador aparecem cada vez mais como simples fontes de erro, racionalmente calculado de antemão, destas leis parciais abstractas. O homem não aparece, nem objectivamente, nem do seu comportamento, em relação ao processo de trabalho como verdadeiro portador deste processo, está incorporado como parte mecanizada num sistema mecânico que encontra pela frente, acabado e a funcionar em total independência relativamente a ele, a cujas leis têm de se submeter. (LUKÁCS, 1974, p.103, grifos do autor)

A partir daí, estando o trabalhador já reificado4 e integrado ao processo de produção como mercadoria, ele próprio, os sindicatos e entidades classistas perdem o papel que tinham e novos movimentos sociais, organizados de forma horizontal e se reivindicando para além das dicotomias capitalismo versus socialismo, direita versus esquerda, questionam, como menciona Woodward (2000), as grandes narrativas seculares.

No entanto, Block (2013) alerta quanto ao papel das classes sociais em um mundo repleto de assimetrias:

Na verdade, as classes dominantes não apenas colocam a culpa pela atual crise econômica sobre as políticas que não vão longe o suficiente na liberalização da economia ou na falta de vigilância por parte das instituições (cujas políticas possibilitaram a crise), como elas também se recusam a enfrentar a sua responsabilidade pelo aumento da desigualdade e da desvantagem, tanto internacionalmente como intranacionalmente. E enquanto o público em geral, e na verdade a maioria dos acadêmicos também, não entender tudo o que está acontecendo nos níveis mais altos da economia mundial, eles não sabem o que veem e vivem em suas casas e seus bairros. E é a observação sobre o aumento da desigualdade e da desvantagem que tem levado muitos cientistas sociais a retornar à classe social como importantes lentes para se enxergar as sociedades contemporâneas e sua evolução em curso. (BLOCK, 2013, p. 12 )5

Block (2013) explora, em sua obra Social Class and Applied Linguistics, aspectos de classe social no ensino de línguas, partindo de uma análise contextualizada de conjuntura de uma época, que vai desde a década de 70 até a atualidade, em que acontecem reformas estruturais neoliberais que ele chama de "liberalizantes", que aguçam as desigualdades e propõem novos enfrentamentos.

Ao conceituar classe social, Block (2013) retorna a Marx para criticar a ausência de uma conceituação clara. O linguista mostra como, porém, em Marx há uma estruturação sistemática do papel das classes sociais na história. Retornando a Weber e Durkheim, ele observa que a definição dos chamados grupos de status em Weber e grupos ocupacionais em Durkheim são classificações mais culturais do que sociais, de modo que não são explorados os funcionamentos e as condições dessas categorias na evolução do capitalismo, como o fez Marx.

Tanto Santos (1999) quanto Block (2013) alertam para as críticas feitas à determinação econômica em Marx. Santos (1999) adverte sobre o papel político que a modernidade propôs à luta de classes e Block (2013) destaca que, embora haja um tom determinístico que muitas vezes pareça negar a agência do sujeito, Marx usa o termo 'condicionar' ao invés de 'determinar'. Como linguista aplicado, a contribuição de Block (2013) é muito importante para entender que algumas ideias na obra de Marx precisam ser lidas nas entrelinhas. Assim:

Eu penso que vale a pena considerar como a classe social é retratada em Marx e Engels como experiência vivida explícita. Entretanto, eu começo com um ponto mais técnico, um ponto básico para entender a base econômica do capitalismo - a teoria do valor do trabalho segundo Marx - antes de passar para uma noção experiencial de alienação. (BLOCK , 2013, p 31 )6

É a partir da teoria do valor do trabalho em Marx que Block (2013) reivindica que sua conceituação de classe social adota a mesma desenvolvida por Marx, fortemente baseada no processo que produz capital através da relação de alienação da força de trabalho e subsunção do trabalhador na produção, de modo que este é condicionado a se sujeitar à função de assalariado. Como desenvolve Marx (2008), o valor pago ao trabalhador está colocado

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