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Por:   •  4/10/2013  •  8.524 Palavras (35 Páginas)  •  780 Visualizações

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Wa 1 - Cursos Livres - Deficiência Múltipla

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Unidade 1 – Surdocegueira

Pensar em um indivíduo com privações visuais e auditivas – surdocegos – é realmente um tema desafiador. Esta deficiência, ainda pouco conhecida e aparentemente difícil de compreender, nos remete à imagem de um mundo tomado pelo silêncio e pela escuridão; um mundo ignorado, onde o indivíduo surdocego apresenta restrições nos principais órgãos sensoriais: a audição e a visão. Sentidos sensoriais não são únicos, porém reinam soberanos na hierarquia entre os outros sentidos. A carência é tal, que imaginamos que o indivíduo surdocego está encarcerado a sua condição, sendo impossível executar qualquer forma de comunicação e conexão com o mundo.

Encontramo-nos frente a um grande desafio, que nos remete a uma discussão. Será possível atender apropriadamente alunos que apresentam a surdocegueira congênita ou adquirida, de acordo com sistemas de comunicação que funcionam de fato e estratégias de ensino que preencham suas necessidades?

SURDOCEGUEIRA COMO DEFICIÊNCIA ÚNICA

As pesquisas e a definição sobre a surdocegueira ainda é recente. A surdocegueira teve muitas definições na história, tais como dupla deficiência sensorial, múltipla privação sensorial (MPS), deficiência audiovisual (DAV), deficiência auditiva e deficiência visual (DA/DV), surdez-cegueira e, atualmente, a surdocegueira (SC) (CADER-NASCIMENTO et al, 2007, p. 16).

O Grupo Brasil de Apoio ao Surdocego e ao Múltiplo Deficiente Sensorial, sobre um aspecto otimista e dando crédito nas possibilidades e potencialidades do indivíduo surdocego, define a surdocegueira como:

[…] uma deficiência singular que apresenta perdas auditivas e visuais concomitantemente em diferentes graus. Levando a pessoa surdocega a desenvolver diferentes formas de comunicação para entender e interagir com as pessoas e o meio ambiente, proporcionando-lhes o acesso a informações, uma vida social com qualidade, orientação, mobilidade, educação e trabalho. (GRUPO BRASIL, 2006).1

Para compreender o significado da surdocegueira, é necessário entender as consequências da combinação das duas principais deficiências sensoriais (surdez e cegueira) no desenvolvimento humano e do resultado único que pode proporcionar em cada indivíduo surdocego:

[...] crianças e jovens que apresentam deficiências auditivas e visuais, cuja combinação cria necessidades tão severas de comunicação, desenvolvimento e de aprendizado e outros que elas não conseguem ser devidamente educadas sem o concurso de uma educação especial e de serviços a elas relacionados, além daqueles que seriam fornecidos para crianças somente com deficiências auditivas, deficiências visuais, ou incapacidades graves, para avaliar suas necessidades educacionais devidas a essas deficiências concomitantes (AMARAL, 2002, p. 122, 123).

A definição adotada pela 1ª Conferência Mundial Hellen Keller define assim os indivíduos surdocegos:

Surdocegos são os indivíduos que têm uma perda substancial de audição e visão, de tal modo que a combinação das suas deficiências causa extrema dificuldade na conquista de habilidades educacionais, vocacionais, de lazer e sociais. (KINNEY, 1977, p. 21 apud GARCIA 2008).

Garcia (2008, p. 29) acredita que, após esta definição, podemos identificar o quão significativo se propõem “combinações” neste tópico:

Uma pessoa com perda substancial de visão pode, ainda assim, escutar e ouvir. Outra pessoa com substancial perda de audição pode, ainda assim, ver e observar. Mas uma pessoa com perdas substanciais em ambos os sentidos, experimenta uma gama de privacidade que pode causar extremas dificuldades.

O departamento de Educação Especial Americano definiu surdocegueira em 1969 como:

[...] Deficiência auditiva e visual, cuja combinação causa problemas tão graves de comunicação e outros problemas de desenvolvimento da educação, que não pode ser adequadamente acomodada nos programas de educação especial somente para crianças surdas ou para criança deficiente visual. (DANTONA, 1976, p. 172 apud CADER-NASCIMENTO et al, 2007).

A surdocegueira atualmente, após muitas pesquisas, é ponderada como única deficiência, e não mais como a somatória das deficiências (surdez e cegueira), visto que os obstáculos encontrados pelo indivíduo surdocego, no circuito emocional, social e educacional são muito maiores do que as dificuldades que pensamos, somando-se as deficiências como a surdez + cegueira, na verdade seria como se propagássemos as dificuldades encontradas por este indivíduo. Segundo Cader-Nascimento et al. (2007), a surdocegueira é uma combinação de deficiência visual e auditiva, reconhecida como uma única condição incapacitadora, limitante. Por isso, podemos referir que o indivíduo surdocego apresenta dificuldades e necessidades únicas, tais como: educacionais, sociais, emocionais, comunicativas e em sua orientação e mobilidade.

Perante as particularidades apresentadas por esta população, tais como complexidade em sua percepção, aprendizado, grande obstáculo em interagir com o mundo e principalmente em sua comunicação, Smithdas afirma:

O mundo literalmente se encolhe; é somente do tamanho que a pessoa pode alcançar com as pontas dos dedos ou usando seus sentidos de visão e audição severamente limitados, e é somente quando aprende a usar seus sentidos secundários como olfato, tato e consciência sinestésica que a pessoa pode aumentar seu campo de informações e ganhar conhecimento adicional. (SMITHDAS, 1981, p. 38 apud AMARAL; 2002, p. 123).

Com a procura pelo reconhecimento da surdocegueira como única deficiência, uma das conquistas foi a mudança da nomenclatura, ou seja, deixar de ser um termo hifenizado, sendo esta uma das conquistas de Salvatore Lagati. Em 1991, Salvatore Lagati do Serviço de Consultoria pedagógica em Trento, Itália, começou uma cruzada para conseguir a aceitação da palavra única “Surdocego” no lugar da palavra hifenizada “Surdo-Cego”. Sua crença era que a “surdocegueira é uma condição que apresenta outras dificuldades além daquelas causadas pela cegueira e pela surdez”. (LAGATI, 1993 p. 249 apud AHIMSA; HILTON PERKINS, 2005, p. 1).

O termo hifenizado indica uma condição que somaria as dificuldades da surdez e da cegueira. A palavra sem hífen indicaria uma diferença, uma condição única e o impacto da perda dupla é multiplicativo e não aditivo.

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