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Princípios Saussurianos De Linguística Geral

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Por:   •  5/11/2014  •  2.091 Palavras (9 Páginas)  •  974 Visualizações

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Introdução

A linguística estruturalista tem como pai reconhecido o linguista suíço Ferdinand Saussure e seus estudos e reflexões teóricas propostas no famoso Cours de linguistique générale, publicado em 1916. No entanto, esta é uma obra póstuma de Saussure. As circunstâncias de sua publicação são singulares: o livro não foi escrito por Saussure, mas por alguns de seus alunos da Universidade de Genebra, que usaram suas notas de aula durante os anos de 1907 a 1911. Por isso, o livro é criticado por não expressar o “verdadeiro” pensamento do mestre.

Ainda assim, o livro serviu como base teórica para os estudos sincrônicos praticados intensamente no século XX, em contraste com os estudos históricos anteriores. O projeto de Saussure consistia de cortes nos estudos linguísticos para que se tratasse da uma ciência autônoma exclusivamente da linguagem, esta considerada em si mesma e por si mesma. Assim, algumas considerações foram necessárias:

- a língua deve ser tratada como forma, livre de substâncias;

- a forma consiste de um jogo sistêmico de relações de oposição;

- as línguas humanas são totalidades organizadas;

- a língua é estudada em si mesma, e por si mesma;

- a língua é concebida como uma totalidade organizada, em que o elemento só faz sentido no conjunto;

- a língua é um sistema autônomo de signos.

Vejamos a seguir alguns desdobramentos dessas considerações.

1. Língua e Fala

Para entendermos as propostas de Saussure, trilharemos seus caminhos metafóricos sobre experiências de um jogo de xadrez como processo interativo das pessoas. Saussure utiliza essa metáfora para contrapor duas dimensões: uma se relaciona aos inúmeros desenvolvimentos que se podem prever a partir da “regra do jogo”; outra se relaciona a um conjunto sempre limitado de jogadas que efetivamente se realizam quando o jogo de fato acontece.

Para Saussure, interessa a primeira dimensão: a idéia de que no jogo de xadrez são possíveis certas jogadas, e outras não. Por exemplo, a torre pode atacar qualquer peça adversária, mas tem que fazê-lo deslocando-se no sentido perpendicular aos lados do tabuleiro. Aproximando a metáfora do jogo ao estudo da linguagem, valoriza-se o que não se observa, ou seja, a “regra do jogo”, encarada como o que é possível de se realizar, ou uma condição de comunicação. Por esse caminho metafórico, podemos chegar à distinção mais fundamental de Saussure: a que se estabelece entre “língua” (langue) e “fala” (parole), ou seja, entre o sistema e os possíveis usos do sistema linguístico.

O que podemos entender a partir disso é que Saussure opôs o sistema linguístico (língua) aos episódios comunicativos historicamente realizados (fala) e elegeu o sistema lingüístico (língua) como o legítimo objeto de estudos da pesquisa linguística. Ou seja, Saussure define a Linguística como a ciência que estuda o sistema, as “regras do jogo”, em oposição aos atos linguísticos, ou as mensagens as quais o sistema serve de suporte.

Outra consideração importante de Saussure nos estudos da linguagem é a distinção entre língua e fala, em que a dimensão da língua é social, enquanto a dimensão da fala é individual. Para, Saussure os indivíduos utilizam a linguagem sempre de uma maneira pessoal, mas sua ação verbal (fala) só tem efeito se o sistema do qual faz uso (língua) é compartilhado com outros membros da sua comunidade linguística:

Se pudéssemos abarcar a totalidade das imagens verbais armazenadas em todos os indivíduos, atingiríamos o liame social que constitui a língua. Trata-se de um tesouro depositado pela prática da fala em todos os indivíduos pertencentes à mesma comunidade, um sistema gramatical que existe virtualmente em cada cérebro ou, mais exatamente, nos cérebros dum conjunto de indivíduos, pois a língua não está completa em nenhum, e só na massa ela existe de modo completo. Com o separar a língua da fala, separa-se ao mesmo tempo: o que é social do que é individual; o que é essencial do que é acessório e mais ou menos acidental.

A língua não constitui, pois, uma função do falante: (i) é o produto que o indivíduo registra passivamente; (ii) não supõe jamais premeditação, e a reflexão nela intervém somente para a atividade de classificação, da qual trataremos (...) a fala é, ao contrário, um ato individual de vontade e inteligência, no qual convém distinguir: (i) as combinações pelas quais o falante realiza o código da língua no propósito de exprimir seu pensamento pessoal; (ii) o mecanismo psico-físico que lhe permite exteriorizar essas combinações. (Saussure, 1995, p. 21-22)

Assim, Saussure conceitua a língua e determina sua identidade, como meio de comunicação e expressão, como uma espécie de instituição social, que é coletiva e supra-individual. Ou seja, a língua é algo criado pela sociedade e, de certa forma, imposta aos indivíduos. Por fim, o linguista é incisivo ao dizer que para solucionar essa dicotomia língua x fala nos estudos da linguagem, devemos nos colocar primeiramente no terreno da língua e tomá-la como norma de todas as outras manifestações da linguagem.

2. Forma e Substância

Retomando a metáfora do jogo de xadrez, podemos dizer que é possível substituir uma das peças perdidas (uma torre perdida, por exemplo) por um objeto qualquer, como um botão ou uma pedra, desde que fique estabelecido entre os jogadores que a peça improvisada representa a que foi perdida. Isso significa que, além das regras do jogo, a matéria de que são feitas as peças, assim como a sua aparência externa, importam menos do que o “valor” que lhe é atribuído pelos jogadores, e isso se da de maneira convencionada: convenciona-se, tomando o mesmo exemplo, que uma pedra terá o “valor” da torre perdida, desde que não haja outro elemento no jogo que seja igual a esta pedra e que mereça outro “valor”:

O famoso exemplo do jogo do xadrez mostra perfeitamente o que significa: as peças de um jogo se definem unicamente pelas funções que, segundo as regras do jogo, lhe são conferidas. Suas propriedades puramente físicas são acidentais. A forma exterior do cavalo, da torre, suas cores e dimensões, sua matéria, podem variar ao extremo. Uma peça pode ser substituída por qualquer objeto, sem que perca a sua identidade, enquanto o objeto é utilizado conforme as regras do jogo. A única coisa exigida

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