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Por:   •  29/5/2014  •  2.012 Palavras (9 Páginas)  •  272 Visualizações

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DOIS SENTIDOS CONSTITUTIVOS DA AULA:

CONHECIMENTO CIENTÍFICO E SENSO COMUM

Nilsa Ribeiro1

UFPA-Campus Marabá

RESUMO

O estudo aqui desenvolvido parte do pressuposto de que o discurso de sala de aula se constrói no

entrecruzamento de muitas vozes, destacando-se entre elas a voz da ciência e a voz pedagógica. No processo

de transmissão/construção do conhecimento, sentidos da voz científica e da voz pedagógica se entrecruzam

de tal modo que não é possível fazer uma distinção nítida entre elas, uma vez que uma é condição para a

existência da outra, na constituição do próprio fazer pedagógico.

PALAVRAS-CHAVE: discurso; conhecimento científico; senso comum.

ABSTRACT

The considered study starts on the hypothesis that the speech inthe classroom is built with the cross of many

voices, being distinguished among them the voice of the science and the pedagogical voice. In the process of

transmition/construction of the knowledge, felt on the scientific voice and the pedagogical voice if they

intercross in such way that it is not possible to make a clear distinction between them, a time that one is the

condition to the existence of the other.

KEY-WORDS: speech; scientific knowledge; common knowledge.

1. Introdução

Este texto apresenta parte de uma reflexão mais ampla que toma como objeto de análise o

funcionamento da aula universitária, enfatizando o jogo de vozes presente no trabalho discursivo de

constituição do objeto de ensino/aprendizagem. Nossa reflexão se orienta pela seguinte pergunta:

“em face de um cenário histórico que endereça novas exigências à universidade, principalmente em

relação à formação, como se constrói a identidade do professor universitário, nesse contexto?”

(RIBEIRO, 2005). A partir desta questão, a nossa preocupação se volta para sentidos produzidos no

discurso de sala de aula2, enfatizando, particularmente, significações construídas na articulação de

1 Doutora em Lingüística pela UNICAMP.

2 Quando falamos em discurso pedagógico e discurso de sala de aula, estamos adotando a distinção feita por Ehlich

(1989) entre discurso ensino-aprendizagem e discurso-aprendizagem de sala de aula. Segundo o autor, uma primeira

diferença existente entre discurso ensino-aprendizagem e discurso de sala de aula é a assimetria previamente

estabelecida entre quem sabe (o professor) e quem deseja aprender (o aluno), ou seja, no discurso de sala de aula,

diferentemente de qualquer outro discurso de ensino-aprendizagem, o professor recebe uma formação pedagógica que

lhe assegura de antemão autoridade para intervir em direção ao nivelamento das diferenças de conhecimento, o que

contraria a “natureza voluntária” de qualquer outro discurso ensino-aprendizagem que não tem de antemão o propósito

de ensinar. Outra diferença assinalada pelo autor é o fato de, no discurso de sala de aula, pressupor-se, de um lado, um

grupo de alunos supostamente com as mesmas necessidades de aprendizagem e de outro, o professor encarregado da

transmissão do conhecimento (Ehlich, op. cit., p. 151). Nesse sentido, o discurso de sala de aula se distancia do discurso

de ensino-aprendizagem pelo fato de neste último o conhecimento resultar de uma necessidade do aprendiz, ao passo

que no discurso de sala de aula, o conhecimento se impõe por uma necessidade criada pela escola, pela sociedade.

2

sentidos do senso comum com sentidos do conhecimento científico a que o/a professor /a recorre

durante a aula. Estamos admitindo que estes dois sentidos são constitutivos do trabalho de

transformação do conhecimento científico em objeto de ensino/aprendizagem. Tal percepção nos

leva a dizer que a articulação destes dois discursos decorre de um conjunto de imagens que o

professor tem do seu papel no espaço do seu trabalho. Estas próprias imagens orientam

determinadas formas de encaminhamento do processo de ensino-aprendizagem, e nelas também vão

sendo configuradas discursivamente as relações interacionais construídas com o aluno e com o

próprio conteúdo que se pretende ensinar. É, portanto, no discurso que se constroem representações

e, por estas, a identidade dos sujeitos da interação (professores e alunos) é construída e reconstruída.

Desta perspectiva, não é possível considerar a “aula”, assim como qualquer outro gênero

discursivo, a partir de configurações fixas, pré-estabelecidas, acima das representações dos sujeitos

e dos processos de interação verbal, pois embora haja posições socialmente estabelecidas, é na

interação social que estas posições produzem sentidos ou até mesmo deslocam sentidos

historicamente produzidos. Com isso, queremos dizer que embora a aula seja determinada por

condições sócio-históricas e ideológicas – da mesma forma que qualquer outra prática sóciodiscursiva

-, nas atividades singulares e situadas há sempre possibilidades de rupturas

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