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O SURGIMENTO DO PURGATÓRIO

Por:   •  31/3/2016  •  Trabalho acadêmico  •  1.647 Palavras (7 Páginas)  •  616 Visualizações

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FACULDADE BATITA DO RIO DE JANEIRO

Por

Carlos Alberto P. Peixoto

Resumo do livro: O Nascimento do Purgatório, de Jacquecs Le Goff em cumprimento às exigências da disciplina de HCT III, do curso de Bacharel em Teologia pela professor Rodrigo Figueiredo.

Rio de Janeiro, 2015

Le Goff, lembra de início que o Purgatório em si sempre existiu, vai inclusive buscar provas disso na Bíblia e nos povos da Mesopotâmia e aponta a necessidade da cristandade em ter o Purgatório consolidado na Idade Média para encontrar a salvação eterna. Le Goff resume em suas próprias palavras o mesmo: "Desde sempre os cristãos acreditaram, de um modo confuso, na possibilidade de remir certos pecados depois da morte. Mas, no sistema dualista do além, entre Inferno e Paraíso, não havia lugar para o cumprimento das penas do Purgatório. Foi preciso esperar pelo fim do século XII para que surgisse a palavra Purgatório, para que o Purgatório se tornasse um terceiro lugar do além numa nova geografia do outro mundo. Foi em Paris, no ultimo terço do século XII, na escola episcopal de Notre-Dame, em contato com a escolástica emergente liderada por São Thomas de Aquino e com o pensamento cisterciense, que surgiu a nova forma de crença. Ela situa-se numa "revolução" mental e social que substitui os sistemas dualistas por sistemas que fazem intervir a noção de intermediário e que esquematizam a vida espiritual. Esse Purgatório é também o triunfo do julgamento individual no seio de novas relações entre vivos e os mortos. A inserção durante muito tempo lenta e aleatória de um além intermediário entre o Inferno e o Paraíso, depois do seu desabrochar como elemento capital da nova sociedade e da nova ideologia que se colocam no limiar do mundo moderno ocidental por volta do século XIII, é um dos grandes episódios da história espiritual e social do Ocidente."

O autor questiona o fato de se atribuirem textos que falam do Purgatório a autores mortos antes de 1170, entre eles Pedro Damiani e São Bernardo, e estabelece que os escritos comumente tidos como destes autores são, na realidade, obra de um célebre falsário da época, Nicolau de Claraval. Maravilha porque, mais de meio século depois, mostra que nem tudo o que Langlois, Seignobos, Ferdinand Lot e sua geração fizeram foi — como disse Febvre, premido pela necessidade de combater e quebrar lanças — uma história de pequenas laçadas, de pequenos pontos, uma história de tapeçaria. Le Goff une a centralização do historicismo a uma formação marxista, cultua a minúcia, o detalhe e, simultaneamente, trabalha com grandes sínteses, debruça-se 'longamente sobre o discurso erudito, desbasta-o e mostra no que ficou a dever ao popular, mostrando também onde um e outro se imbricaram, se enlaçaram e produziram sistemas novos . Estudando o Purgatório, Le Goff privilegia um tema no qual a imaginação dos homens tem importância decisiva. Na Idade Média, o mundo imaginário era tão real quanto o mundo das coisas palpáveis e concretas . Muitos não compreenderam este aspecto importante do pensamento medieval: o Padre J. Wébert, comentador de São Tomás de Aquino, estranha a importância dada pelo santo às narrativas de mortos que voltam à terra para contar suas desventuras.

A mentalidade comum do século XIII e a literatura medieval das visões se achavam impregnadas de elementos fantásticos, sobrenaturais para nós mas não para um intelectual da época, mesmo aristocrático e elitista como São Tomás . Porisso é que La naissance du Purgatoire mostra, mais do que qualquer outro livro, o que seja uma história do imaginário, viva, dinâmica, indispensável: afinal de contas, diz Le Goff, "a razão se alimenta de imagens" (p . 486). O livro se inicia com uma introdução brilhante — "O terceiro lugar", denominação dada por Lutero ao Purgatório — e se desenrola em três partes: "Os Além antes do Purgatório", "O século XII: nascimento do Purgatório" e "O triunfo do Purgatório"; fechando, um capítulo conclusivo: "A razão do Purgatório". A preocupação básica do autor é detectar a construção gradativa mas nem sempre linear de um sistema — 187 — do Além que, binário com Santo Agostinho, vai aos poucos adquirindo feição tripartida, o esquema bem/mal, Céu/Inferno cedendo lugar à trindade Inferno/Purgatório/Paraíso, a categoria dos medianamente bons ou maus se insinuando, abrindo lugar entre os absolutamente puros que ganham o reino dos Céus e os absolutamente maus fadados a arder eternamente nas profundezas do Inferno.

Neste sistema do Além, o destaque é dado à constituição do Purgatório, elemento complexo que, sintomaticamente, surgiu por último, dependente das concepções mais acabadas de Céu e Inferno que integravam, desde a Antiguidade e sob múltiplas roupagens, as construções dualistas do universo após a morte. Não se pense entretanto que Le Goff privilegia o polo teológico da questão, escrevendo mais um livro árido e recheado de discussões dos doutores da Igreja.

O Purgatório é o objeto privilegiado de estudo, mas nas relações dinâmicas, intrincadas com o conjunto da formação social que a Idade Média engendrou brilhantemente a partir do século XII: portanto, visto como uma das peças do grande despertar da Europa, da notável eclosão da cristandade ocidental, do seu esforço reorganizatório. De imediato, surge uma diferença fundamental com relação ao enfoque teológico: este se atém ao Purgatório como estado — conforme sancionarão sucessivos concílios — e Le Goff se volta para o Purgatório lugar. Discorre sobre as várias, nem sempre consecutivas, concepções de um modo de se purgarem as penas — primeiro, gelo e fogo, verdadeira "ducha escocesa" probatória; depois, fogo apenas — mas sua maior preocupação é detectar a construção de um espaço específico, ocorrida em fins do século XII. Para ele, o melhor de todos os "teólogos" no enfoque do tema é Dante Alighieri, formulador definitivo da espacialização do Purgatório na imagem de uma montanha terrena, concêntrica, ascendente, voltada para o. Céu estrelado. Antes de se cristalizar na montanha da Divina Comédia, o Purgatório flutuou muito na geografia imaginária medieval. Esteve nos vulcões sicilianos, esteve na Irlanda, onde ganhou peso literário com o "Purgatório de São Patrício" — texto do monge cisterciense H . de Saltrey e que constitui a primeira referência literária ao tema — e se tornou, desde fins do século XII, um local de peregrinação: um buraco que daria acesso ao Purgatório, em Sation Island, no condado de Donegal. Essa imprecisão secular está diretamente ligada à sua complexidade: conceber algo como o Purgatório requeria novas concepções de espaço e tempo; relacionar Terra e Além implicava numa espacialização do pensamento que, lidando com estruturas matemáticas, deixasse de lado as antigas concepções dualistas e criasse esquemas lógicos ternários nos — 188 — quais a noção de intermediário passasse a ter papel fundamental. Foi assim que, entre guerreiros e sacerdotes, a nova concepção da sociedade de ordens introduziu os trabalhadores; entre o Céu e o Inferno, o sistema de Além se completou com o espaço Purgatório.

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