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Como realizar exercícios lógicos

Tese: Como realizar exercícios lógicos. Pesquise 860.000+ trabalhos acadêmicos

Por:   •  7/8/2014  •  Tese  •  1.912 Palavras (8 Páginas)  •  116 Visualizações

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Como fazer exercícios de lógica

Desidério Murcho

King's College London

“O professor bem sucedido já não é uma eminência que bombeia conhecimento à pressão em receptáculos passivos. [...] É um estudante mais velho, ansioso por ajudar os seus colegas mais novos.”

William Osler

O ensino da filosofia exige exercícios constantes. No ensino do piano não nos podemos limitar a falar sobre as diferentes maneiras de tocar piano e de interpretar peças clássicas — é preciso tocar realmente piano. No caso da filosofia, é necessário responder a perguntas, escrever pequenos ensaios (de uma ou mais páginas) e debater oralmente os problemas, teorias e argumentos da filosofia.

Esta regra geral do ensino aplica-se ainda mais vivamente ao ensino da lógica; sem exercícios, não se pode aprender lógica. Saber lógica formal é saber fazer derivações e inspectores de circunstâncias; saber lógica informal é saber formalizar, avaliar e construir todo o tipo de argumentos.

O modo como se faz perguntas, nos testes e oralmente, é crucial — e tanto pode revelar um ensino dogmático como um ensino criativo. Compare-se as seguintes duas perguntas:

1. O que é a validade?

2. Será que um argumento válido pode ter uma conclusão falsa? Justifique.

Os estudantes estão muito habituados a perguntas como 1. Neste tipo de perguntas o estudante limita-se a repetir a definição que decorou na véspera — sem compreender o que decorou, sem saber para que serve nem qual é a importância da definição, e sem que tenha a capacidade para a aplicar, pensar nela e com ela, torná-la real. É evidente que isto é ensino de má qualidade; é o que chamo “formalismo”: a capacidade para repetir uma linguagem especializada sem a compreender. Este problema afecta o ensino secundário e universitário.

A pergunta 2 é completamente diferente; os estudantes ficam perplexos com este tipo de perguntas, pois não estão habituados a pensar. A pergunta 2 exige que o estudante domine a definição e saiba usá-la. Terá de pensar por si. Compare-se com a seguinte pergunta:

3. Será impossível, num argumento válido, que as premissas desse argumento sejam verdadeiras e a conclusão falsa? Justifique.

Num contexto em que o professor não explicou a diferença entre a validade dedutiva e a não-dedutiva — ou em que a explicou de passagem há três meses e dedicou as restantes aulas unicamente à validade dedutiva — esta pergunta é o que se chama uma “rasteira”. Muitos estudantes irão pensar que é impossível que as premissas de um argumento válido sejam verdadeiras e a sua conclusão falsa, porque estarão unicamente a pensar no que foi leccionado — argumentos dedutivos. Este tipo de pergunta não avalia a inteligência nem o talento do estudante, nem o seu domínio da noção de validade; avalia apenas a sua “esperteza saloia”: a capacidade esquizofrénica para pensar que as pessoas estão sempre a tentar enganar-nos.

As perguntas de tipo 3 resultam da tentativa de se fazer perguntas de tipo 2 — ou, o que é mais sinistro, resultam da tentativa de enganar os estudantes. A diferença entre as perguntas de tipo 2 e as perguntas de tipo 3 não podia ser maior. É evidente que se tem de abandonar a prática de fazer perguntas de tipo 3. Para fazer o estudante pensar devemos dar-lhe todos os elementos que ele precisa para pensar. Não se pode encarar as perguntas para o estudante pensar como “quebra-cabeças” que se apresentam à mesa do café e que vivem do facto de se ocultar informação relevante, ou de se chamar propositadamente a atenção para os aspectos que não são relevantes para resolver o problema.

Um aspecto relacionado com a estratégia da pergunta 3 é a seguinte prática: pede-se ao estudante para fazer um trabalho sobre um dado tema — e deixa-se o estudante entregue a si próprio. Tanto no ensino secundário como no universitário esta prática é desaconselhável, por duas razões. Em primeiro lugar, porque um dos papéis fundamentais do professor é precisamente o de dar a conhecer ao estudante a bibliografia relevante(1) e de qualidade. Se tudo o que o professor faz é prescrever temas de trabalhos, ficando o estudante com a tarefa de descobrir o que ler e onde, não é preciso professor para nada. O professor tem de orientar o estudo; tem de indicar a bibliografia relevante. Em segundo lugar, porque sem orientação o estudante irá perder imenso tempo e energia só para procurar bibliografia, não havendo qualquer garantia de descobrir bibliografia de qualidade, dado que não dispõe da experiência nem do conhecimento para saber se a bibliografia que descobriu é boa.

A ideia de fazer o estudante ir à biblioteca descobrir livros é boa, mas a maneira de o fazer é dar-lhe bons pontos de partida. Se ele tiver bons pontos de partida, bons livros por onde começar, indicados pelo professor, verá que esses livros falam de outros e o estudante mais curioso e talentoso irá querer ler também alguns desses outros. Mas isto é muito diferente de se mandar um estudante sem saber coisa alguma sobre lógica para uma biblioteca, à procura de um livro sobre o tema. Dado que a maior parte dos livros que temos nas nossas bibliotecas e livrarias são maus ou desadequados para estudantes, é quase certo que o estudante irá desperdiçar o seu tempo e energia a estudar livros que o vão enganar ou deformar intelectualmente.

A pergunta 2, acima, pode ser feita de uma forma ainda mais desconcertante para o estudante que está habituado ao ensino formalista: anexando à pergunta a definição correcta de validade. O estudante que está à espera de repetir no teste as definições que decorou em casa compreende logo que não é isso que se pretende, já que o que ele decorou está no próprio teste.

Assim, uma das estratégias para fazer o estudante pensar é dar-lhe todos os dados, e fazer-lhe perguntas que o obriguem a pensar nas noções estudadas. Outra estratégia é confrontar o estudante com a necessidade de defender ideias. Vejamos as seguintes duas perguntas:

1. Explique por que razão a validade formal é irrelevante para a filosofia.

2. “Precisamente por ser meramente formal, a validade formal é completamente irrelevante para a filosofia.” Concorda? Porquê?

É fácil ver que a pergunta 1 está a pedir ao estudante que dê voz às ideias preferidas do professor acerca

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