Tecendo A Manha

Tecendo a Manhã

João Cabral de Melo Neto

"Um galo sozinho não tece a manhã:

ele precisará sempre de outros galos.

De um que apanhe esse grito que ele

e o lance a outro: de um outro galo

que apanhe o grito que um galo antes

e o lance a outro; e de outros galos

que com muitos outros galos se cruzam

os fios de sol de seus gritos de galo

para que a manhã, desde uma tela tênue,

se vá tecendo, entre todos os galos.

E se encorpando em tela, entre todos,

se erguendo tenda, onde entrem todos, no toldo

(a manhã) que plana livre de armação.

A manhã, toldo de um tecido tão aéreo

que, tecido, se eleva por si: luz balão".

*Tecer: v. tr. 1. Fazer obra de tear. 2. Diz-se do trabalho da aranha. 3. Fiar. 4. [Figurado] Entrelaçar. 5. Compor enredando. 6. Coordenar, compor (o que exige trabalho e atenção). 7. Tramar, armar, inventar. 8. Ornar, enfeitar.

• POR TRÁS DA POESIA - Interpretação

Justifique o título do texto.

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“Tecendo a manhã” evoca artesanato, solidariedade e diálogo. Por quê?

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Além disso, nós humanos, temos uma necessidade vital, especial, fundamental, que é de nos fazer ser quem somos. A necessidade é ser acreditado, ouvido e visto por outro alguém, um alguém que nos faça sentir e acreditar que realmente existimos, por ser apenas quem somos. Aí nasce o nosso despertar para ser e a fé em nós mesmos e no mundo que interage conosco.

Galos que não são ouvidos, sentidos, vistos e acreditados adoecem enquanto essência vital, sem se apropriar de seu poder de "acordar" para vida e tecer sua própria manhã. Galos ignorados deixam de cantar e morrem para aquilo que nasceram. Sem isso o ser humano "morre", sem ser sua essência.

Que, juntos, possamos tecer muitas belas manhãs acessando novos modos de ver o mundo, confrontando e fundamentando pontos de vista, ou seja, exercitando a expressão do pensamento por meio da Língua