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A Fonte Das Cabeças

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Por:   •  18/9/2013  •  2.001 Palavras (9 Páginas)  •  248 Visualizações

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A Fonte das “Cabeças”

Moacir da Silva Aragão

A natureza pode ser inexplicável, de repente não sei ao certo, se ela surgiu ou se alguém disse tê-la descoberto, o fato é que dentro de um Universo Natural encontra-se uma paragem que no seu cerne jorra um líquido da cor de sal e que serve para temporariamente acabar com a sensação causada pela necessidade de expurgação da secura na garganta.

Abençoado Distrito cognominado – Cabeças – que recebe da mãe natureza esta jóia rara; para alguns não é tão preciosa e para outros é a essência da própria vida. Batizaram-na de Fonte das Cabeças. Certamente os historiadores dirão que fora uma homenagem ao próprio Distrito, ou que foi o contrário, ou ainda, que há uma história de viajantes que perderam suas cabeças nas proximidades desta área, e desde então, assim ficara conhecida.

Lembro-me quando criança, por volta da década de 60, que minha mãe lavava nossas roupas, ganhava um dinheirinho executando o mesmo trabalho para terceiros e esta prática não era exclusividade dela, ela se estendia a muitos dos moradores desta região, além dos visitantes vindos dos mais longínquos municípios, e como eram deliciosas suas águas tanto na hora do banho, quanto para aliviar nossas sedes.

Contudo, quanta ironia! Uma geração que tanto se valeu daquele patrimônio e que hoje pode fazê-lo tornar-se mais rico, em função dos seus poderes, dos seus diversos outros compromissos, faz exatamente o contrário, fecha os olhos, finge não vê-la, prioriza tudo ao redor da sua vida, exceto a essência da própria vida.

E eu? O que tenho feito? Do alto do meu recanto, do nascer ao por do sol, nos raros momentos em que disponho de ocasião, apenas observo, critico aqueles que deveriam ao menos limpá-la, como se limpa um corpo humano, mas é claro, com atitudes e características apropriadas ao bem da própria fonte que ofuscar-se a cada segundo que passa.

Por falar em corpo humano, quando raramente faço uma visita àquela fonte, aproveito para compará-la a uma pessoa que está hospitalizada e respirando por aparelho. É exatamente o que sinto. Ainda bem que o homem não desligou o aparelho que a mantém respirando o ar da vida, que a tantas vidas fez respirar.

Consigo também nestes raros momentos, apreciar estudantes que, motivados pelos seus catedráticos, saem de suas salas de aula e fazem aquela mina acreditar que ainda existe e que até pode um dia, quem sabe, voltar a viver. Voltar a viver para a natureza, não é viver para si, é fazer-se vida para outros.

Sinto também alegria nela, quando jovens se reúnem entre meu recanto e suas terras, para disputar uma brincadeira conhecida no mundo todo como futebol. Nós sentimos nas gotas que ainda jorram por sua face esfacelada, um leque de felicidade, quando a bola cai o mais próximo daquela cacimba. Tenho a impressão, de ver no seu triste olhar, um olhar de despedida, não sei se dela para a criança ou se da criança para ela.

Dispo de tudo e desço para visitá-la, é pouco distante, o acesso não é dos melhores, principalmente pelo lado em que estou indo que passa pela quadra de terra, mais conhecida como “Areal”. Acabo de resvalar em um buraco, quase torço meu tornozelo esquerdo, a sandália, que era da cor daquela famosa pantera do desenho animado e de uma das personagens de um dos BBB, muda de cor, mas ao menos posso lavá-la em suas águas, se ela permitir.

- Bom dia Senhora Fonte! Não estou aqui para falar da sua estrutura corporal, para não causar nenhum tipo de emoção no meu leitor, mas quanto a mim, apareceu uma vontade muito forte de expelir urina, mas não farei em respeito à Senhora, mesmo que tenha que antecipar a minha volta para casa.

Mas até agora, a Senhora nada me disse, nem ao menos: um “seja bem-vindo!” apenas escuta, ou será que eu é que não consigo te ouvir? Pode ser também que você já tenha perdido sua voz. Sinceramente, prefiro acreditar na minha “necessidade especial” de saber ouvi-la.

- Está ouvindo dona Fonte!? Um pássaro que desconheço tanto o canto quanto o nome canta seguidamente nos teus ares. Será que é ele que ainda te mantém viva? Acredito mais que a presença dele aqui seja para alimentar a sua própria vida.

Neste momento tento enxergá-lo, procurei entre aquelas raras e pequenas árvores e vi, à distância, apenas o vôo e o fim do canto. Sua cor era meio parecida com a de folhas queimadas pelo sol e que não dispunha de suas irmãs ou primas, senhora Fonte, para receber novamente a cor da felicidade. A minha vontade, permita o termo, de urinar, está se ampliando, mas não despejarei aqui, mesmo que tenha de antecipar a minha volta.

Por curiosidade, são nove horas e dez minutos, o sol brilha e ouço músicas a uma boa distância, como se alguém aumentasse o volume e declinasse, parece que passa no alto de uma estrada levado por algo ou por alguém, mas neste exato instante escuto também outros cantos de pássaros, diferente daquele primeiro e como ele, subitamente também pararam de cantar. Neste momento, eu ando, contemplo o barulho das suas águas, como se quisessem me dizer algo e eu com minha “necessidade especial”, não consigo entender uma palavra sequer.

Apenas penso no número de árvores que já circundaram-na e que hoje foram substituídas por moradias, inclusive a minha.

Sem prever, do mais alto de minha possibilidade de alcance, vejo nuvens como se estivessem exalando um clarão com reflexos vistos nas mais calmas e tranquilas nuanças do mar.

Neste instante, volto a te observar e noto uma escada com alguns degraus, quase não a enxergo em função de matos que por ela sobe. Não sei se pelo meu desleixe, afinal poderia estar cuidando de você, com tantos pneus, águas da chuva ou da sua própria concessão, não exista uma proliferação de algum mosquito que prefiro não denominar, suplico às autoridades extraterrenas e à própria mãe natureza que te aplique um antídoto, para não ser contaminada por mais esta indisposição.

No meio do silêncio quase que total, em função de raros cantos e pingos de gotas d água, lembrei-me daquela criança, que esteve aqui em algum momento, para buscar sua bola e que precisou retornar para continuar o seu jogo. Você já deve ter percebido Senhora Fonte, que essas palavras vêem como uma espécie de ignição da minha partida. Sei o quanto é ruim a solidão, ou melhor, imagino o que seja! Pois solidão como a sua, só a Senhora pode dizer o que é pena que eu não consigo entendê-la, mas preciso ir. Não tome esta minha ida como um Adeus e sim como um até logo!

Até

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