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PSICOLOGIA DA RELIGIÃO

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Por:   •  17/9/2013  •  Artigo  •  6.681 Palavras (27 Páginas)  •  412 Visualizações

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PSICOLOGIA DA RELIGIÃO

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Aline Rocha Bieites de Araújo

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As manifestações religiosas e simbólicas que cercavam Carl Gustav Jung, filho de um pastor protestante, sempre lhe chamaram a atenção. Foi através de uma observação cuidadosa e atenta da análise destas representações na mente humana que ele pôde reconhecer como conteúdos arquetípicos da alma as manifestações coletivas que embasam as mais diversas religiões.

Agnóstico pela metafísica e gnóstico pela experiência, Jung via a religiosidade como uma função natural e inerente à psique. Chegava a considerá-la, como aponta Silveira (1994), um instinto, um fenômeno genuíno. A religião era vista mais como uma atitude da mente do que qualquer credo, sendo este uma forma codificada da experiência religiosa original.

"Encaro a religião como uma atitude do espírito humano, atitude que de acordo com o emprego originário do termo: "religio", poderíamos qualificar a modo de uma consideração e observação cuidadosas de certos fatores dinâmicos concebidos como "potências": espíritos, demônios, deuses, leis, idéias, ideais, ou qualquer outra denominação dada pelo homem a tais fatores; dentro de seu mundo próprio a experiência ter-lhe-ia mostrado suficientemente poderosos, perigosos ou mesmo úteis, para merecerem respeitosa consideração, ou suficientemente grandes, belos e racionais, para serem piedosamente adorados e amados." (Jung, 1995, p.10)

O próprio Jung menciona a importância da religiosidade para o ser humano, ao afirmar (Jung apud. Silveira, 1994):

"Entre todos os meus doentes na segunda metade da vida, isto é, tendo mais de 35 anos, não houve um só cujo problema mais profundo não fosse constituído pela questão de sua atitude religiosa. Todos, em última instância, estavam doentes por ter perdido aquilo que uma religião viva sempre deu em todos os tempos a seus adeptos, e nenhum curou-se realmente sem recobrar a atitude religiosa que lhe fosse própria. Isto, é claro, não depende absolutamente de adesão a um credo particular ou de tornar-se membro de uma igreja." (pp. 153-154)

Jung considerava todas as religiões válidas, visto que todas recolhem e conservam imagens simbólicas advindas do inconsciente, elaborando-as em seus dogmas e, assim, realizando conexões com as estruturas básicas da vida psíquica. "As organizações ou sistemas são símbolos que capacitam o homem a estabelecer uma posição espiritual que se contrapõe à natureza instintiva original, uma atitude cultural em face da mera instintividade. Esta tem sido a função de todas as religiões." (Jung, 1997, p. 57)

Jung entendia o termo como religio e religare, ou seja, tornar a ligar. E via a religião exatamente com a função de ligar o consciente a fatores inconscientes importantes. Para Jung, a libido que constrói imagens religiosas, representa o laço que nos liga à nossa origem. Para designar a vivência do contato com tais fatores e a forte emoção descrita pelos que a vivenciam, Jung apropriou-se do termo criado por R. Otto: numinoso. Via, então, a religião como uma observação conscienciosa e acurada do "numinoso", ou seja, um efeito dinâmico ou existência que domina o ser humano; é independente de sua vontade.

"O termo "religião" nele se subdivide finalmente em duas acepções profundamente diferentes, sem por isso ser irreconciliáveis. De um lado, uma confissão que toma sua origem numa profissão de fé determinada(..) e, de outro lado, uma experiência ou uma série de experiências primordiais, nas quais o homem entra em relação com um sagrado que provoca nele o sentimento do numinoso. No primeiro caso a religião se apresenta como um sistema de representações fixas, um conjunto de símbolos nos quais as significações culturais se sobrepõem às correspondências psíquicas naturais e geralmente as oculta. Ela supõe o fenômeno da crença e o prolonga com um corpo de dogmas; sem impedir a possibilidade de uma relação direta entre o crente e seu deus, ela não a encoraja e se apresenta, por meio de seus ritos e suas liturgias, como mediadora necessária graças à qual o homem encontra o divino.

A segunda definição de religião, no sentido da experiência religiosa anterior a qualquer especificação confessional, com a própria aprovação de Jung, constitui um domínio eletivo para sua psicologia." (Tardan-Masquelier, 1994, pp.134-135)

Para o gnosticismo1, há uma divisão do indivíduo em corpo, alma e espírito, o que permite classificar os homens em hyléticos2, psíquicos e pneumatológicos3. Desta forma, Jung acreditava que a grande função da religião era evitar dissociações neuróticas da psique, o que se consegue através do autoconhecimento, do embate entre o Ego e o Self, entre a realidade física e a psíquica. Ele pontuava que a causa de inúmeras neuroses está principalmente no fato de as necessidades religiosas da alma não serem mais levadas a sério, "devido à paixão infantil do entendimento racional. (...) o que importa já não são os dogmas e credos, mas sim toda uma atitude religiosa, que tem uma função psíquica de incalculável alcance." (Jung, 1999, p. 44) Ou seja, é importante para o homem desenvolver uma atitude religiosa, independente do credo ou do dogma.

Devo ressaltar que Jung utilizava os termos "Deus" ou "divindades" no contexto simbólico, como explica: "Ambos se encontram como tais muito além do alcance humano. Revelam-se a nós como imagens psíquicas, isto é, como símbolos." (Jung, 2000, p. 296). E as pessoas realizam os ritos porque "No rito estão próximas de Deus; são até mesmo divinas." (Jung, 1998, p.273)

Visto que o termo símbolo pode ser assumido de diversas maneiras, abro aqui um espaço para definir a acepção que faço do mesmo. "O mecanismo psicológico que transforma a energia é o símbolo, (...) um meio inestimável que nos dá a possibilidade de utilizar o mero fluxo instintivo do processo energético para uma produção efetiva de trabalho" (Jung, 1997, pp. 44- 45).

O simbolismo é expressivo; é um modo de dizer algo impossível de ser dito diretamente. Como o que é simbolizado é, geralmente, um objeto de

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