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ICLS - Arte Sagrada Transcrição

Por:   •  21/5/2022  •  Seminário  •  7.815 Palavras (32 Páginas)  •  243 Visualizações

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Arte Sagrada – Aula 01


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Arte Sagrada – Aula 01: Templo Hindu (I)

Prof. Luiz Gonzaga de Carvalho

Transcrição não revisada ou corrigida pelo professor


O tema desta aula é a origem do templo hindu. Esta é, na verdade, fora a aula introdutória, a primeira aula do curso de Arte Sagrada. Na aula de introdução nós explicamos que usamos o termo “arte sagrada” simplesmente para diferenciá-la da expressão mais geral “arte sacra”. Embora essas sejam expressões semanticamente equivalentes, usaremos “arte sagrada” num sentido distinto, para só uma parcela da arte sacra. Arte sacra é assim chamada em razão do seu tema: uma pintura que retrate a Virgem Maria, ou Jesus Cristo, ou Buda, é considerada arte sacra. Mas a arte sacra pode variar muito, desde obras primitivas numa tradição até as obras de estilo moderno, cuja linguagem simbólica é completamente alheia à estrutura da própria tradição. Então chamaremos de “arte sagrada” simplesmente aquelas obras em que não somente o tema é sacro, isto é, tem origem numa tradição espiritual, como também o modo pelo qual esse tema é tratado reflete, na sua linguagem simbólica, a própria natureza do tema.

Se você quer representar a Santíssima Virgem e pinta simplesmente um quadro representando uma mulher, como você dá sinais indicativos de que aquela é a Santíssima Virgem e não somente uma mulher qualquer? Ora, toda religião, toda tradição tem o seu conjunto de sinais indicadores: podemos colocar uma auréola, umas letras ou nomes, ou alguns gestos característicos, ou posturas etc. Mas, além disso, a questão é que o próprio estilo da obra pode explicar a natureza do objeto tratado. Pois uma coisa é indicar didaticamente que ela é a Santíssima Virgem – e quando você tira todos os sinais em torno, o véu, a auréola etc, e observa só o rosto ou as mãos dela, parece só uma mulher comum. A Arte Sagrada não é assim: ao olhar os próprios traços distintivos da figura, você já identifica algo de especial e de único ali. É por isso que toda iconografia exige uma tremenda estilização, é por isso que não existe “Naturalismo sacro” na arte. O Naturalismo naturalmente exclui a possibilidade de diferenciar o conteúdo divino do tema. Quer dizer, o conteúdo não é natural; como ele pode ser representado de modo natural? A Santíssima Virgem é para os cristãos não apenas uma mulher ou uma mulher santa, uma pessoa piedosa e especial, ela possui qualidades espirituais únicas, dons específicos de Deus, que têm que estar representados na imagem. Como representar o fato de ela ter sido concebida sem pecado? Isso tem que aparecer no rosto dela. E se você fizer uma pintura naturalista, só o que aparecerá é uma mulher; talvez uma mulher piedosa, e talvez isto até inspire devoção – é evidente que a obra não-tradicional pode inspirar devoção e pode até mesmo ser sublime –, mas ela não indicará na sua própria estrutura a natureza do tema. Ela simplesmente cria uma disposição subjetiva em relação a um tema, que precisa ser previamente conhecido pelo sujeito que admira a obra. Isso significa que um hindu pode entender um ícone medieval, se você lhe explicar a linguagem simbólica, mas ele não pode entender uma pintura devocional moderna, porque o entendimento da pintura devocional moderna subentende que você já seja cristão primeiro, que você já conheça o cristianismo, já saiba quem é a Santíssima Virgem Maria – e assim você usa o quadro como uma referência muito secundária, como um apoio mínimo, mais para os seus sentimentos do que para a sua inteligência. Veja bem, a obra tradicional fala aos sentimentos também, mas ela fala à inteligência, enquanto que a obra devocional fala somente ao sentimento.

Mas o tema hoje é o templo hindu. Cada um dos temas será dividido em duas aulas; na primeira aula faremos uma introdução geral e na segunda entraremos no tema específico. O assunto desta introdução é: O que é um templo? O que diferencia um templo de uma habitação qualquer?

Para entender o que é um templo, primeiro nós temos que prestar atenção na percepção, na experiência que o ser humano tem do mundo. Quando você olha o mundo, você o percebe de dois modos. Você percebe instantâneos do mundo: se você está num campo aberto, você vê a vegetação, a inclinação do terreno, os rios, o céu, as nuvens, o sol, ou a lua e as estrelas. Essa representação imediata do mundo indica uma certa ordem e uma certa diferenciação qualitativa, ou seja, as direções não são todas as mesmas para você – olhando para cima há céu, olhando para baixo há terra; o céu você não toca, a terra você toca e se apóia nela. Se você olhar agora o mundo não somente como um instantâneo, mas como uma sucessão de situações diferentes, o mundo já não lhe aparece como uma diferenciação qualitativa, imediata e explícita. No instantâneo do mundo, na fotografia do mundo que a nossa percepção oferece, mostra-nos que existe céu e terra. Já a percepção do mundo como sucessão de situações indica duas coisas: por um lado, do ponto de vista natural, as situações tendem a ser cíclicas e repetitivas. Todo ano há um inverno, uma primavera, um verão, um outono; todo dia há um amanhecer, um meio-dia, um pôr-do-sol, um anoitecer. Do ponto de vista puramente natural, as coisas aparecem como cíclicas; até os animais tendem a se reproduzir e a se alimentar de modo cíclico, segundo um ciclo anual ou sazonal. Todas as criaturas aparecem assim, as plantas, os animais, e também o cenário natural inanimado.

No entanto, isso não permite ao ser humano identificar precisamente quais serão as circunstâncias da vida dele. Quando ele olha para si mesmo como psique, isto é, como sujeito vivente e consciente, ele tem que dizer “Embora eu possa dizer com razoável precisão o que vai acontecer com o mundo natural daqui a três, seis meses, doze meses, e até daqui a cinco, dez anos, eu não posso antecipar a minha própria vida com facilidade. Quais são as pessoas que vou conhecer, quais são as coisas que vão me agradar e que vão me desagradar? Para onde vai a minha vida?”. O mundo aparece como uma sucessão indefinida de ciclos que tendem a se repetir. E a vida, o sujeito, aparece como uma sucessão de circunstâncias inesperadas e que não tem uma duração indefinida – pois você sabe que um dia você morrerá e o mundo continuará “andando”. Você não sabe quando você morrerá e nem quando as coisas acontecerão para você. Isso significa que o mundo enquanto palco da vida aparece como um horizonte de mistério, de desconhecido. Enquanto mero cenário, ele aparece não como um horizonte de desconhecido, mas com uma regularidade, com uma certa ordem.

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