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O Livro Completo Curso ICLS

Por:   •  21/5/2022  •  Seminário  •  2.031 Palavras (9 Páginas)  •  157 Visualizações

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Instituto Cultural Lux et Sapientia [1]

Perguntas e Respostas #1

A Individualidade da Pessoa é Mantida após a Santificação? [2]

Professor Luiz Gonzaga de Carvalho Neto

No processo de evolução espiritual, no qual se molda a psique da pessoa para que ela corresponda ao intelecto agente, resta a individualidade da pessoa, não se perde a individualidade para tê-la substituída por outra, que se identifica com Deus; sendo assim, resta alguma diferença entre as pessoas que atingem a santidade, o “eu” que é salvo não é o mesmo entre todas as pessoas, há diferença entre os “eus”. Nesta questão, é preciso levar em conta a diferença que há entre a sua identidade no sentido metafísico e a sua identidade no sentido empírico.

Com “identidade no sentido metafísico”, se quer dizer o seguinte: a partir do momento em que se existe, é evidente que o próprio ser não pode ser reduzido ao ser de nenhuma outra pessoa, quer dizer, no decorrer da vida, se mudará em muitos sentidos, mas nunca se mudará e se tornará outra pessoa. Existe uma linha demarcatória, uma linha ontológica, intransponível entre si mesmo e qualquer outra pessoa, um sujeito é ele mesmo e acabou; agora, o que esse “ele mesmo”, ou esse “eu”, significa do ponto de vista psicológico, moral, e biológico inclui inúmeras variedades, um sujeito não é o mesmo sujeito hoje e ontem, ou hoje e há trinta anos, isso quer dizer que, ainda mantendo-se na esfera da sua identidade metafísica, que torna um sujeito único e diferente de todos os outros entes, dentro dessa esfera, existem inúmeros “eus” possíveis, existe aquela pessoa que o sujeito era quando era um bebê, a pessoa que o sujeito era quando aprendeu a falar, a pessoa que o sujeito é hoje, a pessoa que o sujeito era ontem, e a pessoa que o sujeito será daqui a vinte ou trinta anos. Ora, ainda que se faça uma lista de todas essas identidades históricas, essa lista mesma não esgota a identidade metafísica, porque, em cada ponto dessa biografia, o sujeito fez escolhas, e poderia ter escolhido de maneira diferente.

Se não pudesse ter escolhido de maneira diferente, a própria expressão “escolher” não teria sentido, as mudanças que ocorrem em um sujeito não são necessárias, elas não são a tradução de uma simples ordem natural, o homem vai elaborando essa pessoa por meio de escolhas, e poderia ter escolhido de maneira diferente. Quer dizer, quando se fala que o sujeito que é salvo, ou o sujeito que está no Paraíso, não é o mesmo sujeito que ele era na Terra, não se quer dizer que houve uma transposição metafísica, que ele passou a ser uma outra pessoa; no Inferno, no Céu, no Purgatório, ou na Terra, ele jamais será outra pessoa.

O que há é o seguinte: se essa identidade metafísica admite inúmeras possibilidades existenciais, nem todas essas possibilidades existenciais podem existir no Céu, quer dizer, só existem alguns modos de ser um sujeito empírico e entrar no Céu; se não fosse assim, evidentemente, não importaria qual modo que um sujeito está existenciando, ele estaria no Céu, e, de novo, a questão de escolha moral não teria nenhum papel. Então não é que o sujeito perde a individualidade, é que ele exclui da sua identidade empírica, quer dizer, desses conjuntos de referências que ele tem do que é ele mesmo, quer dizer, do conjunto de referências que ele tem do que é ele mesmo, aquelas que são incompatíveis com o Céu, sem essa exclusão o sujeito não pode entrar no Céu.

É como com uma equipe de médicos que senta à uma mesa para discutir o método cirúrgico que será usado em um paciente; nesse momento, para sentar à essa mesa, os membros da equipe têm que excluir da sua zona de interesse e interação todas as questões pessoais, eles não podem sentar à mesa para discutir a cirurgia do paciente e, por exemplo, falarem do litro de leite que têm que levar para a esposa no fim do dia, para que ela não fique chateada, essa parte da personalidade tem que sair da vida nesse momento para que eles sejam só médicos examinando um paciente.

Com o Céu é a mesma coisa, há elementos da personalidade que não podem entrar no Céu; se um sujeito quer entrar lá, há certas possibilidades empíricas que têm que ser excluídas. Essa espécie de cristalização da identidade empírica em um certo conjunto de possibilidades em máxima conformidade com a intenção divina não é uma perda da individualidade; é, mais apropriadamente falando, uma transformação, ou uma transubstanciação, da individualidade.

Então, o que se tem no Céu são como que individualidades transubstanciadas, e não amalgamadas em um outro ser. A única coisa que pode complicar o entendimento disso é que, quando se fala “eu”, necessariamente se está falando de duas coisas: do conjunto de possibilidades de ser que correspondem a esse ser e que fazem com que ele seja ele e não seja outro, embora possa se tornar até bastante parecido com outro ser, possa compartilhar com ele inúmeros semelhanças, ele é só um único ser, um único ente. Ora, o fato de ser uma só coisa não quer dizer que a ele corresponda uma única possibilidade história, quer dizer, um sujeito não é exatamente o mesmo psicologicamente, ou biologicamente, no decorrer de toda a sua existência. Para a mesma unidade metafísica, para o mesmo ente, são possíveis inúmeras possibilidades do ponto de vista psicológico, moral, biológico, etc. A sua identidade empírica, hoje, quer dizer, quem se é hoje, é apenas um pequeno conjunto das possibilidades que correspondem a esse ente, é possível que esse pequeno conjunto seja, no seu todo, incompatível com a Salvação.

Quando se fala em um indivíduo, ou se está falando do conjunto de possibilidades metafísicas que a ele correspondem, ou se está falando do subconjunto das possibilidades que estão efetivadas nele em um determinado momento. É evidente que nem todas as possibilidades correspondentes a esse princípio, a essa unidade metafísica, que é o ente individual, são uma expressão da própria unidade metafísica, quer dizer, é perfeitamente possível fazer um carro que não pareça um carro, fazer uma casa que não pareça uma casa, e fazer uma pessoa, construir uma biografia, que não parece a unidade metafísica à qual ela mesma corresponde.

Pode-se construir toda uma biografia baseada em um ou dois traços, ou uma ou duas características, da unidade metafísica que é o ente individual, o que quer dizer que se pode passar uma vida inteira e ser 1% da própria realidade. Então, na verdade, são essas unidades empíricas, que se baseiam em um ou em outro aspecto do conjunto de unidades metafísicas, que estão perdendo alguma coisa, é o sujeito que não foi para o Céu que está perdendo algo da sua individualidade, o sujeito que está no Céu é um sujeito cuja individualidade empírica está conformada de tal modo que ela é uma imagem do conjunto total de possibilidades que corresponde ao seu ser, é justamente o sujeito que está no Céu que possui, da maneira mais integral possível, a sua própria individualidade, o sujeito que não está no Céu corresponde a um aspecto dela.

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