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Corpo, Escola E Sociedade

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Por:   •  27/5/2014  •  2.101 Palavras (9 Páginas)  •  989 Visualizações

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Corpo, Escola e Sociedade

Existem filmes que dão a imagem de maneira acelerada do crescimento de

uma planta, da formação de uma montanha, do curso de um rio, do desabrochar de uma flor ou do crescimento de um animal. Num curto espaço de tempo fica-se com a imagem dos pontos percorridos no trajeto. Suponha agora que podia representar da mesma maneira a Educação Física de uma criança (do nascimento até à idade adulta) e sendo você o realizador do filme, que tipo de cenas escolheria para explicar o processo de construção do corpo? Um processo análogo a formação de um mineral?

Será que optaria por uma abordagem mais zoológica? Ou antes pelo o rigor

matemático dos engenheiros que colocam na construção das pontes? À falta das imagens convidamo-lo a ler o texto e a imaginar o nosso filme. Marcel Mauss, entre outros, demonstrou a interdependência dos domínios

físico, psíquico e social. Em seu entender, o “bom uso” do corpo está relacionado com o “mapeamento sociocultural” relativo ao tempo e ao espaço.

Como diz na sua obra (1974:211) sobre as técnicas do corpo, este é a matéria-prima que a cultura molda as diferenças sociais. Quer dizer que ser corpo é emergir da condição/estado natural.

O homem ao ter optado pela associação como forma de dar resposta

satisfatória aos problemas e salvaguardar a sua vida, resultou daí que as consciências individuais pela ação e retroação de umas com as outras, deram origem ao nascimento de uma realidade que é a sociedade com a sua maneira de pensar, de agir e de sentir, diferente da que é característica dos indivíduos que a compõem (Durkheim, s.d.: 164). Contrariamente ao que à primeira possa parecer, entre indivíduo e sociedade não existe uma barreira que separe as duas realidades. Para ascendermos ao estatuto de pessoa inevitavelmente temos que “aderir” a ela. É na sociedade que nós formamos as nossas ideias, é a partir daí que nós criamos o nosso organismo mental. Cada sociedade tem o seu padrão cultural. A educação, embora seja e produza cultura, é também um conjunto de meios que uma sociedade põe em prática de forma a assegurar simultaneamente os seus conhecimentos e a sua própria sobrevivência. Mas, como já o dissemos, a cultura não é estática porque é recriada por cada um de nós. Ou seja o homem não é só interprete mas também criador de cultura.

O corpo é uma construção da natureza em cultura. Enquanto produto

social tem necessariamente que ser situado no tempo e no espaço, pois estes

condicionam a percepção que se tem acerca dele. É na sociedade que nós buscamos as nossas ideias, é a partir daí que nós criamos o nosso organismo mental . Isto é deveras importante porque a atitude que se tem perante o corpo afeta inevitavelmente a Educação Física. Vejamos então os aspectos condicionantes do problema da elaboração social do corpo, vulgarmente designado por educação, e neste caso particular de Educação Física. Mas, a este respeito queremos esclarecer que a instituição educativa não é apenas o

estabelecimento escolar.

Para os poucos que frequentavam a escola, a influência recebida é

dominada pela escolástica - a união das crenças religiosas com a lógica aristotélica. A escola, ao contrário do que à primeira vista possa parecer não tem uma atitude de indiferença perante o corpo. Não é toda via coincidente com o ideal contido na pedagogia das atividades físicas. É o ideal passivo que se exerce permanentemente em todo o trabalho escolar, controlando o corpo em seus gestos e comportamentos. A escola encerra, no dizer de Michel Foucault, um tipo específico de poder - o poder disciplinar. Este poder atua sobre o adestramento do corpo. Por paradoxal que pareça, o que parece ser uma rejeição, é pelo contrário uma técnica muito eficaz. É no passar despercebido que reside de fato a sua grande eficácia.

Desde o início da década de 1980 o tema da gestão da escola e sua autonomia vem ganhando destaque merecido nos debates políticos e pedagógicos sobre a escola pública. No quadro da luta pela construção de uma sociedade democrática, uma das grandes vitórias das escolas no campo político-educativo foi a conquista da liberdade de ação e de decisão em relação aos órgãos superiores da administração e a maior participação da comunidade escolar nos espaços de poder da escola, por meio de instâncias como os conselhos de escola.

No decorrer da década de 1980 aprofundou-se o processo de democratização política da sociedade brasileira e aumentou a pressão para que o diretor revelasse sua face de educador, chegando-se a questionar a direção da escola por um só indivíduo. Ao longo desse processo, foi ganhando força a proposta de direção colegiada, formada por representantes de todos os membros envolvidos no processo educativo (Warde 1992).

Mas o processo de reconstrução democrática não foi o único nem o primeiro momento em que o tema da gestão da escola foi ponto relevante no debate político-educacional. Em décadas anteriores, durante a ditadura militar, quando a escola pública era dominada, em quase todos os estados e municípios, por estruturas administrativas centralizadas e burocratizadas, ganhou força a reivindicação dos educadores pela autonomia escolar vinculada à necessidade de experimentar alternativas pedagógicas - curriculares e didáticas - que diminuíssem os altos índices de evasão e repetência na escola primária e a deterioração da qualidade da escola pública em geral, sujeita a rituais, arcaísmos e burocratismos das medidas administrativas. Nas décadas de 1950 e 1960, ganhou espaço a ideia da autonomia escolar e da liberdade dos educadores para rebater a dominância de ações administrativas e intervenções políticas com projetos alheios à realidade escolar.

Os argumentos que defendiam a necessidade de uma gestão escolar autônoma como condição para melhorar a qualidade do ensino supunham, segundo estudos realizados por Warde, a unidade escolar como o locus dessa melhoria: "é a unidade escolar que comporta as possibilidades de aperfeiçoamento qualitativo do ensino, porque é nela que podem ser realizadas experiências pedagógicas alternativas" (Warde 1992).

Interrompidas essas iniciativas na década de 1970, os sistemas de ensino viveram o apogeu do processo de centralização administrativa, apesar de protegidos pela Lei no 5.692/71, que propugnava a autonomia da escola e a descentralização administrativa no âmbito da

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