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Diversidade religiosa no Brasil: Nebulosa Esotérica e Nova Era

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Por:   •  19/3/2014  •  Tese  •  4.067 Palavras (17 Páginas)  •  404 Visualizações

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A Diversidade Religiosa no Brasil: A Nebulosa do Esoterismo e da Nova Era

Silas Guerriero

Acostumamo-nos a pensar a sociedade brasileira dotada de imensa variedade de práticas e denominações religiosas, fazendo deste país um lócus de múltiplas possibilidades e de escolhas variadas por parte do fiel, mas também um "prato cheio" para os estudiosos, que encontrariam por aqui tudo aquilo que desejariam pesquisar. Muitas vezes atribuída pelo senso comum à formação pluri-étnica da nossa sociedade e à nossa cordialidade, essa convivência com diferentes religiões, salvo exceções, sempre foi vista como um aspecto positivo da capacidade brasileira de colocar num mesmo caldeirão os mais díspares ingredientes. Cantamos em alta voz que aqui há um povo pacífico que não discrimina e que pode, ele mesmo, transitar por várias religiões, dependendo das suas necessidades momentâneas. É um país que não possui guerras internas, terremotos ou furacões. Em suma, um país abençoado por Deus e bonito por natureza e, sem dúvida, com vários caminhos para se chegar a esse mesmo Deus. Não importando muito qual seja esse caminho, diz-se que o que vale é a fé depositada.

Como será que podemos entender, de um lado, essa imensa diversidade e, de outro, o trânsito intenso entre as religiões e também a vivência concomitante em duas ou mais delas, fazendo parecer que se trata de uma mesma coisa, apenas diferentes nomes para uma mesma grande religião.

No meio disso tudo, devemos procurar compreender as novas religiões, especificamente aquilo que se costumou denominar de novas espiritualidades, esoterismos ou, ainda, Nova Era. É bom lembrar que, confirmando as posições que afirmam ser a sociedade brasileira um grande caldeirão, a Nova Era, ou melhor, as novas e diferentes formas de vivência das espiritualidades, ganhou uma dimensão bastante grande em nosso país, despertando não apenas o interesse de acadêmicos brasileiros e estrangeiros, mas também das lideranças religiosas tradicionais que de um lado pensam ter encontrado as garras do demônio, ou o retorno do paganismo, por trás desse movimento, mas de outro, também procuram os lados positivos e o quê essa Nova Era pode trazer de alento e contribuições às suas igrejas.

Não se trata de negar, num sentido, a diversidade religiosa e aquela imensa riqueza já apontada, que torna nosso país um bom lugar para pesquisar religiões. Nem, tampouco, deixar de reconhecer aspectos comuns, que possibilitam a multiplicação de denominações religiosas e o trânsito do fiel sem a necessidade de conversão, formando aquilo que seria uma única grande religião brasileira que abarca a todos. A Nova Era seria então, ou mais uma religião (pois parece sempre haver lugar para novas) no então rico mas não saturado campo religioso brasileiro, ou apenas uma via (equivocada e endemoninhada para muitos) de se chegar ao mesmo Deus.

Qualquer uma dessas duas opções se mostraria limitada em suas capacidades de análise. É preciso enxergar de maneira mais ampla para a complexidade da realidade que ora se apresenta. E é no interior desse duplo aspecto, a diversidade e a unicidade, que procurarei agora apontar alguns aspectos da Nova Era. Começo tentando o impossível, uma conceituação daquilo que chamamos por Nova Era. Em seguida, procuro levantar algumas questões acerca das religiões no Brasil que podem nos auxiliar na compreensão da diversidade religiosa e da Nova Era em especial.

1. A Nebulosa do Esoterismo e a Nova Era

Dos anos sessenta, quando começaram a surgir os primeiros indícios das práticas ora agrupadas sob a denominação Nova Era, até o presente momento, só se fizeram aumentar as suas presença e visibilidade. Não há quem, morador de pequenas, médias ou grandes cidades brasileiras, não tenha consciência de sua existência. O avanço na mídia é inequívoco. De assunto debatido em programas de entrevistas na televisão, chega hoje a ser tema central de novela em horário nobre na maior rede do país. Se antes ficava restrito a seus poucos adeptos, hoje faz parte do universo cultural e religioso brasileiro. Não há nenhum constrangimento na participação e na exposição de suas crenças e convicções.

Abriga uma ampla variedade de práticas, produtos e serviços advindos das mais diferentes tradições. Nesse sentido foi chamada de nebulosa pela própria dificuldade de definição e caracterização. Na verdade podemos indagar se, afinal de contas, há ou não uma Nova Era. Será possível reunir numa única denominação uma extrema variedade de práticas e crenças? Quais são as características em comum que poderiam aglutinar todas elas? Seus adeptos formam um grupo coeso de indivíduos em torno de uma crença comum? Há uma crença comum?

Dada a ampla visibilidade do fenômeno, ninguém mais a ignora, nem estranha quando se vê diante de uma de suas manifestações, mas não custa lembrar que formam uma gama tão variada de atividades que podemos muitas vezes esquecer de muitas delas. Podemos colocar na mesma Nova Era, desde consultas a artes divinatórias, em consultórios, praças públicas ou shopping centres, até a existência de religiões bem estruturadas e institucionalizadas, como a ISKCON, passando por terapias do corpo e da mente, vivências xamânicas, técnicas de meditação, livros de auto-ajuda, alimentação naturalista, cristais, pirâmides, agências de viagens especializadas em roteiros a "lugares sagrados", como Machu-Picchu, Índia, Nepal, São Tiago de la Compostela e São Tomé das Letras, adorações à Lua, bruxarias (valorizadas nos seus aspectos positivos) etc, etc.

Procurando colocar um pouco de ordem nessa imensa heterogeneidade, Magnani estabeleceu uma tipologia classificatória, considerando os objetivos a que se dedicam, as normas de funcionamento e os produtos oferecidos [1] . Num primeiro grupo, denominado Sociedades Iniciáticas, aglutinou as práticas que se caracterizam por apresentar um sistema doutrinário com princípios filosóficos e religiosos definidos, com corpo de rituais próprios e níveis de iniciação codificados. Nesse grupo, à guisa de exemplo, estão a Sociedade Eubiose, A Sociedade Teosófica, a Sociedade Antroposófica, a Ordem Rosacruz AMORC, as instituições religiosas estruturadas etc. No segundo grupo, Centros Integrados, estão aqueles que reúnem e organizam, num mesmo espaço, vários serviços e atividades, tais como consultas oraculares, terapias e técnicas corporais, palestras, cursos, venda de produtos etc. No terceiro grupo, Centros Especializados, Magnani inclui as associações, academias, clínicas

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